Como pequenos atos sociais ajudam a combater a solidão e melhorar a saúde?

A solidão tem se mostrado uma questão de saúde pública com impactos profundos na qualidade de vida e bem-estar mental das pessoas. Com o aumento do trabalho remoto e o distanciamento social reforçado pela pandemia de Covid-19, o isolamento tornou-se uma realidade para muitos. No entanto, pesquisas indicam que mesmo pequenas interações sociais cotidianas podem ajudar a combater a solidão e, consequentemente, melhorar a saúde mental.

Segundo dados da Gallup, um em cada cinco adultos nos Estados Unidos afirmou sentir-se sozinho na maioria do dia. Especialistas sugerem que esse isolamento emocional pode ser combatido por meio de gestos simples, que vão desde conversas informais com desconhecidos até a participação em atividades de voluntariado, que promovem interação social e sensação de pertencimento.

Os efeitos da solidão na saúde

Estudos recentes mostraram que a solidão prolongada está relacionada a uma série de problemas de saúde, incluindo insônia, aumento dos níveis de estresse, depressão e ansiedade. Em casos mais graves, o isolamento social pode até contribuir para o encurtamento da expectativa de vida, colocando a solidão no mesmo patamar de fatores de risco à saúde, como tabagismo e obesidade.

A Dra. Gail Saltz, professora associada de psiquiatria no Hospital NewYork-Presbyterian, observa que a desconexão social é um sinal de alerta que exige atenção. “A solidão age como um sistema de alerta do corpo, sinalizando a necessidade de interação social”, explica Saltz. Para ela, pequenos esforços na construção de vínculos e na aproximação com a comunidade podem contribuir significativamente para a saúde mental.

Pequenos atos, grandes impactos

Interações breves, mas positivas, no cotidiano, como conversar com o atendente do café ou cumprimentar alguém no elevador, podem ajudar a preencher essa necessidade social. “Muitas pessoas que trabalham ou estudam de casa passam o dia inteiro sem conversar com ninguém”, aponta o psicólogo John Duffy, de Chicago. Para ele, incentivar os pacientes a estabelecerem algum contato, mesmo que breve, tem sido uma das práticas mais eficazes no combate à solidão.

A pandemia também contribuiu para o aumento da ansiedade social em algumas pessoas. Duffy explica que, para muitos, o afastamento social resultou na perda de prática em interações cara a cara. Isso fez com que alguns desenvolvessem receio de iniciar uma conversa ou de se aproximar de outras pessoas.

Saltz observa que esse medo geralmente está enraizado no autojulgamento e no receio de fazer algo errado. Ela recomenda que as pessoas tentem lidar com esses pensamentos, entendendo que eles são naturais e, muitas vezes, não refletem a realidade. “Pensamentos ansiosos não são previsões do futuro nem uma leitura precisa da mente do outro”, reforça. Ela sugere praticar algumas falas de início de conversa, o que pode ajudar a se sentir mais preparado.

Atividade social voluntária como forma de conexão

A prática de interações sociais e o envolvimento com a comunidade são passos valiosos para aqueles que buscam combater o isolamento e melhorar sua saúde mental | Foto: Reprodução/Canva
A prática de interações sociais positivas e o envolvimento com a comunidade são passos valiosos para aqueles que buscam combater o isolamento e melhorar sua saúde mental | Foto: Reprodução/Canva

Para aqueles que enfrentam dificuldades em estabelecer conexões no dia a dia, o voluntariado é uma alternativa poderosa. Além de proporcionar um ambiente onde as interações ocorrem de maneira mais natural, o voluntariado oferece a sensação de propósito, outro aspecto essencial para a saúde mental. Segundo Saltz, “ajudar outras pessoas faz com que nos sintamos bem, e é uma maneira de criar conexões reais com quem compartilha valores semelhantes”.

Dados da Gallup indicam que atividades de voluntariado não apenas aliviam a solidão como também promovem o bem-estar emocional e o fortalecimento do senso de pertencimento. Saltz recomenda escolher uma causa pela qual se tenha interesse para que o engajamento seja espontâneo e prazeroso.

Gentileza gera gentileza

Outro ponto importante é que a gentileza tende a atrair reciprocidade. Saltz argumenta que atos gentis, por menores que sejam, ajudam a transformar o ambiente ao redor. No entanto, o uso excessivo das redes sociais pode acabar tendo o efeito contrário, pois, muitas vezes, a interação online gera mais sentimentos de isolamento e comparação negativa do que conexões verdadeiras.

Reduzir o tempo em redes sociais e praticar a gentileza no cotidiano podem ser passos importantes para combater o isolamento. Interagir de maneira educada e aberta com as pessoas pode contribuir para o bem-estar tanto de quem realiza o ato quanto de quem o recebe.

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Criando uma rotina saudável

Ao tentar construir novos laços sociais, é essencial que esses novos hábitos sejam consistentes. Saltz recomenda que as pessoas se dediquem a cultivar esses hábitos de maneira frequente, para que eles se tornem parte da rotina. Além disso, manter contato com amigos e familiares, mesmo que por telefone, pode ajudar a reduzir o sentimento de solidão.

Reduzir o tempo de exposição nas redes sociais, praticar atividades físicas e investir em um hobby também são formas de cuidar do relacionamento consigo mesmo, o que é crucial para quem está enfrentando o isolamento. “Estar na natureza ou envolver-se em um passatempo pode ser bastante útil para o humor e a saúde mental”, explica Saltz.

Quando buscar ajuda profissional

Apesar dos benefícios que pequenas interações e práticas de gentileza trazem para a saúde mental, em alguns casos, o isolamento e a solidão podem exigir atenção profissional. Saltz alerta que, se os sentimentos de solidão são constantes e impactam o sono, a alimentação ou a capacidade de se envolver em atividades prazerosas, é importante buscar a ajuda de um profissional de saúde mental. Profissionais capacitados podem ajudar na identificação e tratamento de possíveis condições psicológicas associadas, oferecendo apoio adequado para cada caso.

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