O horário de verão, uma prática adotada por décadas no Brasil, pode voltar em 2024. Suspenso desde 2019, o impacto energético e econômico da sua possível reintrodução está sendo estudado pelo governo federal.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, essa possibilidade é concreta, mas exige um estudo cuidadoso para avaliar os benefícios e desafios que a medida traz para o cotidiano da população e a economia do país.
Em um evento realizado em São Paulo no último dia 12 de setembro de 2024, Silveira afirmou que a volta do horário de verão pode trazer benefícios importantes, principalmente em relação à redução do consumo de energia elétrica nos horários de pico. “O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato porque tem implicações, não só energéticas, mas também econômicas. Impacta a vida das pessoas”, explicou o ministro.
Avaliação técnica e econômica sobre o horário de verão
A volta do horário de verão está sendo analisada com cautela pelo governo, pois busca entender os efeitos tanto no setor energético quanto na economia. O ministro destacou que qualquer decisão sobre o tema será baseada em estudos técnicos e não na tomada de forma precipitada. “Se necessário, não tenham dúvida de que nós voltaremos com o horário [de verão]”, afirmou.
A suspensão do horário de verão em 2019, durante o governo anterior, foi justificada pela baixa eficiência da medida em termos de economia de energia. Entretanto, pesquisas recentes indicam que, em certos setores econômicos, como turismo, bares e restaurantes, os efeitos do horário de verão são positivos, estimulando o consumo e a atividade econômica durante os meses mais quentes do ano.
Além disso, a economia de energia proporcionada pela medida pode contribuir para uma menor utilização de usinas termelétricas nos horários de pico, entre 18h e 21h, quando o consumo de energia no país atinge seus níveis mais altos. A queima de combustíveis fósseis, como o óleo diesel, utilizado em algumas termelétricas, é um dos fatores que podem ser minimizados com a reintrodução do horário de verão.
Desafios e impacto no consumo de energia
O principal objetivo do horário de verão sempre foi o melhor aproveitamento da luz natural em detrimento da luz artificial, o que leva à redução do consumo de energia, especialmente nos horários de maior demanda. No entanto, com o avanço tecnológico e a modernização dos sistemas de geração de energia, surgem dúvidas sobre a efetividade da medida em tempos atuais.
O ministro ressaltou que, nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado picos de consumo energético devido às altas temperaturas, pois aumenta o uso de aparelhos como ar-condicionado. “O Brasil nunca tinha consumido, antes de setembro deste ano, 105 gigawatts (GW) em uma tarde. A média é de 85 GW, o que demonstra que tivemos todos os ar-condicionados do Brasil ligados e que a necessidade de energia oscila cada vez mais”, afirmou.
Em resposta a esse aumento na demanda, o Ministério de Minas e Energia determinou que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e a Secretaria Nacional de Energia Elétrica se reúnam com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para desenvolver um plano de contingência para o verão de 2024/2025. O plano visa garantir a segurança energética e evitar apagões, falta de luz que prejudica tanto o setor industrial quanto a população em geral.
Histórico e mudanças no horário de verão
Instituído pela primeira vez em 1931, pelo então presidente Getúlio Vargas, o horário de verão passou por diversas reformulações ao longo das décadas e foi aplicado de forma contínua entre 1985 e 2019. Até sua extinção, em abril de 2019, o horário de verão era adotado em estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal.
A medida, que adiantava os relógios em uma hora durante os meses de outubro a fevereiro, tinha como principal objetivo reduzir a concentração de consumo elétrico no início da noite, entre 18h e 21h. No entanto, regiões como o Norte e Nordeste do país não adotavam a mudança, devido à menor variação na luminosidade natural ao longo do ano.
O horário de verão seguia critérios técnicos para determinar seu período de vigência, de acordo com as variações de luminosidade entre as estações. Antes de sua extinção, a medida era aplicada a partir do primeiro domingo de novembro até o terceiro domingo de fevereiro, com ajustes para o carnaval, quando necessário.
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Futuro energético e a economia verde
A discussão sobre a volta do horário de verão também está inserida em um contexto mais amplo de planejamento energético para o futuro do Brasil. O ministro Alexandre Silveira destacou a importância da transição para uma economia verde que respeite a legislação ambiental e promova a sustentabilidade. Para ele, a “nova economia verde” será fundamental para garantir o desenvolvimento econômico do país, ao mesmo tempo em que se combate a desigualdade social e se preservam os recursos naturais.
O ministro encerrou suas declarações ressaltando que a decisão sobre a volta do horário de verão será tomada com base em estudos técnicos abrangentes, levando em consideração não apenas os aspectos energéticos, mas também as condições climáticas e os impactos econômicos da medida. Com o aumento das temperaturas globais e a crescente demanda por energia, a reintrodução do horário de verão pode ser uma solução importante para o equilíbrio energético do país nos próximos anos.
A possível volta do horário de verão no Brasil é uma questão que divide opiniões, mas o governo está ciente de seus possíveis benefícios, especialmente no que diz respeito à economia de energia e ao estímulo de setores econômicos. A análise minuciosa do Ministério de Minas e Energia, aliada ao planejamento do setor elétrico, poderá definir se o Brasil verá novamente seus relógios adiantados nos meses de verão, contribuindo para o equilíbrio energético do país.