Neste sábado (23), durante a COP29, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, os países participantes da cúpula, deram um passo na luta contra o aquecimento global ao finalmente concordarem com as regras para um mercado global de créditos de carbono.
Essa ideia é simples: países e empresas que poluem muito podem comprar créditos de países que fazem coisas boas para o meio ambiente, como plantar árvores ou usar energia limpa. Cada árvore plantada ou tonelada de carbono deixada de emitir gera um crédito que pode ser vendido.
A criação desse mercado é importante porque permite que o dinheiro flua para onde ele é mais necessário, ou seja, para projetos que ajudam a reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Além disso, ao estabelecer regras claras e transparentes, esse mercado garante que os créditos sejam reais e que as empresas que os compram estejam de fato contribuindo para um planeta mais sustentável.
O que é crédito de carbono?
O crédito de carbono é uma unidade monetária que representa a redução ou remoção de uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente (CO2e) da atmosfera.
Esses créditos e compensações são gerados por meio de diversos projetos e ações voltados para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Tais iniciativas podem incluir a geração de energia renovável, aumento da eficiência energética, reflorestamento e a captura de metano em aterros sanitários, entre outras.
Cada projeto é submetido a uma avaliação rigorosa para garantir sua autenticidade e a precisão das emissões que foram efetivamente reduzidas.
Estruturação do mercado
Durante a COP29, os países envolvidos na conferência, deram mais um passo para criar um mercado global de créditos de carbono. Imagine um banco mundial de créditos verdes, onde cada país pode depositar seus créditos gerados por ações como plantar árvores ou usar energia limpa. Para que esse banco funcione bem, os países precisaram definir algumas regras básicas.
Uma das principais decisões foi criar um sistema centralizado, como um grande livro de contas, para registrar todos os créditos que existem no mundo. Assim, fica mais fácil acompanhar quem está comprando e vendendo créditos e garantir que ninguém esteja contando os mesmos créditos duas vezes.
Além disso, os países também discutiram a possibilidade de fazer acordos diretos entre si, sem precisar passar pelo sistema centralizado. Essa flexibilidade pode ajudar a impulsionar a inovação e a cooperação entre países.
Para que esse mercado funcione de forma justa e transparente, os países precisaram definir:
- Como registrar os créditos: É preciso ter um sistema confiável para registrar cada crédito e acompanhar sua trajetória.
- Quais informações compartilhar: Todos os países precisam compartilhar informações claras e precisas sobre seus projetos de redução de emissões.
- O que fazer se algo der errado: É preciso ter regras claras para lidar com situações em que um projeto não funciona como o esperado.
Divergências e compromissos
Durante as negociações sobre o mercado global de carbono, os países não conseguiram chegar a um acordo sobre quem deveria controlar tudo. A Europa queria que a ONU ficasse de olho em tudo para garantir que os créditos fossem de verdade, mas os Estados Unidos preferiam que cada país tivesse mais liberdade para fazer seus próprios acordos.
No final, os países decidiram por um meio termo. Eles vão criar um sistema onde os países podem registrar seus créditos, mas a ONU não vai garantir que todos os créditos sejam bons. Isso significa que cada país ainda será responsável por mostrar que seus créditos são legítimos.
Essa solução agradou a todos, mas nem todo mundo está feliz. Algumas pessoas acham que, sem a garantia da ONU, pode ser difícil saber se os créditos são realmente bons e se o mercado vai funcionar de forma justa. Como disse Pedro Barata, do Fundo de Defesa Ambiental: “É um sistema que funciona, mas pode ter alguns problemas.”
Impacto do mercado global
O comércio bilateral de créditos de carbono já é uma realidade, com países como Suíça e Tailândia pioneiros nessa modalidade de negociação desde o início do ano. No entanto, a criação de um mercado global regulamentado, como o estabelecido na COP29, promete impulsionar exponencialmente essas transações.
Especialistas projetam que esse mercado, sob a supervisão da ONU, pode movimentar até US$ 250 bilhões anualmente até 2030, o que representa um volume significativo de investimentos em projetos de mitigação de carbono e a compensação de cerca de 5 bilhões de toneladas métricas de emissões de gases de efeito estufa por ano.
Apesar das divergências entre os países em relação ao nível de centralização e controle do mercado, o acordo alcançado na COP29 representa um consenso histórico que estabelece um marco regulatório robusto para as negociações internacionais de créditos de carbono.
Ao garantir maior integridade e transparência nas transações, esse acordo contribui para fortalecer a confiança dos investidores e impulsionar a participação de um número crescente de países e empresas no mercado. A expectativa é que esse mercado globalizado estimule a inovação, a transferência de tecnologias e a mobilização de recursos financeiros para projetos de baixo carbono em países em desenvolvimento.
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