Desafios globais, políticas de Trump e as prioridades de Lula marcam a cúpula no Brasil
A cúpula do G20 deste ano no Brasil reúne líderes das maiores economias do mundo em um cenário de incertezas e grandes expectativas. O evento, que acontece no Rio de Janeiro, destaca temas como as mudanças climáticas, os conflitos armados e o papel dos Estados Unidos na política global. Para Joe Biden, atual presidente americano, a cúpula marca um momento crucial de sua liderança, já que sua gestão se aproxima do fim, com a possível volta de Donald Trump ao poder.
A perspectiva de um novo governo Trump tem gerado preocupações entre os líderes internacionais. Suas promessas de reverter políticas ambientais e alterar a abordagem diplomática dos Estados Unidos contrastam diretamente com as ações de Biden. Mesmo antes de Trump reassumir formalmente, sua influência já se faz sentir nas discussões, reduzindo o impacto das iniciativas atuais de Biden.
Clima e ambiente: prioridades divididas
No campo ambiental, Biden tentou reafirmar seu compromisso com a sustentabilidade. Durante uma visita histórica à Amazônia, anunciou uma contribuição de 50 milhões de dólares ao Fundo Amazônia, destacando a irreversibilidade da “revolução da energia limpa” nos Estados Unidos. Apesar disso, Trump sinalizou uma abordagem oposta, prometendo suspender regulações ambientais e ampliar a exportação de gás natural.
Essas posições divergentes deixam dúvidas sobre o futuro das políticas climáticas americanas. No G20, a busca por financiamento climático é central. Os países participantes, que representam 85% do PIB global e 80% das emissões de gases do efeito estufa, enfrentam dificuldades para chegar a um consenso. O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou para que os líderes demonstrem liderança e façam concessões, alertando que “o fracasso não é uma opção” em meio a recordes históricos de temperatura global.
O Brasil, que lidera a cúpula, tem buscado mediar as discussões. No entanto, países emergentes, incluindo o anfitrião, se recusam a contribuir financeiramente para os fundos climáticos, o que mantém as negociações estagnadas. Ainda assim, há esperança de que os avanços no G20 possam destravar diálogos na COP29, realizada em Baku, Azerbaijão.
Conflitos globais e a postura americana
Além do clima, os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio têm dominado parte das discussões. Recentemente, a Ucrânia sofreu um dos maiores ataques russos dos últimos meses. Em resposta, Biden autorizou o uso de mísseis americanos de longo alcance por Kiev, aumentando as tensões entre os países.
Entretanto, com a possível volta de Trump, aliados europeus temem mudanças na postura americana em relação à Ucrânia. Trump já criticou o apoio militar a Kiev, o que pode enfraquecer a resistência ucraniana e alterar o equilíbrio no conflito.
Lula e as prioridades sociais no G20
Como anfitrião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca trazer um equilíbrio às discussões. Ele afirmou que não quer que as guerras dominem os debates, preferindo focar em questões sociais, como a pobreza e a desigualdade. Lula anunciou a criação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa para mobilizar recursos internacionais no combate a esses problemas.
Outra proposta do Brasil é um imposto global para os “super-ricos”. A ideia já recebeu apoio inicial dos ministros das Finanças do G20 e busca avançar como uma solução para reduzir desigualdades.
A posição argentina e o fator Milei
A presença do recém-eleito presidente argentino Javier Milei também trouxe um elemento de incerteza à cúpula. Conhecido por suas posições ultraliberais, Milei criticou o que chama de “agenda ‘woke'” do multilateralismo e ordenou que a delegação argentina deixasse as negociações climáticas na COP29.
Milei, aliado de Trump, reforça sua oposição às pautas ambientais e sociais promovidas no G20, o que aumenta as tensões com outros líderes da cúpula. Sua postura será decisiva para o posicionamento da Argentina nos próximos anos.
Xi Jinping e a reconfiguração global
Outro destaque do G20 é o papel da China. O presidente Xi Jinping se reuniu recentemente com Biden no Peru, em um encontro que abordou questões de comércio e clima. Xi também terá uma reunião com Lula em Brasília, reforçando a parceria entre Brasil e China no contexto do Sul global.
Especialistas apontam que, diante de um cenário global cada vez mais imprevisível, países em desenvolvimento têm mais espaço para articular suas agendas. Xi, que busca fortalecer a influência da China, vê no G20 uma oportunidade de avançar nessa direção, especialmente com a incerteza em torno da política americana.
Legado e incertezas para Biden
Com apenas algumas semanas restantes em sua gestão, Biden busca consolidar seu legado. Ele planeja visitar Angola em dezembro, marcando sua primeira viagem oficial à África. No entanto, críticos afirmam que esse gesto é mais simbólico do que prático, já que os Estados Unidos perderam espaço para China e Rússia no continente nos últimos anos.
As ações de Biden no G20 refletem seus esforços para reafirmar a liderança americana em um momento de transição política. Contudo, a iminente volta de Trump lança uma sombra sobre esses avanços, criando um clima de incerteza para o futuro das relações internacionais.
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