Ray Dalio, um dos maiores investidores do mundo e fundador da Bridgewater Associates, divulgou um novo relatório que analisa a posição do Brasil em relação a outros 35 países. Com uma visão crítica, o documento destaca alguns dos principais desafios econômicos e sociais que o Brasil enfrentará nos próximos dez anos, como alto endividamento, corrupção, desigualdade e uma fraca educação. No entanto, também aponta pontos positivos, como a abundância de recursos naturais e o retorno financeiro da mão de obra.
O relatório traz um panorama abrangente que posiciona o Brasil em um contexto global, apontando tanto as fragilidades quanto as oportunidades de crescimento. Dalio, quem previu a crise econômica de 2008, utiliza sua experiência e conhecimento para indicar caminhos possíveis e prever obstáculos no futuro econômico do país.
Ray Dalio foca em pontos como desigualdade e crescimento econômico
Um dos principais pontos levantados por Ray Dalio é a desigualdade social. O relatório revela que as rendas dos 10% mais ricos aumentaram 3% nos últimos dez anos, enquanto os 60% mais pobres viram um crescimento de apenas 6% em suas rendas.
Mesmo que pareça um avanço, o crescimento lento da renda da parcela mais pobre da população aumenta o risco de aprofundar as desigualdades sociais. Esse fator pode trazer instabilidade econômica e social ao país, comprometendo a coesão social e o crescimento sustentável.
Além disso, o Brasil ocupa uma das piores posições entre os países emergentes em termos de crescimento econômico. A expectativa é de que o país cresça apenas 1,7% ao ano, colocando-o em 18º lugar entre os países emergentes. O baixo crescimento da produtividade por trabalhador e a estagnação da força de trabalho são alguns dos fatores que puxam essa previsão para baixo.
Educação: um ponto crítico na visão de Ray Dalio
Outro ponto crucial que Dalio destaca é a educação. Segundo o relatório, o Brasil tem uma das piores posições entre os países analisados, com apenas 3% da população possuindo formação superior e 2% completando o doutorado. A média de anos de educação dos brasileiros é de 9,4 anos, enquanto a média dos países desenvolvidos é de 11,7 anos.
As notas do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), prova que avalia a proficiência de alunos de 15 anos, também colocam o Brasil em uma posição desfavorável. Com uma pontuação de 397, muito abaixo da média de 479, o país está longe de alcançar padrões de excelência em educação.
Leia também: Deflação: entenda o que é e seu impacto na economia brasileira
Essa deficiência no setor educacional impacta diretamente a capacidade de inovação e desenvolvimento tecnológico. O Brasil apresenta poucos pedidos de patentes globais e investe pouco em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que limita sua competitividade no cenário internacional. A inovação é essencial para promover o crescimento econômico e aumentar a produtividade, mas o relatório mostra que o Brasil ainda está muito aquém nesse aspecto.
Endividamento e política monetária
O endividamento é outro ponto de preocupação destacado por Ray Dalio. Embora o Brasil apresente uma posição ligeiramente melhor em termos de endividamento em comparação com outros países — ocupando o 13º lugar entre os 35 analisados —, o relatório alerta que há pouco espaço para aumentar o endividamento no futuro.
Com uma dívida total de cerca de 190% do PIB, incluindo dívidas de empresas financeiras, o Brasil se aproxima da média global de 236%. Isso significa que o país precisará ter cautela ao tomar medidas que possam impactar sua dívida pública e privada, especialmente em tempos de incerteza econômica.
O relatório também aponta que o crescimento do Brasil nos últimos anos não foi significativamente impulsionado pela criação de crédito, o que sugere que a política monetária do país tem sido neutra para o crescimento econômico. Isso pode ser visto como uma vantagem em tempos de crise, mas também indica que o país tem poucas ferramentas para estimular o crescimento no curto prazo.
Corrupção e cultura de trabalho
A corrupção no Brasil também foi citada por Ray Dalio como um dos principais desafios. O país apresenta níveis médios de corrupção e um Estado de Direito considerado fraco, o que afeta a confiança de investidores e dificulta o desenvolvimento econômico. Além disso, o relatório aponta que a cultura de trabalho no Brasil é um fator que prejudica o crescimento. Segundo o investidor, a ética de trabalho no país é relativamente fraca, com muitos trabalhadores priorizando lazer em detrimento da produtividade. A rigidez do mercado de trabalho e o alto nível de apoio governamental também são fatores que, segundo o estudo, impactam negativamente a economia.
Pontos positivos: recursos naturais e valor da mão de obra
Apesar dos desafios, Ray Dalio também reconhece alguns pontos positivos no Brasil. Os recursos naturais são um dos maiores trunfos do país, colocando-o em 3º lugar no ranking de capacidade de produção de energia, agricultura e metais industriais. Essa abundância de recursos coloca o Brasil em uma posição estratégica no cenário global, especialmente em tempos de transição energética e busca por fontes renováveis.
Outro ponto positivo é o valor da mão de obra brasileira. Ray Dalio afirma que o Brasil oferece um bom retorno sobre o investimento em sua força de trabalho, mesmo com níveis baixos de educação. O país tem trabalhadores relativamente baratos, o que pode ser uma vantagem competitiva em relação a outras nações emergentes. No entanto, o relatório destaca que esse potencial precisa ser melhor aproveitado, com investimentos mais eficientes em educação e capacitação profissional.
O relatório de Ray Dalio oferece uma visão abrangente sobre os desafios e oportunidades do Brasil nos próximos dez anos. Com um crescimento econômico abaixo do esperado, altas taxas de desigualdade e fragilidades no sistema educacional, o país enfrenta obstáculos significativos. No entanto, a abundância de recursos naturais e o valor competitivo da mão de obra brasileira oferecem uma base sólida para o desenvolvimento, desde que sejam feitas as reformas necessárias. O futuro do Brasil dependerá de como o país lidará com esses desafios e aproveitará suas oportunidades.