A Cúpula do G20, que reúne as maiores economias do mundo, inicia nesta segunda-feira (18) no Brasil, trazendo líderes globais para discutir temas cruciais como mudanças climáticas, desigualdade social e governança global. Presidida pelo Brasil, esta edição da cúpula apresenta uma agenda marcada por avanços estratégicos e desafios diplomáticos.
O G20 é um fórum que promove o debate de diversos temas entre países industrializados e emergentes sobre assuntos-chave relacionados à estabilidade econômica global. O grupo apoia o crescimento e o desenvolvimento mundial por meio do fortalecimento da arquitetura financeira internacional e via oportunidades de diálogo sobre políticas nacionais, cooperação internacional e instituições econômico-financeiras internacionais.
A liderança do Brasil no G20
O Brasil assumiu a presidência rotativa do G20 com foco em temas prioritários como a segurança alimentar, o financiamento climático e a retomada da cooperação internacional. Essa postura tem sido elogiada por especialistas, que apontam maior abrangência e compromisso em comparação às lideranças anteriores, como as da Índia em 2023 e da Indonésia em 2022.
Entre os principais legados do Brasil está a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que já conta com o apoio de 41 países e 13 organizações internacionais. A iniciativa busca atingir 500 milhões de pessoas, promovendo impactos concretos no combate às desigualdades globais.
De acordo com Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a estratégia brasileira de evitar polarizações e adotar uma agenda inclusiva, voltada ao Sul Global, tem sido eficaz. “Essa abordagem reduz tensões geopolíticas, como aquelas entre Estados Unidos e China, e fortalece os compromissos do grupo”, explica.
Leia também: Brasil exige reforma na governança global no G20
Desafios das negociações
Apesar dos avanços, a cúpula enfrenta obstáculos significativos. Um dos principais pontos de divergência está na proposta de taxação global dos super-ricos, defendida pelo Brasil como forma de financiar ações contra mudanças climáticas e desigualdades sociais. A medida, que prevê arrecadar US$ 250 bilhões com uma taxa de 2% sobre a fortuna dos bilionários, enfrenta resistência de alguns países, como a Argentina.
A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA também trouxe incertezas. Segundo Pavese, a postura da Argentina, aliada ao novo governo norte-americano, tem dificultado a inclusão da proposta no comunicado final. “O consenso é fundamental no G20, e qualquer oposição pode barrar avanços nessa pauta”, afirma.
Outras divergências incluem a abordagem sobre igualdade de gênero, desenvolvimento sustentável e reformas em organismos multilaterais. Ainda assim, diplomatas avaliam que a chance de um fracasso completo é remota, dado o comprometimento dos membros em buscar acordos.
Prioridades estratégicas e próximos passos
O Brasil tem utilizado a presidência do G20 para pavimentar ações futuras, como a preparação para sediar a COP30 em 2025. A cúpula também é uma oportunidade para discutir reformas em instituições como o FMI e o Banco Mundial, ampliando sua eficiência e capacidade de financiamento.
Além disso, a força-tarefa de mobilização contra mudanças climáticas e a coalizão de planejamento energético global são iniciativas que reforçam o papel do Brasil como articulador em questões de governança climática.
Thais Scharfenberg, especialista em desenvolvimento sustentável, destaca que o envolvimento de atores da sociedade civil tem sido uma inovação positiva na liderança brasileira. “Essas crises demandam soluções coletivas, e o Brasil tem mostrado capacidade de articular compromissos concretos e duradouros”, afirma.
Impactos globais e legado brasileiro
A cúpula de 2024 será lembrada pela tentativa de alinhar ações globais em um momento de múltiplas crises, desde conflitos geopolíticos até emergências climáticas. A presidência brasileira conseguiu manter o foco em questões estratégicas, destacando a importância da cooperação internacional em um cenário cada vez mais fragmentado.
Com o Brasil prestes a presidir o Brics e sediar eventos globais nos próximos anos, o país se consolida como um ator-chave na governança internacional. A Cúpula do G20, ao mesmo tempo que enfrenta desafios, já aponta para um legado de avanços significativos em temas cruciais para o futuro global.