Exposição gratuita destaca astrofísicos negros e a diversidade na ciência
Aberta ao público a partir desta quarta-feira (14), a exposição Astrofísica dos Corpos Negros no Planetário de Brasília oferece uma jornada gratuita e interativa pelo universo. Com uma abordagem lúdica, a mostra explora temas como estrelas luminosas, raios cósmicos e nebulosas planetárias. O projeto busca destacar o trabalho de astrofísicos brasileiros negros e incentivar jovens a sonharem com a ciência.
Ciência e representatividade
Coordenada pela professora e astrofísica Eliade Lima, da UNIPAMPA, a exposição também promove a reflexão sobre a baixa representatividade negra na ciência. “A ideia é inspirar crianças negras, de escolas públicas e da periferia, para que se imaginem como cientistas”, afirma Eliade. Ela lembra a reação emocionada de uma mãe que planeja levar o filho para se ver como futuro astrofísico e de outra, mãe de uma criança autista, que quer ver o rosto do filho no painel.
Homenagem a cientistas negros
Logo na entrada, o visitante se depara com ilustrações de dez astrofísicos negros e suas áreas de estudo. Entre eles, estão Alan Alves Brito, professor do Instituto de Física da UFRGS e organizador da mostra, que ressalta a importância de trazer diferentes trajetórias para a ciência: “A ciência não é neutra, as nossas formas de pensar precisam estar presentes”.
Tecnologia e experiência imersiva
A mostra traz uma experiência interativa com o uso de óculos 3D e vídeos, permitindo que o público conheça a trajetória dos cientistas homenageados por meio de ilustrações e conteúdos audiovisuais. Além disso, a exposição conta com painéis e textos explicativos sobre os estudos de cada astrofísico, permitindo um aprendizado visual e acessível.
Exposição online e parcerias
Para quem não puder visitar presencialmente, uma versão digital da mostra oferece vídeos imersivos em 360º e animações. O projeto é ilustrado por Camilo Martins e conta com contribuições dos pesquisadores Oscar dos Santos Borba, Liandra Ramos (UNIPAMPA), Alan Alves Brito (UFRGS) e Rita de Cassia dos Anjos (UFPR). Com apoio do CNPq e do FNDCT, a exposição fortalece a representatividade e a inclusão na ciência brasileira.
Cientistas negros na história
Benjamin Banneker (1731–1806): Astrônomo autodidata, relojoeiro e inventor, Banneker criou almanaques com cálculos precisos sobre os movimentos celestes e corrigiu erros de especialistas da época. Seu trabalho impressionou Thomas Jefferson, que o enviou à Academia Real de Ciências de Paris, destacando o talento intelectual dos negros.
Arthur Bertram Cuthbert Walker II (1936–2001): Físico renomado, Walker II estudou o Sol usando raios-x e sensores ultravioletas. Ele desenvolveu telescópios solares que fotografavam a coroa solar, e suas inovações ainda são usadas em telescópios solares modernos. A Sociedade Astronômica do Pacífico criou um prêmio em sua homenagem.
George Washington Carver (1864–1943): Famoso por descobrir mais de 100 usos para o amendoim, Carver foi também um inovador na agricultura, promovendo métodos de rotação de culturas que enriqueciam o solo. Suas invenções ajudaram a transformar a agricultura no sul dos EUA, tornando-a mais sustentável e menos dependente do algodão.
Patricia Era Bath (1942–2019): Pioneira na oftalmologia, Bath desenvolveu uma sonda a laser para tratar cataratas com precisão e menos dor. Foi a primeira afro-americana a concluir residência em oftalmologia e a primeira mulher a fazer parte do departamento de oftalmologia da UCLA, impactando a prática oftalmológica mundialmente.
Katherine Johnson (1918–2020): Matemática da NASA, seus cálculos manuais foram essenciais para o envio do primeiro astronauta americano ao espaço e para a missão que levou o homem à Lua. Ela desafiou a segregação racial e o preconceito de gênero, quebrando barreiras em um campo dominado por homens brancos.
Dorothy Vaughan (1910–2008): Matemática e programadora, Vaughan foi uma das primeiras a aprender a programar computadores e implementou o sistema de linguagem Fortran na NASA. Ela também contribuiu para o desenvolvimento do foguete Scout, que lançaria pequenos satélites, e ajudou a abrir portas para minorias na ciência.
Mary Jackson (1921–2005): Primeira engenheira negra da NASA, Jackson fez contribuições essenciais para o desenvolvimento de tecnologias aerospaciais e lutou contra a segregação racial para obter um diploma de engenharia. Ela também ajudou a apoiar mulheres e minorias na NASA, abrindo caminho para futuras gerações de engenheiras.
Annie Easley (1933–2011): Matemática e engenheira espacial da NASA, Easley começou sua carreira como “computador humano” e participou de vários programas de lançamento de foguetes. Ela também foi pioneira no estudo de fontes alternativas de energia e ajudou a derrubar barreiras para mulheres e minorias na ciência.
Percy Julian (1899–1975): Químico, Julian desenvolveu métodos inovadores para a produção em massa de medicamentos, como a cortisona, que tornou o tratamento de artrite mais acessível. Sua pesquisa sobre compostos de soja resultou em patentes revolucionárias e contribuiu para a produção de medicamentos essenciais de forma mais econômica.
Marie Maynard Daly (1921–2003): Primeira mulher negra a obter doutorado em química nos Estados Unidos, Daly foi pioneira no estudo dos efeitos do colesterol e do açúcar nas doenças cardíacas. Sua pesquisa teve um impacto duradouro no entendimento de condições como arteriosclerose e contribuiu para a medicina cardiovascular moderna.
Serviço
Exposição Astrofísica dos Corpos Negros
Data: de 13 de novembro a 28 de dezembro
Local: Planetário de Brasília
Horário: Terça a domingo, das 7h às 19h30
Entrada: Gratuita
A exposição é uma oportunidade única de aprendizado e inspiração, convidando o público a refletir sobre a diversidade no campo científico.
Leia também: Desigualdade: 21% das mulheres negras não contribui para a previdência, aponta pesquisa