Como Las Vegas se transformou em uma cidade sustentável?

Las Vegas, a cidade famosa por seus cassinos e hotéis luxuosos, está investindo pesadamente em energia solar, gestão eficiente de água e construção de edifícios verdes. Impulsionada pela Lei da Recuperação de 2009, Las Vegas está demonstrando que é possível conciliar crescimento econômico com a preservação do meio ambiente. A cidade está se tornando um exemplo para outras metrópoles, mostrando que a sustentabilidade pode ser um motor de desenvolvimento e inovação.

Vista de Las Vegas destacando práticas de sustentabilidade e energia solar.
Las Vegas investe em energia solar e gestão de água para se tornar referência em sustentabilidade e inovação no deserto |Foto: Reprodução/Freepik

A população de Las Vegas cresceu de forma acelerada nas últimas décadas, o que naturalmente aumentaria a demanda por água. No entanto, a cidade conseguiu reduzir significativamente o consumo desse recurso essencial. Até 2030, a ambiciosa meta é que 50% da energia consumida em Nevada seja proveniente de fontes renováveis.

A Las Vegas Strip, coração pulsante da cidade, tem sido pioneira na adoção de práticas sustentáveis. Os cassinos e resorts de luxo que compõem essa famosa avenida mais que dobraram seus esforços para utilizar energia renovável. Um incentivo crucial para essa transformação foi um programa municipal que ofereceu redução de 50% do imposto predial por dez anos para os estabelecimentos que investissem em projetos sustentáveis.

O sucesso dessas iniciativas é evidente nos números. A maioria dos grandes hotéis e cassinos da Strip já ultrapassa a meta estadual de gerar 40% de sua energia a partir de fontes renováveis. Essa rápida evolução demonstra o compromisso de Las Vegas com a sustentabilidade e a sua capacidade de se adaptar a novos desafios.

A transformação de Las Vegas em uma cidade mais sustentável não seria possível sem o apoio de políticas públicas e regulamentações mais rigorosas. A Lei da Recuperação de 2009, por exemplo, estabeleceu metas ambiciosas para a redução do consumo de energia e a promoção de fontes renováveis no estado de Nevada.

A Strip, por sua vez, tem respondido a esses estímulos, implementando uma série de medidas para aumentar sua eficiência energética. A integração de painéis solares, a otimização do uso da água e a adoção de materiais de construção mais sustentáveis são apenas alguns exemplos dos esforços em curso.

Como destaca Steffen Lehmann, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Las Vegas, esses avanços são resultado de uma combinação de iniciativas privadas e políticas públicas que visam tornar Las Vegas uma cidade mais sustentável.

Cidade solar

Las Vegas é a segunda cidade dos Estados Unidos em capacidade solar per capita. Ela só fica atrás de Honolulu, no Havaí. Para Lehmann, “a Cidade do Pecado poderia ser chamada de Cidade Solar”. E os hotéis estão capitalizando os 320 dias de sol que a cidade recebe todos os anos.

A MGM Resorts International, um dos maiores conglomerados hoteleiros de Las Vegas, deu um passo importante em direção à sustentabilidade ao construir sua própria usina solar de 100 MW. Essa megaestrutura, uma das maiores do tipo nos Estados Unidos, é capaz de gerar energia suficiente para abastecer cerca de 27 mil residências e alimenta 11 dos seus hotéis na cidade.

No entanto, mesmo com esse investimento significativo, a empresa ainda busca fontes adicionais de energia renovável para atender à demanda 24 horas por dia de seus estabelecimentos. O objetivo ambicioso da MGM é alcançar 100% de energia renovável em suas operações até 2030.

Além da geração de energia solar, a MGM Resorts também enfrenta o desafio da escassez hídrica na região do deserto de Mojave. Segundo Michael Gulich, vice-presidente de sustentabilidade ambiental da empresa, a conservação da água é fundamental para garantir a sustentabilidade de suas operações em um ambiente tão árido. A empresa tem implementado diversas iniciativas para reduzir o consumo de água, como sistemas de reutilização e tecnologias eficientes de irrigação.

Ele afirma que os hotéis da MGM na Strip já economizaram 60,5 bilhões de litros de água desde 2007, graças às suas políticas “agressivas” de conservação. Elas incluem a substituição da grama por paisagismo adequado ao deserto, instalação de torneiras com uso eficiente de água em todas as unidades e a reutilização da água em aquários e nas famosas fontes do Bellagio.

“O consumo de água per capita [em Las Vegas] ainda é alto demais”, alerta Lehmann. “Houve simplesmente muito desperdício antes que [os hotéis] começassem a economizar água em 2007.”

Em 2023, o Resorts World Las Vegas alcançou a completa autonomia energética através de fontes renováveis. Apenas dois anos após sua inauguração, o resort de 3.500 apartamentos tornou-se totalmente abastecido por energia solar, geotérmica e eólica, graças à parceria com a concessionária NV Energy.

Para atingir essa meta, a empresa investiu mais de US$ 1 bilhão em diversas iniciativas de eficiência energética. Além disso, a construção do hotel contou com a reutilização de 13 mil toneladas de aço provenientes de um edifício abandonado, demonstrando o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a economia circular.

“O Resorts World apresenta números impressionantes de sustentabilidade, mas ele representa uma anomalia entre os hotéis da Strip”, segundo Lehmann. “Muitos deles apresentam baixo desempenho, em termos de responsabilidade ambiental.”

As iniciativas importantes em termos de economia de água e geração de energia solar adotadas por muitos resorts em Las Vegas são “etapas necessárias para uma cidade no deserto em rápido crescimento”, segundo ele.

Trabalho em andamento

Apesar dos avanços significativos em direção à sustentabilidade, Las Vegas ainda enfrenta desafios consideráveis. A cidade, conhecida por seu alto consumo de energia, tem como principais fontes de emissão de gases do efeito estufa o setor de transportes, especialmente carros e caminhões, e o uso excessivo de ar-condicionado, devido ao clima árido.

Para enfrentar esses desafios, Las Vegas tem investido em diversas iniciativas, como a expansão da geração de energia solar e a otimização do consumo de água. A reciclagem de mais de 97% da água consumida na cidade é um exemplo notável, especialmente considerando a dependência do rio Colorado, um recurso hídrico cada vez mais escasso.

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