Estudar para provas é um desafio enfrentado por milhões de estudantes, especialmente no Brasil, onde o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares são etapas cruciais para o ingresso no ensino superior.
Muitas estratégias são adotadas para melhorar o desempenho, desde passar a noite revisando até iniciar a prova pelas questões mais fáceis. No entanto, a neurociência mostra que algumas dessas táticas podem, na verdade, prejudicar o aprendizado.
No livro “Aprendendo a Aprender para Crianças e Adolescentes”, Barbara Oakley e outros especialistas em neurociência desmistificam essas estratégias comuns, oferecendo métodos comprovados para estudar e ter um desempenho melhor nas provas.
Confira as principais dicas para otimizar a preparação e o aprendizado no Enem ou em outras provas:
1. Evite estudar horas a fio na noite anterior do vestibular como o Enem
Muitos estudantes acreditam que revisar intensamente na noite anterior à prova ajuda a fixar o conteúdo. No entanto, a neurociência mostra que essa prática é ineficaz e pode, na verdade, prejudicar o desempenho. O cérebro precisa de tempo e descanso para consolidar o aprendizado.
Quando estudamos um conteúdo, nosso cérebro cria novas conexões, ou “correntes cerebrais”, que ajudam a fixar o conhecimento. Essas conexões se fortalecem com o tempo, principalmente durante o sono, essencial para o cérebro processar e consolidar o que foi aprendido.
Segundo Oakley, “o tempo e o treino trabalham juntos para ajudar o cérebro a cimentar as ideias”. Estudar de forma distribuída ao longo dos dias, ao invés de acumular tudo na véspera, permite que o cérebro absorva e entenda melhor o conteúdo, aumentando a capacidade de recordar a matéria durante a prova.
2. Revisão constante é mais eficiente
A revisitação constante ao conteúdo é uma prática extremamente benéfica para o aprendizado. Sempre que aprendemos algo novo, criamos conexões no cérebro que se fortalecem com o tempo e a prática. Mas, se deixarmos de revisar o conteúdo, essas conexões começam a enfraquecer, o que pode fazer com que precisemos reaprender o conteúdo do zero.
Oakley recomenda que, ao longo dos estudos, os alunos revisem frequentemente o conteúdo, preferencialmente logo após a primeira leitura. A autora sugere relembrar as ideias principais sem consultar o material, ou explicar o conteúdo para alguém, técnicas que ajudam a fixar a informação na memória.
3. Comece a prova pelo exercício mais difícil
Ao contrário do que muitos aprendem na escola, a ciência do aprendizado sugere começar a prova com questões mais difíceis ao invés das mais fáceis. Segundo Oakley, essa estratégia permite que o cérebro entre em um modo de foco intenso. Nosso cérebro trabalha em dois modos complementares: o modo focado, quando estamos concentrados em uma tarefa, e o modo difuso, que funciona melhor em atividades mais leves ou relaxadas.
Ao enfrentar uma questão difícil primeiro, você ativa o modo focado do cérebro, forçando-o a analisar e buscar soluções. Se você se deparar com um bloqueio, passe para uma questão mais fácil, permitindo que o cérebro relaxe e se reorganize.
Com isso, ao voltar para a questão inicial, é possível ter novos insights e resolver o problema com mais facilidade. Essa alternância entre foco e relaxamento ajuda o cérebro a processar informações de forma mais eficiente.
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4. Cuidado com o “pensamento viciado”
O “pensamento viciado” ocorre quando uma resposta parece tão correta que nos impede de revisá-la ou considerá-la sob um novo ponto de vista. Oakley recomenda, sempre que possível, revisar as respostas ao final da prova em uma ordem diferente da original, questionando se cada resposta faz sentido. “Piscar, desviar o olhar e então revisar pode ajudar a identificar erros que passaram despercebidos na primeira leitura”, explica.
Essa técnica é importante para combater a tendência natural do cérebro de achar que uma resposta dada é correta só por já estar anotada. Ao revisar com um olhar renovado, o estudante pode evitar erros e melhorar a precisão nas respostas.
5. Dormir bem e praticar atividades físicas são aliados no estudo
O sono tem um papel essencial no processo de aprendizagem, pois é durante o sono que o cérebro consolida as informações adquiridas ao longo do dia. Oakley compara o sono à “argamassa que solidifica as paredes do aprendizado”. Durante o sono, o cérebro revisa, fortalece as conexões e elimina toxinas, consolidando o aprendizado de forma mais duradoura.
Além disso, a prática de atividades físicas também ajuda o cérebro a funcionar melhor, promovendo o crescimento de novos neurônios e favorecendo o aprendizado. Caminhadas, alongamentos e outros exercícios leves podem ser aliados importantes para manter o cérebro em estado de alerta e aumentar a capacidade de foco. De acordo com Oakley, essas atividades estimulam o modo difuso do cérebro, essencial para resolver problemas complexos.
O preparo adequado para uma prova exige mais do que longas horas de estudo e noites mal dormidas. A neurociência mostra que técnicas como estudar em períodos distribuídos, revisar constantemente, alternar entre exercícios difíceis e fáceis, e descansar o cérebro são práticas eficazes para melhorar o desempenho. Adotar essas estratégias pode ser a chave para um aprendizado mais profundo e para um desempenho melhor em exames importantes como o Enem.