Argentina entra na aliança global contra a fome no G20

A Argentina confirma sua adesão à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nesta segunda-feira (18). A iniciativa foi lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro. Apesar de se juntar ao grupo tardiamente, o governo do presidente argentino Javier Milei condicionou sua participação e reforçou sua postura crítica a certas pautas multilaterais.

Entenda as condições impostas pela Argentina para aderir à aliança contra a fome e os impactos no G20 e na soberania nacional |Foto: Reprodução/Pablo Porciuncula/ AFP

Adesão tardia e constrangimento diplomático

O lançamento oficial da aliança aconteceu no início da cúpula, com Lula anunciando a participação de 81 países. Inicialmente, a Argentina não estava na lista de membros fundadores, sendo o único país do G20 a não aderir ao programa, o que gerou desconforto nos bastidores do evento.

Horas depois, no entanto, Buenos Aires mudou de posição e confirmou sua adesão. Essa decisão permitiu que a Argentina fosse incluída como um dos membros fundadores da aliança, ao lado de outras nações do G20, como Estados Unidos, Índia e Japão. A inclusão também evitou que o país ficasse isolado no cenário internacional.

Estrutura da aliança

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi concebida como um mecanismo independente para captar recursos e financiar políticas públicas voltadas à erradicação da fome e à redução da pobreza extrema. Cada país que adere à aliança precisa criar um plano próprio com metas específicas. Em troca, as nações e organizações participantes oferecem apoio financeiro, tecnológico e estratégico.

Entre os financiadores do programa, destaca-se o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que anunciou a liberação de US$ 25 bilhões para projetos na América Latina e no Caribe. A iniciativa conta com 82 países, além de nove instituições financeiras, como o Banco Mundial, e 31 organizações filantrópicas, como as fundações Rockefeller e Bill & Melinda Gates.

Desafios da adesão argentina

A entrada da Argentina no programa foi marcada por tensões políticas. Sob o comando de Javier Milei, o país tem adotado uma postura crítica ao globalismo e ao que o presidente chama de “interferências externas”. Desde o início de seu mandato, Milei rejeita agendas multilaterais e já se opôs a propostas ligadas à igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável.

Mesmo ao aderir à aliança, a Argentina apresentou ressalvas. O governo argentino argumenta que a Agenda 2030 da ONU, mencionada no documento da aliança, deve ser interpretada de acordo com as prioridades nacionais. Segundo Milei, qualquer tentativa de impor políticas globais aos países ameaça a soberania e os direitos individuais.

Dias antes da cúpula, representantes argentinos já haviam sinalizado que algumas propostas brasileiras ultrapassavam as “linhas vermelhas” do governo. Em resposta, Buenos Aires afirmou que continuará defendendo seus próprios princípios, focados em estabilidade macroeconômica, atração de investimentos e geração de empregos.

Clima tenso entre Lula e Milei

A relação entre Lula e Milei foi outro ponto de destaque no evento. Durante o G20, os dois presidentes tiveram um breve encontro protocolar. O cumprimento foi descrito como “frio”, refletindo as profundas diferenças ideológicas entre os dois líderes.

Lula já havia criticado Milei publicamente e aguardava um pedido de desculpas por declarações feitas pelo argentino, que chamou o petista de “ladrão” e “comunista”. Além disso, Milei tem uma relação próxima com o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o que também contribui para o distanciamento entre os dois governantes.

Apesar das divergências, a adesão da Argentina ao projeto brasileiro foi vista como um movimento pragmático. Analistas apontam que Milei buscou evitar um isolamento diplomático completo, especialmente dentro do G20, onde decisões conjuntas afetam diretamente a economia global.

Importância da aliança para o G20

A criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi uma das principais iniciativas do Brasil como anfitrião do G20. Além de promover a cooperação internacional, o programa reforça a posição de liderança do país em debates sobre justiça social e desenvolvimento sustentável.

Para o governo brasileiro, o sucesso da aliança depende da adesão ampla de países e organizações. A entrada da Argentina, mesmo com ressalvas, fortalece a legitimidade do projeto e aumenta as chances de captação de recursos para implementar políticas públicas.

Além da aliança contra a fome, outros temas estão sendo debatidos na cúpula do G20, como a transição energética e as mudanças climáticas. A agenda também inclui discussões sobre a reforma da governança global, com foco na ampliação do papel dos países em desenvolvimento em fóruns internacionais.

Perspectivas futuras

A adesão à aliança está aberta desde julho deste ano e continuará disponível para novos países. Até 2025, a expectativa é que a estrutura de governança esteja plenamente funcional. Nesse período, os países membros devem definir metas específicas e detalhar como pretendem alcançar os objetivos estabelecidos.

No caso da Argentina, permanece a dúvida sobre sua real participação nas iniciativas propostas pelo Brasil. Observadores acreditam que Milei poderá impor mais condições ou até mesmo revisar compromissos assumidos, dependendo do impacto das medidas na política interna.

Ainda assim, a entrada da Argentina é um marco importante para o projeto e destaca a relevância do G20 como espaço de diálogo e cooperação. A aliança, embora enfrente desafios políticos, representa uma oportunidade única de unir esforços globais para combater dois dos maiores problemas da atualidade: a fome e a pobreza.

Leia também: Argentina causa impasse diplomático no G20

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