A saúde mental tem se tornado uma pauta prioritária nas empresas de todo o mundo. Diante de um cenário global de crescente preocupação com o bem-estar dos colaboradores, um empresário chinês está se destacando por implementar uma política inovadora em sua companhia. Yu Donglai, fundador da rede de varejo Pang Dong Lai, introduziu a “licença por infelicidade”, um afastamento que visa equilibrar vida pessoal e profissional, permitindo que seus funcionários tirem até 10 dias de folga por ano quando se sentirem tristes, estressados ou desmotivados.
O que é a licença por infelicidade?
A licença por infelicidade, introduzida em março de 2024 por Yu Donglai, permite que os funcionários de sua rede de mais de 7 mil trabalhadores tirem dias de folga quando estão se sentindo sobrecarregados, sem a necessidade de solicitar aprovação prévia de seus superiores. O objetivo dessa política é simples: garantir que os profissionais possam cuidar de sua saúde mental quando necessário, sem o estigma de precisar justificar a ausência ou pedir permissões formais.
Limitada a 10 dias por ano, a licença pode ser distribuída ao longo de 12 meses, oferecendo flexibilidade e ajudando os colaboradores a manterem um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. A medida é vista como parte de um movimento mais amplo para melhorar as condições de trabalho, ao mesmo tempo em que busca aumentar a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, particularmente em setores de alta pressão, como o varejo.
O Super Finanças entrou em contato com alguns profissionais de diferentes setores, como bancários, gerentes de atendimento e donos de empresa, para entender a visão sobre essa licença e como seria caso viesse ao Brasil.
A jovem bancária afirmou que é 100% a favor da licença infelicidade, além disso, ressaltou que lhe ajudaria em seu cotidiano.
“Acredito que quando estou estressada ou me sentindo pressionada com algo no trabalho, junta meus estresses em cima de mais estresses e assim acabo entregando um trabalho não tão bom quanto queria, por não o fazer com tanta paciência e vontade, me levando ao desânimo de viver a mesma situação nos próximos dias seguintes novamente”, reflete.
Ao conversamos com a gerente de atendimento, de aproximadamente 40 anos, ela demonstrou apoio, mas enfatizou que essa medida deveria vir acompanhada de um tratamento psicológico.
“Acho que essa licença poderia ajudar a prevenir o esgotamento. Ter um tempo para descansar e se recuperar seria muito positivo para manter um equilíbrio melhor entre a vida pessoal e profissional, porém desde que a pessoa busque uma ajuda, pois se ausentar por 10 dias não será o suficiente se a pessoa não trabalhar o seu ‘eu'”, conclui.
Um reflexo de uma necessidade global
Segundo o relatório The Workforce Institute, da consultoria UKG, 60% dos profissionais ao redor do mundo afirmam que o trabalho é o principal fator que impacta sua saúde mental. O cenário é ainda mais alarmante na China, onde 53% da população relata enfrentar estresse diariamente e 12% dos profissionais declaram se sentir tristes regularmente, de acordo com pesquisa da Gallup, que entrevistou 128 mil pessoas em mais de 160 países.
Com esses números em mente, políticas como a licença por infelicidade surgem como uma resposta necessária. O empresário chinês reconheceu a importância de proporcionar um ambiente de trabalho onde os funcionários possam lidar melhor com suas emoções e com a pressão do dia a dia.
“Quero que todos os funcionários tenham liberdade. Todo mundo tem momentos em que não está feliz, então, se você não estiver feliz, não trabalhe”, declarou Yu Donglai durante a China Supermarket Week, evento que marcou o anúncio oficial da política.
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“A licença para infelicidade pode ser uma medida importante para apoiar a saúde mental dos trabalhadores, permitindo que eles se recuperem de estresse e esgotamento. Essa licença poderia, sem dúvida, ajudar muitas pessoas a lidar com o estresse diário, oferecendo tempo para descanso e recuperação, o que poderia reduzir a ansiedade e prevenir o esgotamento a longo prazo”, enfatiza a empreendedora de aproximadamente 40 anos em exclusividade ao Super Finanças.
A importância do bem-estar no ambiente de trabalho
Além da licença por infelicidade, Yu Donglai já é conhecido por adotar outras políticas progressistas focadas no bem-estar de seus colaboradores. Entre elas, destacam-se os incentivos para viagens e até 40 dias de férias pagas, um benefício muito acima da média em comparação a outras empresas do setor na China. Sua filosofia empresarial vai na contramão de muitas organizações que buscam apenas crescimento e lucro. “Não queremos ser grandes. Queremos que nossos funcionários tenham uma vida saudável e relaxada, para que a empresa também tenha”, explicou Donglai.
A rede de varejo Pang Dong Lai, fundada em 1995, conta atualmente com mais de 300 lojas e é considerada a segunda maior empresa de varejo na província de Henan, no centro-leste da China, de acordo com dados da Universidade de York. Esse crescimento sustentável, alinhado ao cuidado com os funcionários, torna a rede um exemplo de inovação corporativa em um mercado altamente competitivo.
Uma tendência em expansão?
A política de licença por infelicidade chama a atenção, não apenas por sua abordagem humana, mas também por refletir uma tendência maior em escala global. Empresas ao redor do mundo têm, cada vez mais, dado atenção ao bem-estar mental de seus colaboradores, oferecendo benefícios que vão além do tradicional pacote de saúde ou de folgas limitadas por questões médicas. Organizações como a Microsoft, por exemplo, já implementam políticas de dias de folga voltados para a saúde mental, reforçando a necessidade de um cuidado mais holístico com os trabalhadores.
Além disso, a pandemia de COVID-19 acelerou o debate sobre a saúde mental e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. O aumento do home office, o esgotamento emocional e a sobrecarga de trabalho fizeram com que muitas empresas revisassem suas políticas internas. Nesse sentido, a licença por infelicidade aparece como um avanço natural na busca por um ambiente corporativo mais saudável e equilibrado.
Impactos no Brasil
No Brasil, embora a licença por infelicidade ainda não tenha sido adotada formalmente por empresas, o debate sobre saúde mental no trabalho tem crescido. Pesquisas indicam que os brasileiros estão entre os povos mais estressados do mundo, e o aumento dos casos de burnout tem feito com que empregadores repensem suas práticas.
Implementar políticas similares à da Pang Dong Lai poderia ajudar a reduzir o estresse no ambiente de trabalho e promover um maior bem-estar entre os profissionais, impactando positivamente na produtividade e na satisfação dos colaboradores.
A licença por infelicidade, criada por Yu Donglai, é um exemplo de como pequenas mudanças nas políticas internas de uma empresa podem ter um grande impacto no bem-estar dos funcionários. Ao dar aos trabalhadores a liberdade de se ausentar quando não estão se sentindo bem emocionalmente, a Pang Dong Lai não apenas melhora a saúde mental de seus colaboradores, mas também cria um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e inovador.
Essa medida é um passo à frente na maneira como empresas tratam a saúde mental de seus colaboradores e pode servir de inspiração para outras organizações ao redor do mundo. Afinal, um funcionário feliz e saudável tende a ser mais engajado e produtivo, beneficiando a empresa em sua totalidade.