Em seu discurso no segundo e último dia da Cúpula de Líderes do G20, o presidente reafirmou que o Brasil eliminará o desmatamento até 2030
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, nesta terça-feira (19), que os países desenvolvidos do G20, grupo que reúne as principais economias globais, antecipem suas metas de neutralidade climática, atualmente previstas para 2050, para um período entre 2040 e 2045, com o objetivo de combater o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Lula destaca a importância de acelerar os esforços climáticos e sugere aos membros desenvolvidos do G20 que antecipem suas metas de neutralidade de 2050 para 2040 ou até 2045, durante a abertura da terceira sessão da reunião de líderes do G20, que abordou desenvolvimento sustentável e transição energética. Neutralidade climática significa compensar todas as emissões de gases poluentes, por meio de ações como o sequestro de carbono.
A agenda climática é uma das prioridades da presidência brasileira no G20, que conclui a cúpula de dois dias nesta terça-feira. Lula reconheceu que todos os países devem tomar medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. “Embora nem todos avancemos na mesma velocidade, todos podemos dar um passo adicional”, afirmou.
O presidente aproveitou a presença de líderes globais para cobrar mais responsabilidade dos países industrializados, que têm histórico de maiores emissões de gases de efeito estufa. “A nossa orientação continua sendo o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Isso é essencial para a justiça climática”, ressaltou Lula, que ainda acrescentou: “Sem que as nações ricas assumam suas responsabilidades históricas, elas não terão credibilidade para exigir mais ambição de outros países”.
Iniciativas passadas e desafios atuais
Lula lembrou que a Rio 92 foi palco do nascimento de três convenções das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, biodiversidade e desertificação. No entanto, alertou que, após três décadas, o mundo vive o ano mais quente da história, com desastres naturais como enchentes, incêndios e secas mais intensos e frequentes.
O presidente reconheceu que as ações anteriores ajudaram a evitar um cenário pior, mas destacou que é necessário “fazer mais e fazer melhor”. “Não temos mais tempo a perder”, afirmou, observando que acordos como o Protocolo de Quioto (1997), a COP15 (2009) e o Acordo de Paris (2015) ainda não trouxeram os resultados necessários.
Ele apontou que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões de gases do efeito estufa e, ciente do papel essencial do grupo, o Brasil lançou a Força-Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança Climática. A iniciativa reúne ministros de Finanças, Meio Ambiente e Clima, Relações Exteriores, além de presidentes de Bancos Centrais, para discutir como enfrentar o desafio climático.
Lula reafirmou a importância de elevar o nível de ambição da próxima rodada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e pediu que os países em desenvolvimento também adotem metas abrangentes que contemplem toda a economia e todos os gases de efeito estufa. “As novas NDCs devem estar alinhadas à meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C”, afirmou.
Erradicação do desmatamento
O presidente também enfatizou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 90% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis, e é líder na produção de biocombustíveis, além de avançar na geração de energia eólica, solar e hidrogênio verde.
Lula destacou que a maior parte da redução das emissões brasileiras virá da diminuição do desmatamento, que já caiu 45% nos últimos dois anos, e reafirmou: “Erradicaremos o desmatamento até 2030”. Ele pediu que o mundo reconheça o papel das florestas e a contribuição dos povos indígenas e comunidades tradicionais para a preservação ambiental. Nesse sentido, agradeceu ao G20 pelo apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que vai remunerar países em desenvolvimento que mantêm suas florestas.
Entretanto, o presidente alertou que as iniciativas de conservação serão ineficazes se a comunidade internacional não se unir para combater o aquecimento global. “Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não fizer a sua parte”, afirmou, ressaltando também a importância de conservar os oceanos.
Lula criticou o negacionismo e a desinformação e destacou o trabalho do Brasil junto à ONU e à Unesco em uma Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre Mudanças Climáticas.
Em relação ao Acordo de Paris, o presidente criticou os compromissos não cumpridos pelos países desenvolvidos e reiterou a necessidade de um financiamento internacional para ajudar os países em desenvolvimento a combater o aquecimento global. “Não há ambição que se sustente sem meios de implementação. Em Paris, falávamos em bilhões de dólares por ano, e agora falamos em trilhões. Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos, enquanto o planeta sofre”.
COP30 e os próximos passos
Lula lembrou que a COP29, que ocorre até o próximo dia 22, deve ser vista como um passo importante para alcançar acordos climáticos mais ambiciosos. “Não podemos adiar para Belém o que precisa ser resolvido em Baku”, disse, referindo-se à capital paraense, onde será realizada a COP30 em 2025. “A COP30 será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático. Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada”, incentivou.
Ele também convidou a comunidade internacional a considerar a criação de um Conselho de Mudança Climática na ONU, para integrar diferentes atores e processos que, segundo ele, estão atualmente fragmentados. “A esperança se renova a cada compromisso e ato de coragem em defesa da vida e da preservação das condições que nos foram dadas”, concluiu.
Sobre o G20
O bloco é composto por 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e da União Africana. Esses países representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população mundial.
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