Entre os dias 14 e 16 de novembro de 2024, o G20 Social reuniu organizações da sociedade civil, conselhos e órgãos de governo nos galpões da zona portuária do Rio de Janeiro. Com a proposta de discutir problemas globais e apresentar soluções aos líderes do G20, o evento colocou em destaque pautas frequentemente ignoradas, como igualdade étnico-racial, impactos das tragédias ambientais para pessoas trans e a situação da população em vulnerabilidade extrema.
A iniciativa integrou a programação da cúpula do G20, que reúne as maiores economias do mundo, a União Europeia e a União Africana. Entre os dias 18 e 19 de novembro, os líderes desses países discutirão propostas para questões de interesse mundial.
Um novo objetivo para a igualdade racial
Na sexta-feira, 15, o governo brasileiro propôs a criação de um 18º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), voltado para a igualdade étnico-racial. A ideia é enfrentar o racismo estrutural e promover um desenvolvimento inclusivo para pessoas de todas as raças e etnias. O novo ODS complementaria os 17 Objetivos da Agenda 2030 da ONU, que já orientam políticas públicas e ações globais.
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Ministras como Anielle Franco (Igualdade Racial), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania) enfatizaram a necessidade de combater o racismo estrutural, valorizar os povos indígenas e negros e criar programas que promovam mudanças sociais concretas. A iniciativa também recebeu elogios de Nokukhanya Jele, assessora especial da Presidência da África do Sul, que assume a liderança do G20 em 2025.
Tragédias ambientais e o impacto na população trans
Outro tema de destaque no G20 Social foi a transfobia ambiental. O debate trouxe relatos sobre como pessoas trans sofrem em tragédias climáticas, enfrentando preconceito em abrigos e dificuldades no acesso a serviços básicos.
O tema ganhou visibilidade após as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, quando pessoas trans relataram discriminação, como o desrespeito ao nome social e a impossibilidade de acessar cestas básicas em quarteis.
Keila Simpson, vice-presidente da ABGLT, destacou que as periferias, onde a população trans está concentrada, são desproporcionalmente afetadas por desastres. Bruna Benevides, presidente da Antra, reforçou a urgência de incluir essas questões em políticas públicas para minimizar os impactos da discriminação em crises.
A vulnerabilidade da população em situação de rua
Com 6,8 milhões de pessoas em situação de rua nos países do G20, essa realidade foi tema central de discussões no evento. Líderes do Movimento Nacional da População de Rua propuseram a criação de um novo ODS para abordar as especificidades dessa condição. A diversidade entre as pessoas em situação de rua foi destacada, especialmente a vulnerabilidade de mulheres, que enfrentam riscos de violência institucional e sexual.
Maralice dos Santos, coordenadora do movimento no Rio de Janeiro, enfatizou que a ampliação de planos nacionais para a população de rua é urgente. A assistente de Direitos Humanos da ONU, Aisha Sayuri, apontou que essas condições refletem desigualdades estruturais e precisam ser tratadas como prioridade global.
Um legado de inclusão e diálogo
O G20 Social se mostrou um espaço essencial para dar voz a grupos marginalizados e propor soluções para problemas globais. A inclusão de temas como igualdade racial, transfobia ambiental e a situação da população de rua nas pautas do G20 sinaliza um avanço para tornar esses desafios visíveis no cenário internacional.
Ao final do evento, ficou clara a necessidade de fortalecer as ações governamentais e o papel da sociedade civil na construção de um futuro mais justo e inclusivo.
Qual o objetivo do G20 Social?
O objetivo do G20 Social é ampliar a participação de atores não-governamentais nas atividades e nos processos decisórios do G20, que durante a presidência brasileira tem por lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”.