A pandemia da Covid-19 trouxe desafios significativos para o avanço da Agenda 2030, um plano ambicioso que visa alcançar 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.
De acordo com um estudo conduzido pelo Instituto René Rachou, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Belo Horizonte, os impactos econômicos da pandemia exacerbaram as desigualdades globais, dificultando a implementação das metas de saúde associadas aos ODS.
A pesquisa, publicada recentemente na revista científica Plos One, avaliou a evolução de 43 indicadores relacionados às metas de saúde em 185 países. A análise comparou projeções de crescimento econômico feitas antes da pandemia da Covid-19, em janeiro de 2020, com as previsões revisadas em outubro de 2021. Os resultados evidenciaram uma disparidade acentuada entre os países de diferentes níveis de renda.
Impacto desigual da Covid-19
O estudo revelou que os países de rendimentos mais baixos enfrentarão um retrocesso de 16% em todos os indicadores avaliados, enquanto os países de rendimento elevado devem experimentar uma queda menor, de apenas 3%. Essa diferença é atribuída à capacidade das economias mais potentes de se recuperarem mais rapidamente das crises, reestruturando-se em menos tempo.
Os pesquisadores destacaram que as desigualdades econômicas, já profundas, foram agravadas pela Covid, o que dificultou ainda mais o cumprimento das metas da Agenda 2030. “Quanto maior a desigualdade, pior a performance nos indicadores de saúde”, apontam os autores do estudo.
Metodologia e resultados
A análise da Fiocruz foi realizada utilizando um modelo econométrico que considerou três principais indicadores econômicos de cada país: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o índice de Gini (que mede a distribuição de renda) e os investimentos em saúde. A pesquisa focou especialmente em medidas relacionadas a doenças infecciosas, onde a desaceleração no ritmo de implementação das metas foi mais evidente.
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Nos países de baixo rendimento, por exemplo, a desaceleração média prevista é de 33,8%, enquanto nos países de rendimento elevado é de 6,4%. Outros indicadores afetados incluem lesões e violência, saúde materna e reprodutiva, cobertura de sistemas de saúde e saúde neonatal e infantil.
Reflexões e recomendações
O estudo sublinha a necessidade de uma cooperação global mais robusta para apoiar os sistemas de saúde nos países de baixo rendimento, garantindo que o progresso seja equitativo e que todos possam desfrutar de um futuro mais saudável. A pesquisa da Fiocruz destaca que, sem uma ação coordenada e internacional, os esforços para alcançar os ODS até 2030 poderão ser seriamente comprometidos, especialmente em regiões mais vulneráveis.
A conclusão do estudo reforça a importância de políticas públicas globais que promovam a equidade na saúde, minimizando os efeitos devastadores de crises como a pandemia da Covid-19 sobre as populações mais fragilizadas.