Em meio aos rumores sobre o “fim” do ESG, Giancarlo Tomazim, Chefe de ESG e Marketing da Lead Energy, defende que pequenas e médias empresas (PMEs) têm o potencial de ressignificar o conceito após sua banalização
Como outros termos amplamente utilizados na indústria, o ESG sofreu um processo de banalização. Surgido nos anos 2000, o ESG visa garantir práticas sustentáveis a longo prazo e a responsabilidade corporativa, abordando questões ambientais, sociais e de governança. Contudo, nos últimos anos, o termo foi frequentemente usado para promover projetos de forma superficial. A urgência em aproveitar a tendência do ESG tornou-se mais importante do que a implementação de ações verdadeiramente sustentáveis.
Especialista em sustentabilidade, inovação e marketing, Tomazim, aponta que a busca por status no mercado e a pressão dos investidores levaram ao aumento das práticas de greenwashing. “A falta de clareza sobre os fundamentos reais do ESG também contribuiu para essa distorção”, afirma.
“Propus uma jornada de ESG para um cliente que havia trocado seu fornecedor de energia elétrica por um mais sustentável, visando reforçar o compromisso da organização com o ecossistema. Porém, quando demonstrei as ações necessárias, o cliente afirmou que já praticava ESG simplesmente pagando os funcionários em dia. A pandemia exacerbou a confusão sobre o que constitui as práticas ESG, permitindo várias interpretações e usos inadequados do termo”, comenta como uma das situações em que viu que o termo estava sendo distorcido.
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Apesar dessa banalização e da preocupação das empresas em atender às expectativas do mercado sem implementar mudanças reais, Tomazim não acredita na “morte” do ESG. “Embora preocupações sobre a diluição do significado do ESG sejam compreensíveis, o conceito ainda é relevante e crucial para o futuro dos negócios e da sociedade”, afirma. Ele sugere que alguns ajustes são necessários: “Acredito que o ESG continuará desempenhando um papel importante, mas com novas expressões e diretrizes.”
Tomazim vê nas pequenas empresas um papel crucial na revitalização do ESG. “As PMEs, com suas estruturas organizacionais mais ágeis e flexíveis, podem implementar mudanças e adotar práticas sustentáveis mais rapidamente. Além disso, elas costumam ter relações próximas com seus clientes, fornecedores e outras partes interessadas”, explica.
A relação logística direta entre pequenas e grandes empresas pode ser decisiva para a ressignificação do ESG no mercado. “Os gestores das pequenas empresas têm a oportunidade de modelar comportamentos éticos e responsáveis, promovendo uma cultura de consciência entre os funcionários. Muitas dessas PMEs fornecem para grandes empresas, que exigem as melhores práticas do mercado. Isso pode ser o início de uma grande transformação em cadeia”, destaca.
Por fim, o especialista enfatiza que o ESG não deve ser visto como uma estratégia passageira. “Mesmo com previsões de mudanças no termo, ele ainda será essencial para um sistema organizacional saudável. O ESG não é apenas uma tendência ou uma estratégia de marketing, mas uma filosofia de negócio. Empresas que incorporam os princípios ESG em sua cultura e operações estão melhor posicionadas para enfrentar os desafios atuais e criar valor a longo prazo para todos os stakeholders”, conclui.