Entenda os principais temas da COP29 no Azerbaijão

Em um cenário global tenso, a COP29 aborda a necessidade urgente de financiamento climático e ações concretas para evitar a catástrofe ambiental

A COP29, a 29ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, começou neste 11 de novembro em Baku, no Azerbaijão, com um cenário repleto de desafios, tensões geopolíticas e uma crescente pressão para avançar nas negociações climáticas. O evento, que reúne representantes de mais de 190 países, se estende até o dia 22 de novembro, e se apresenta como a última grande oportunidade antes da COP30, marcada para ocorrer no Brasil em 2025.

Mas, ao contrário das expectativas, a conferência ocorre em um momento de crise climática aguda, com países em desenvolvimento clamando por maior suporte financeiro, e com a falta de consenso sobre as metas de redução de emissões e financiamento climático, que são questões cruciais para garantir um futuro mais seguro para o planeta.

COP29: Conferência climática no Azerbaijão
COP29 do Azerbaijão aborda financiamento climático e metas de redução de emissões com urgência.| Foto: Reprodução/Air Center

A COP29 se destaca pelo foco em financiamento climático, transição energética e adaptação às mudanças climáticas, com ênfase na necessidade urgente de apoio financeiro aos países mais vulneráveis. Embora as expectativas estejam altas para um avanço nas metas financeiras e na criação de soluções concretas, o evento ocorre em um contexto geopoliticamente delicado, o que aumenta a dificuldade de alcançar acordos substanciais. A sede da conferência, o Azerbaijão, um país cuja economia é fortemente dependente dos combustíveis fósseis, adiciona uma camada de complexidade às discussões.

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O que está em jogo na COP29?

O principal objetivo da COP29 é definir uma estratégia mais robusta de financiamento climático, especialmente para os países em desenvolvimento e comunidades vulneráveis, que são os maiores afetados pelas mudanças climáticas, mas que menos contribuem para a crise. Desde 2009, os países ricos prometeram um financiamento anual de US$ 100 bilhões, mas este valor ainda não foi alcançado de maneira consistente. A meta atual é que o financiamento climático atinja trilhões de dólares, com um foco em medidas de adaptação e mitigação.

Ricardo Assumpção, especialista em sustentabilidade, afirma que a COP29 pode ser vista como uma “COP do financiamento”, que tentará destravar os recursos necessários para enfrentar a transição energética e o aumento da resiliência dos países vulneráveis. Isso inclui investimentos em energias renováveis, infraestrutura resiliente e soluções para a redução das emissões de carbono.

No entanto, o temor é que o evento não avance com a ambição necessária diante do cenário de agravamento da crise climática e do retrocesso em várias partes do mundo, com países como os Estados Unidos e a China, maiores emissores globais de gases de efeito estufa, afastando-se de compromissos firmes.

Além do financiamento climático, a COP29 também é crucial para a definição de políticas de adaptação às mudanças climáticas, um tema cada vez mais urgente. Com a intensificação de fenômenos climáticos extremos como enchentes, secas e ondas de calor, a necessidade de criar cidades mais resilientes se torna ainda mais premente. Segundo Assumpção, os eventos climáticos extremos têm mostrado que tanto governos quanto empresas precisam estar mais preparados para os custos elevados de adaptação.

Desafios da COP29

Embora o foco da COP29 seja a criação de soluções financeiras eficazes, o evento acontece em um cenário político global marcado por incertezas. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que já sinalizou seu desejo de retirar o país do Acordo de Paris, e a ausência de líderes importantes, como o presidente Xi Jinping da China e o primeiro-ministro Narendra Modi da Índia, coloca ainda mais pressão sobre os países que buscam avanços nas negociações. A falta de liderança de figuras-chave em um momento tão crítico para o clima mundial levanta questões sobre a eficácia das discussões e o progresso das negociações.

Outro desafio é o fato de o Azerbaijão, país anfitrião, ser um dos maiores produtores de petróleo e gás do mundo, o que gera tensões sobre como um país com uma economia tão dependente de combustíveis fósseis pode ser efetivo na liderança de um evento focado na transição para energias limpas. O Azerbaijão também integra a OPEC, e sua posição tem sido vista com ceticismo por alguns defensores da ação climática mais agressiva.

O papel do Brasil na COP29

O Brasil chega à COP29 com algumas vitórias no campo climático, como a queda no desmatamento da Amazônia e a redução de 12% nas emissões de gases de efeito estufa em 2023. Contudo, o país enfrenta um dilema, pois a cúpula ocorre em um contexto global delicado e com a ausência de seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi substituído pelo vice-presidente Geraldo Alckmin na conferência. O Brasil tem se posicionado como um líder em questões climáticas, defendendo um financiamento climático robusto e propondo uma meta de redução de 67% das suas emissões de gases de efeito estufa até 2035.

A expectativa é que o Brasil também avance nas discussões sobre a transição energética, apresentando uma proposta de triplicar o uso de energias renováveis até 2030. Além disso, o país se prepara para apresentar sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que deve incluir metas climáticas mais ambiciosas, com foco na mitigação das emissões de gases de efeito estufa e em soluções para a adaptação às mudanças climáticas.

 A pressão por ações concretas

O relatório Lacuna de Emissões 2024 da ONU é um alerta crucial para a COP29, pois aponta que, se as políticas atuais se mantiverem, o mundo pode enfrentar um aumento de temperatura de até 3,1°C até o final do século, o que traria consequências catastróficas para o planeta. O estudo destaca que, para cumprir o Acordo de Paris, seria necessário reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 42% até 2030, um desafio gigantesco diante da atual trajetória de emissões.

Além disso, a COP29 tem a tarefa de finalizar o mercado global de carbono, conforme estabelecido no Artigo 6 do Acordo de Paris. Este mercado será fundamental para a redução de emissões e para financiar a adaptação às mudanças climáticas, permitindo que países e empresas compensem suas emissões por meio de investimentos em projetos de sustentabilidade em outras partes do mundo.

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