Na COP29, que está acontecendo em Baku, no Azerbaijão, negociadores de mais de 190 países alertaram que os países mais pobres precisarão de pelo menos US$ 1 trilhão por ano até 2030 para conseguir se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas e para investir na transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis. O principal tema das negociações deste evento é o financiamento climático.
O sucesso da conferência vai depender de um acordo sobre quanto as nações mais ricas, os credores de desenvolvimento e o setor privado devem contribuir a cada ano para apoiar os países em desenvolvimento, que são os mais vulneráveis aos impactos climáticos, mas que, ao mesmo tempo, são os que menos contribuem para a crise ambiental.
A meta anterior de US$ 100 bilhões por ano, que deveria ser alcançada até 2025, finalmente foi cumprida, mas com dois anos de atraso, somente em 2022. Porém, uma parte significativa desse valor foi oferecida como empréstimos, o que tem gerado críticas dos países que receberam os recursos, pois, em vez de doações, eles terão que pagar esse valor de volta com juros.
Um relatório do Grupo Independente de Peritos de Alto Nível sobre Finanças Climáticas aponta que o valor anual necessário deve aumentar para US$ 1,3 trilhão até 2035, ou até mais, caso ações concretas não sejam tomadas imediatamente.
O relatório também adverte que, se os investimentos não forem feitos de forma mais urgente antes de 2030, os custos para combater os impactos das mudanças climáticas no futuro serão ainda maiores. No entanto, as negociações estão sendo bastante difíceis, já que há muitas opiniões divergentes entre os países, o que torna o processo de alcançar um acordo mais complicado. Países como os Estados Unidos, por exemplo, resistem a aumentar suas contribuições financeiras sem que outras nações, como a China, também aumentem seus compromissos.
A pressão sobre os delegados das nações participantes é ainda maior por causa da possibilidade de os Estados Unidos se retirarem de qualquer acordo de financiamento climático, caso Donald Trump retome a presidência. Para tentar ajudar a resolver a questão financeira, alguns bancos internacionais, como o Banco Mundial, estão sendo reformados para emprestar mais dinheiro para iniciativas climáticas. Além disso, 10 das maiores empresas do mundo se comprometeram a aumentar o financiamento climático, com o objetivo de atingir US$ 120 bilhões por ano até 2030.
Apesar dessas propostas, a criação de novos impostos sobre setores poluentes, como a aviação e os combustíveis fósseis, ainda não está garantida, e a resistência a essas ideias é forte em alguns países. No Azerbaijão, por exemplo, 22 bancos se comprometeram a investir quase US$ 1,2 bilhão para ajudar o país a se tornar mais sustentável e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
Além das discussões sobre o financiamento climático, a conferência também enfrentou tensões diplomáticas. A ministra francesa do clima, Agnès Pannier-Runacher, cancelou sua viagem à COP29 após o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, acusar a França de crimes cometidos em seus territórios no Caribe. A França e o Azerbaijão mantêm uma relação tensa devido ao apoio da França à Armênia, e o presidente do Azerbaijão também criticou os Estados Unidos e a União Europeia por falarem sobre as mudanças climáticas, mas continuarem a consumir grandes quantidades de combustíveis fósseis.
A Argentina, por sua vez, retirou seus negociadores da conferência, embora ainda não esteja claro o motivo, já que o presidente argentino, Javier Milei, tem se mostrado cético em relação ao aquecimento global, chamando-o de “farsa”.
Fonte: Reuters
Sobre o evento
A COP29 começou no dia 11 de novembro em Baku, no Azerbaijão, e reúne representantes de mais de 190 países para discutir os desafios das mudanças climáticas. O evento tem como principais focos o financiamento climático, a transição para energias renováveis e a adaptação aos impactos das mudanças climáticas. A conferência coloca uma forte ênfase na necessidade de garantir apoio financeiro para os países mais vulneráveis, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas, mas que têm menos recursos para enfrentá-las.
A principal meta da COP29 é aumentar significativamente o financiamento climático, que ainda não atingiu a meta de US$ 100 bilhões prometida pelos países ricos. O objetivo é alcançar trilhões de dólares para apoiar a transição para fontes de energia renováveis e para ajudar os países a se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas.
No entanto, a conferência acontece em um momento de grande tensão política global, com a ausência de líderes importantes, como os presidentes da China e da Índia. Além disso, o país anfitrião, o Azerbaijão, é um grande produtor de petróleo e gás, o que torna ainda mais difícil a discussão sobre como acelerar a transição para fontes de energia mais limpas.
O Brasil, por sua vez, chega à COP29 com alguns avanços no campo climático, como a redução no desmatamento da Amazônia e uma diminuição nas suas emissões de gases de efeito estufa. O país pretende fortalecer seu papel na conferência, defendendo metas mais ambiciosas para a redução das emissões e propondo aumentar significativamente o uso de energias renováveis até 2030. O Brasil também deve apresentar uma nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) com metas climáticas mais agressivas, focadas tanto na mitigação das emissões quanto na adaptação às mudanças climáticas.
A pressão por ações concretas
O relatório Lacuna de Emissões 2024 da ONU é um alerta crucial para a COP29. Ele aponta que, se as políticas atuais não mudarem, o mundo pode enfrentar um aumento de temperatura de até 3,1 °C até o final do século, o que traria consequências catastróficas para o planeta. Para cumprir o Acordo de Paris e evitar esse aumento de temperatura, seria necessário reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 42% até 2030, um desafio gigantesco diante da atual trajetória de emissões.
Outro grande desafio para a COP29 é finalizar a criação do mercado global de carbono, uma medida prevista no Artigo 6 do Acordo de Paris. Esse mercado será fundamental para reduzir as emissões e financiar a adaptação às mudanças climáticas, permitindo que países e empresas compensem suas emissões investindo em projetos sustentáveis em outras partes do mundo.
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