A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), o mais importante encontro internacional sobre o clima promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), chegou ao fim na cidade de Baku, capital do Azerbaijão. Após duas semanas de negociações acirradas entre representantes de diversos países, um acordo sobre financiamento climático foi finalmente alcançado, ultrapassando em dois dias a data inicialmente prevista para o encerramento das discussões.
Esse consenso, fruto de um intenso debate global, estabeleceu diretrizes cruciais para o futuro do planeta, definindo novas metas e mecanismos para combater as mudanças climáticas e seus impactos. Neste acordo histórico, foram abordados pontos-chave que moldarão as ações climáticas nos próximos anos.
A seguir, apresentamos um resumo dos principais destaques desse documento:
1. Financiamento climático permanece insuficiente
Um dos principais temas da COP29 foi a discussão sobre quanto dinheiro os países ricos devem fornecer aos países pobres para ajudá-los a lidar com as mudanças climáticas. Essa questão, conhecida como financiamento climático, é crucial para garantir que todos os países possam fazer sua parte na luta contra o aquecimento global.
Após longas negociações, os países concordaram em destinar 300 bilhões de dólares por ano para o financiamento climático até 2035. No entanto, muitos países em desenvolvimento consideram essa quantia muito baixa, alegando que ela não é suficiente para atender às suas necessidades e permitir que eles façam a transição para energias limpas.
Além disso, alguns países, como a Índia, questionaram a inclusão de contribuições de países em desenvolvimento nessa meta, argumentando que a maior parte do financiamento deve vir dos países mais ricos, que historicamente mais contribuíram para as mudanças climáticas.
2. Vitória de Trump impacta negociações
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos teve um impacto significativo e amplamente negativo sobre o tom das negociações na COP29. Conhecido por seu ceticismo em relação à ciência climática, Trump já havia declarado sua intenção de retirar os EUA de iniciativas globais para combater as mudanças climáticas.
Trump também anunciou a nomeação de um conhecido cético climático como futuro secretário de energia, o que reforçou o temor de que o país adotaria políticas contrárias aos esforços globais para reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover a transição energética.
Os Estados Unidos, sendo o maior emissor histórico de gases de efeito estufa e um dos países mais responsáveis pelos impactos acumulados das mudanças climáticas, têm um papel crucial em qualquer acordo climático internacional. No entanto, com a perspectiva de descompromisso de Washington, o cenário mudou drasticamente.
A falta de disposição dos EUA em contribuir de forma significativa tanto financeiramente quanto politicamente limitou o alcance do acordo final da COP29. Além disso, a incerteza sobre a continuidade do apoio americano enfraqueceu as negociações, tornando mais difícil alcançar metas financeiras e operacionais ambiciosas para enfrentar a crise climática global.
3. Acordo sobre créditos de carbono
Após anos de negociações, os países do mundo finalmente concordaram em criar um sistema global de comércio de créditos de carbono. Essa nova ferramenta permitirá que os países comprem e vendam créditos que representam a redução de emissões de gases do efeito estufa. A ideia é que, ao criar um mercado para essas reduções, os países sejam incentivados a investir em projetos que ajudam a combater as mudanças climáticas.
Embora esse seja um grande passo à frente, ainda há muitos detalhes a serem definidos para que esse sistema funcione de forma justa e eficaz. É preciso garantir que os créditos de carbono sejam reais e que as reduções de emissões sejam de fato permanentes. Além disso, é fundamental estabelecer mecanismos transparentes para monitorar e registrar as transações de créditos de carbono.
4. Avanços climáticos ainda insuficientes
Mesmo com sucessivos acordos, tanto as emissões de gases de efeito estufa quanto as temperaturas globais continuam aumentando. Este ano está a caminho de ser o mais quente já registrado, evidenciando impactos climáticos mais rápidos e severos do que o previsto.
Eventos extremos, como inundações devastadoras na África, deslizamentos fatais na Ásia e secas severas na América do Sul, destacaram a urgência de medidas mais eficazes.
5. Pressão sobre barreiras comerciais
Durante a COP29, países em desenvolvimento manifestaram profunda preocupação com as barreiras comerciais que dificultam e oneram seus esforços para transição para economias mais sustentáveis. Essas nações argumentam que medidas protecionistas, como tarifas e regulamentações técnicas mais rigorosas, impostas por países desenvolvidos, podem prejudicar suas exportações e limitar o acesso a tecnologias limpas e investimentos necessários para a descarbonização de suas economias.
Em particular, a implementação de mecanismos como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) pela União Europeia e as ameaças de tarifas generalizadas impostas por administrações anteriores dos Estados Unidos geraram grande debate e tensão nas negociações climáticas.
6. Interesses em combustíveis fósseis prevalecem
Realizada em um país com uma economia significativamente dependente da produção de combustíveis fósseis, a COP29 foi marcada por intensas discussões e divergências de opiniões sobre a implementação das ambiciosas metas climáticas estabelecidas na COP28.
A promessa de acelerar a transição energética global, abandonando gradualmente os combustíveis fósseis e triplicando a capacidade de energia renovável até 2030, enfrentou desafios consideráveis durante a conferência.
A influência de poderosos interesses ligados à indústria de petróleo e gás, presentes no país sede, foi evidente, gerando críticas e frustrando muitos negociadores que esperavam avanços mais significativos na direção de uma economia global descarbonizada. Essa dinâmica levantou sérias dúvidas sobre o compromisso real de alguns países com a transição energética e a efetividade das negociações climáticas internacionais.
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