O presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou presença na cerimônia de encerramento da Cúpula Social do G20, realizada no Rio de Janeiro, neste sábado (16). Durante a cerimônia, Lula destacou a importância da inclusão da sociedade civil nas discussões globais, um ponto central do evento, que reuniu representantes de movimentos sociais, grupos de engajamento e líderes políticos.
Na agenda do sábado, o presidente também se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, para tratar de questões relacionadas ao clima e à governança global. Já na segunda-feira (18), o presidente irá presidir a Cúpula de Líderes do G20, que reunirá os chefes de Estado das maiores economias do mundo para discutir temas econômicos e geopolíticos.
Reunião bilateral com António Guterres
Antes de participar da cerimônia de encerramento da Cúpula Social, Lula manteve sua primeira reunião bilateral com António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse encontro foi um dos principais momentos da agenda do presidente brasileiro, destacando a importância da diplomacia multilateral e do papel central que o Brasil busca exercer nas questões globais, principalmente nas áreas de segurança alimentar, mudança climática e reforma das instituições internacionais.
Durante a conversa, Lula pediu que o G20 Social fosse mantido nas próximas edições do encontro das maiores economias do mundo, ampliando a inclusão das vozes da sociedade civil nas discussões de políticas globais.
Encerramento da Cúpula Social do G20
O evento teve um caráter inclusivo, permitindo a participação direta de representantes da sociedade civil nas discussões que normalmente envolvem apenas governantes e especialistas. No encerramento da Cúpula Social, Lula fez um discurso no qual reafirmou o compromisso do Brasil com a promoção de uma agenda global mais justa e inclusiva.
Ele declarou que o G20 deveria ser um evento rotineiro, não restrito a encontros esporádicos: “O G20 precisa acontecer todos os dias, pois existem 733 milhões de pessoas passando fome”, destacou o presidente, sublinhando a urgência de ações concretas para combater a pobreza e a desigualdade no mundo.
A Declaração Final da Cúpula Social foi lida e aprovada simbolicamente por representantes de movimentos sindicais e outros grupos, refletindo as demandas e propostas da sociedade civil. O documento incluiu sugestões como a “taxação progressiva dos super-ricos”, alertas sobre a ameaça à democracia pela desinformação, e uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, com uma maior representação dos países do Sul Global.
Essa declaração, que será entregue aos líderes do G20, contém propostas que, segundo Lula, visam transformar as relações internacionais e garantir que as mudanças econômicas e políticas realmente beneficiem as populações mais vulneráveis.
Propostas para reformar a governança global
A proposta de Lula para a criação do G20 Social foi inédita e teve como objetivo garantir que as discussões sobre o futuro do planeta não fossem conduzidas apenas por uma elite de economistas e burocratas, mas também por aqueles que representam as demandas da população global, especialmente das regiões mais marginalizadas. Durante a Cúpula Social, diversos grupos de engajamento puderam interagir com ministros das finanças, presidentes de bancos centrais e até mesmo com representantes de empresas globais.
Entre as propostas discutidas, a Declaração Final destacou a necessidade de reformas nas instituições internacionais, como a ONU e o FMI, para que elas representem de maneira mais equitativa os países em desenvolvimento, especialmente os do Sul Global.
Além disso, foi enfatizada a importância de uma “transição justa” para um modelo econômico sustentável, que leve em consideração os impactos das mudanças climáticas e as necessidades das populações mais pobres.
Lula também abordou temas como a redução do custo de vida e a promoção de jornadas de trabalho mais justas, questões que vêm ganhando destaque no Congresso brasileiro e nas redes sociais. Ele ressaltou que o G20 deve se concentrar em medidas que busquem o equilíbrio entre os interesses do mercado e as necessidades da população, evitando retrocessos e a erosão de direitos trabalhistas.
Foco nas mudanças climáticas e na Amazônia
A questão ambiental foi uma das pautas centrais do evento, com Lula chamando a atenção para a crise climática e a preservação da Amazônia. Em seu discurso, o presidente brasileiro fez um apelo para que os países ricos assumam a responsabilidade financeira pela proteção da floresta amazônica, destacando que a preservação da Amazônia é fundamental para combater as mudanças climáticas.
“Agora é a hora de a Amazônia dizer ao mundo o que ela precisa. O mundo precisa saber que, sob cada árvore, há um ser humano – indígena, seringueiro, pescador. Para proteger nossa floresta, essas pessoas precisam se alimentar”, afirmou Lula.
O presidente também lembrou que o Brasil sediará a Conferência do Clima (COP) em 2025, e cobrou dos países ricos uma contribuição mais significativa para as iniciativas de preservação ambiental, especialmente para a Amazônia. Ele sublinhou que a sociedade civil tem um papel fundamental em pressionar os governos para que cumpram suas promessas em relação à proteção ambiental.
Declarações de líderes internacionais
Outros líderes internacionais também participaram da Cúpula Social do G20, incluindo Tawakkol Karman, ativista iemenita e ganhadora do Nobel da Paz em 2011, que enfatizou a urgência de reformas no Conselho de Segurança da ONU e no FMI. Karman também demonstrou apoio a Lula, destacando sua postura firme em relação à justiça social e sua condenação ao genocídio cometido por Israel contra a Palestina.
Embora o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, não tenha comparecido ao evento, ele foi representado por Ronald Lamola, ministro das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul. Lamola também expressou seu compromisso com a ampliação das discussões no G20, ressaltando a importância de incluir as perspectivas de todos os países, especialmente os do Sul Global.
O futuro do G20 Social
A realização da Cúpula Social do G20 no Brasil estabelece um precedente importante para futuras edições do evento. O presidente Lula manifestou sua intenção de continuar a promover esse espaço de diálogo social e político, e enfatizou que o próximo G20 Social, que ocorrerá na África do Sul, deve ser ainda maior e mais eficaz do que a edição brasileira.
Para o futuro, espera-se que o G20 Social continue a ser um fórum de pressão para a implementação de políticas que combatam a fome, a pobreza e as desigualdades, além de promover uma agenda de sustentabilidade e justiça social global.
Assim, a Cúpula Social do G20, sob a liderança de Lula, mostrou que a participação ativa da sociedade civil pode e deve ter um papel crucial nas discussões globais, oferecendo alternativas concretas para um mundo mais justo e equilibrado.
Leia também: Estatais propõem ações ao G20 para combater a pobreza e promover a sustentabilidade