A educação financeira nas escolas tem um impacto profundo, não apenas na vida dos estudantes, mas também na de suas famílias. Um estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) destacou que jovens expostos a conceitos financeiros básicos ajudam suas famílias a economizar mais e a gerenciar melhor seus recursos.
O Brasil, onde a educação financeira ainda é tímida no currículo escolar, começa a dar passos significativos para mudar essa realidade. Desde 2020, o tema foi incluído na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas a implementação ainda enfrenta desafios.
O que a pesquisa revelou?
A OECD analisou 15 países, incluindo o Brasil, para avaliar o impacto da educação financeira entre jovens de 15 a 18 anos. Alguns resultados chamaram atenção:
- 63% dos estudantes que aprendem educação financeira ajudam os pais a organizar o orçamento.
- 49% conseguem identificar gastos desnecessários e propor cortes.
- 35% já se envolvem em decisões como economizar para metas familiares, como viagens ou compra de bens.
Esses dados revelam que o aprendizado em sala de aula vai muito além do ambiente escolar, criando uma cadeia de impacto positivo na gestão familiar.
Como funciona a educação financeira na prática?
Nos países que lideram os rankings de educação financeira, como Finlândia e Canadá, os estudantes aprendem desde cedo a importância de conceitos básicos, como:
- Orçamento pessoal e familiar: saber quanto entra e quanto sai.
- Poupança: entender os benefícios de guardar dinheiro e criar reservas para emergências.
- Investimentos: introdução a temas como juros compostos e diferentes tipos de aplicações financeiras.
No Brasil, iniciativas locais têm mostrado resultados promissores. Em São Paulo, o programa Educação Financeira na Escola já atendeu mais de 200 mil alunos, que aprendem a importância de administrar mesadas e planejar pequenos projetos financeiros.
O impacto nas famílias brasileiras
Um exemplo prático vem de Bianca Souza, mãe de Lucas, de 16 anos, aluno de uma escola pública em Curitiba. “Antes, a gente gastava sem nem saber no que. Agora, ele ajuda a organizar o orçamento. Graças às dicas dele, conseguimos economizar para uma viagem que sempre adiávamos,” conta Bianca.
Especialistas explicam que o conhecimento adquirido pelos jovens muitas vezes corrige hábitos antigos dos pais. “Os jovens trazem frescor e novas perspectivas para as famílias. Eles enxergam oportunidades onde os adultos veem rotina,” explica o educador financeiro André Carvalho.
Por que o Brasil ainda enfrenta desafios?
Embora iniciativas como a BNCC sejam um marco importante, ainda há muitos obstáculos para a consolidação da educação financeira nas escolas brasileiras:
- Falta de formação para professores: muitos educadores não se sentem preparados para ensinar o tema.
- Recursos limitados: escolas públicas, especialmente em regiões mais pobres, não possuem materiais didáticos apropriados.
- Cultura de consumo: a sociedade brasileira ainda valoriza mais o consumo do que o planejamento, o que dificulta a mudança de mentalidade.
Soluções e perspectivas
Para especialistas, integrar a educação financeira com outras disciplinas pode ser uma solução. Por exemplo, matemática pode ensinar juros compostos, enquanto história pode abordar a evolução da economia no Brasil e no mundo.
Além disso, programas de formação para professores e parcerias com empresas e instituições financeiras podem acelerar o processo de implementação. Bancos como o Santander e a Caixa já investem em iniciativas de educação financeira nas comunidades, mas é necessário expandir o alcance.
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Educação financeira para um futuro mais estável
A inclusão da educação financeira nas escolas não é apenas uma questão de preparar os jovens para o mercado de trabalho ou a vida adulta. Trata-se de transformar a relação de toda uma sociedade com o dinheiro, promovendo hábitos mais saudáveis e sustentáveis.
No Brasil, onde quase 70% das famílias têm dívidas, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o impacto de jovens educados financeiramente pode ser revolucionário. Eles não apenas ajudam suas famílias a evitar endividamentos, mas também criam um ciclo virtuoso de aprendizado que pode durar gerações.
“A educação financeira é como plantar uma árvore. Você começa com um pequeno esforço, mas ao longo do tempo, os frutos são permanentes,” conclui André Carvalho.
Resta saber como o Brasil lidará com os desafios para tornar essa inclusão uma realidade em todo o território nacional. Afinal, investir em jovens é garantir um futuro mais sólido para todos.