Acordo climático de US$ 250 Bilhões gerou críticas feitas por países em desenvolvimento
O acordo climático proposto durante a COP29, a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, foi encerrado no Azerbaijão nesta sexta-feira (22) sem que os países participantes chegassem a um consenso sobre o financiamento climático. Realizada em Baku, a conferência ultrapassou o prazo oficial, mas não conseguiu avançar em um dos temas mais críticos: o apoio financeiro dos países ricos aos países em desenvolvimento para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.
A principal proposta em discussão era que as nações desenvolvidas destinassem US$ 250 bilhões anuais, até 2035, para ajudar os países mais vulneráveis na transição energética e no combate aos fenômenos extremos causados pelo aquecimento global. No entanto, essa quantia foi considerada insuficiente pelos países emergentes, que demandavam um valor muito maior, superior a US$ 1 trilhão por ano.
Essa divisão entre países ricos e países em desenvolvimento foi o principal obstáculo para um acordo. De um lado, as nações mais vulneráveis insistem que precisam de mais recursos para enfrentar os impactos já visíveis das mudanças climáticas, como secas, enchentes e perda de biodiversidade. Do outro, países desenvolvidos relutam em comprometer mais fundos, alegando limitações econômicas internas.
O negociador-chefe do Azerbaijão, país que sediou a COP29, afirmou que os US$ 250 bilhões propostos não são suficientes para atingir as metas climáticas globais e que continuará pressionando por avanços. A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, também criticou o valor. Segundo ela, os países em desenvolvimento estão pedindo recursos que beneficiariam todo o planeta, incluindo as nações ricas, mas a oferta apresentada ficou muito aquém do necessário.
Para os países em desenvolvimento, o financiamento climático é essencial para a implementação de projetos que ajudem a reduzir emissões de gases de efeito estufa e a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, o recurso é fundamental para financiar a transição para uma matriz energética mais limpa, substituindo combustíveis fósseis por fontes renováveis.
No entanto, o documento apresentado pelos países desenvolvidos não deixou claro de onde viria esse dinheiro. Segundo Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, o texto fala de uma mistura de recursos públicos e privados, mas não especifica as proporções. “O setor privado não é signatário desses acordos. É preciso definir quanto dos recursos será de origem pública”, afirmou.
Os países em desenvolvimento também pedem que a maior parte do financiamento seja proveniente de fundos públicos das nações ricas, em vez de empréstimos. Eles argumentam que depender de instituições financeiras internacionais pode aumentar ainda mais a dívida desses países, dificultando sua recuperação econômica e climática.
Reações e críticas
A insatisfação com a proposta de financiamento foi expressa de forma contundente por Juan Carlos Monterrey Gomez, representante do Clima do Panamá. Em uma publicação no X (antigo Twitter), ele classificou a oferta de US$ 250 bilhões como “um cuspe na cara” das nações vulneráveis. “Eles oferecem migalhas enquanto nós carregamos os mortos. Ultrajante, maligno e implacável”, escreveu.
Entidades da sociedade civil também demonstraram indignação. Para muitos ativistas e especialistas, o resultado da COP29 foi decepcionante, pois a falta de um acordo sólido coloca em risco o progresso nas ações contra o aquecimento global. A expectativa era de que os países ricos assumissem um papel mais ativo no financiamento climático, considerando que são historicamente os maiores responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa.
A conferência deveria ter sido encerrada oficialmente na ultima quinta (21), mas as negociações se estenderam até a madrugada de sexta (22). Apesar do impasse, há esperança de que uma nova proposta seja apresentada nos próximos dias. O desafio agora é alinhar as expectativas de todos os participantes para evitar que a falta de acordo comprometa os esforços globais de combate às mudanças climáticas.
Incertezas para o futuro
Enquanto isso, o futuro do financiamento climático segue incerto. A ausência de um consenso na COP29 evidencia a dificuldade em equilibrar as responsabilidades entre os países ricos, que possuem maior capacidade financeira, e os países pobres, que enfrentam os maiores impactos do aquecimento global. Sem um acordo claro, muitas das promessas feitas em conferências anteriores, como a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, ficam cada vez mais distantes.
A COP29 mostrou que o debate sobre financiamento climático é mais urgente do que nunca. Os países em desenvolvimento estão em uma situação crítica e dependem de apoio financeiro para implementar medidas que possam mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A falta de recursos não é apenas uma questão econômica, mas também uma questão de justiça climática.
Com a ausência de um consenso em Baku, as negociações climáticas devem continuar nos próximos meses, com a esperança de que um novo acordo seja alcançado antes da próxima conferência. O mundo espera que as nações mais ricas assumam sua responsabilidade histórica e contribuam de forma justa para o combate ao aquecimento global.
Qual é o objetivo de uma COP?
O principal objetivo de uma COP é definir uma estratégia mais robusta de financiamento climático, especialmente para os países em desenvolvimento e comunidades vulneráveis, que são os maiores afetados pelas mudanças climáticas, mas que menos contribuem para a crise. Desde 2009, os países ricos prometeram um financiamento anual de US$ 100 bilhões, mas este valor ainda não foi alcançado de maneira consistente. A meta atual é que o financiamento climático atinja trilhões de dólares, com um foco em medidas de adaptação e mitigação.
Além do financiamento climático, a COP29 também é crucial para a definição de políticas de adaptação às mudanças climáticas, um tema cada vez mais urgente. Com a intensificação de fenômenos climáticos extremos como enchentes, secas e ondas de calor, a necessidade de criar cidades mais resilientes se torna ainda mais premente. Os eventos climáticos extremos têm mostrado que tanto governos quanto empresas precisam estar mais preparados para os custos elevados de adaptação.
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