Cabines de telemedicina: acesso à saúde em comunidades carentes de SP

Com foco na atenção primária, a iniciativa da healthtech brasileira H.ai, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, está revolucionando o acesso à saúde em bairros de São Paulo. O projeto instalou cabines de telemedicina gratuitas em Sapopemba, na zona leste, e no Parque Dorotéia, na zona sul. A expectativa é atender pelo menos 7.200 pessoas nos próximos seis meses, oferecendo consultas e exames clínicos essenciais.

Um projeto de impacto social

Reginaldo de Oliveira Manoel, conhecido como Gavião, líder comunitário em Sapopemba, perdeu a visão devido a uma diabetes não diagnosticada. Sua experiência pessoal o levou a compreender a importância do acesso à saúde preventiva.

Foi a partir desse entendimento que, em parceria com o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Instituto Coalizão Saúde e do Conselho do Hospital Albert Einstein, surgiu o projeto “Saúde na Favela”.

Desde junho de 2024, a iniciativa realiza cerca de 600 consultas mensais e 15 tipos de exames, atendendo gratuitamente a população local. As cabines contam com tecnologia adaptada à realidade brasileira, permitindo que pacientes realizem exames como eletrocardiogramas, medições de glicemia e análise de garganta, ouvidos e pele, com resultados em tempo real.

Como funcionam as cabines de telemedicina?

As cabines foram desenvolvidas com base em modelos chineses e adaptadas pela H.ai. Equipadas com dispositivos tecnológicos e acompanhadas por técnicos de enfermagem, elas conectam os pacientes a médicos por videochamadas. Após a consulta, os pacientes podem receber receitas médicas, serem encaminhados para especialistas ou retirar medicamentos em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

A AstraZeneca investiu R$ 250 mil para apoiar a operação, cobrindo custos de profissionais e manutenção. Além disso, o projeto está alinhado ao Sistema Único de Saúde (SUS), permitindo a integração com serviços públicos.

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Impacto e demanda crescente

Em média, 30 consultas são realizadas diariamente nas cabines. O sucesso inicial do projeto foi evidente: todos os horários da unidade no Parque Dorotéia foram preenchidos no primeiro dia de funcionamento. Mulheres são o público predominante, mas a região também registra alta demanda masculina, impulsionada por eventos comunitários como a Copa de futebol de várzea.

As consultas são realizadas durante o horário de funcionamento das estruturas sociais locais, geralmente das 9h às 18h, com atendimento aos fins de semana para atender a alta demanda.

Benefícios para a saúde pública

A iniciativa busca reduzir a sobrecarga do sistema público de saúde, prevenindo doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Segundo o Ministério da Saúde, essas condições representam a principal causa de morte no Brasil. Aproximadamente 80% das DCNT poderiam ser evitadas com acompanhamento médico adequado, reforçando a importância de iniciativas como a das cabines de telemedicina.

Além disso, dados de 2023 mostram que mais de 700 mil brasileiros morreram devido a essas doenças, enquanto cerca de 50% da população convivia com ao menos uma condição crônica diagnosticada.

O futuro da telemedicina no Brasil

A telemedicina cresceu 172% no Brasil em 2023, com mais de 30 milhões de consultas remotas realizadas, ampliando o acesso à saúde desde a pandemia | Foto: Reprodução/Canva
A telemedicina cresceu 172% no Brasil em 2023, com mais de 30 milhões de consultas remotas realizadas, ampliando o acesso à saúde desde a pandemia | Foto: Reprodução/Canva

A parceria entre a H.ai e a AstraZeneca reflete um modelo de cooperação público-privada que visa expandir o acesso à saúde. O presidente da AstraZeneca Brasil, Olavo Corrêa, acredita que o projeto poderá inspirar novas políticas públicas no SUS, caso os dados dos próximos meses comprovem a eficácia do modelo.

O uso da telemedicina cresceu exponencialmente no Brasil desde a pandemia de Covid-19. Em 2023, mais de 30 milhões de consultas foram realizadas remotamente, um aumento de 172% em relação ao período de 2020 a 2022. Além disso, o mercado de startups de saúde (healthtechs) deve movimentar R$ 7 bilhões até 2025, segundo a ABStartups e o Distrito Datalab.

Uma solução inclusiva

Loraine Bugard, cofundadora da H.ai, destaca que a tecnologia não é apenas uma inovação, mas um instrumento de inclusão social. “As pessoas se sentem vistas e cuidadas, mesmo em uma consulta remota”, afirma.

A proposta também busca promover equidade no acesso à saúde, especialmente em regiões de baixa renda. Para Bugard, parcerias público-privadas são essenciais para fortalecer o SUS, garantindo que um sistema sobrecarregado possa oferecer atendimento de qualidade para a maioria da população, que não tem plano de saúde.

A iniciativa da H.ai e da AstraZeneca é um exemplo de como a tecnologia pode transformar a saúde pública no Brasil, ampliando o acesso e prevenindo problemas de saúde evitáveis. Com resultados promissores, o modelo das cabines de telemedicina tem o potencial de ser incorporado em políticas públicas, beneficiando ainda mais pessoas no futuro.

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