Agronegócio impulsiona balança comercial brasileira em 2025

O agronegócio brasileiro deve continuar desempenhando um papel crucial na balança comercial do país em 2025. As exportações de produtos como carnes, café, milho e açúcar devem alcançar impressionantes US$ 126,8 bilhões (R$ 752,82 bilhões), quase o dobro do saldo comercial total projetado para o ano, que é de US$ 67 bilhões (R$ 397,31 bilhões).

Este desempenho sólido, mais uma vez, garantirá que o Brasil evite um déficit nas transações comerciais internacionais, como tem acontecido nos últimos anos.

Em uma análise detalhada das projeções para o agronegócio, o economista Fabio Silveira, da consultoria MacroSector, aponta ao Estadão que a força das exportações de produtos do campo é um fator determinante para a manutenção do equilíbrio nas contas externas do país.

“Desde 2022, não havia uma relação tão forte entre o saldo do agronegócio e o total da balança comercial”, comenta Silveira, destacando que, no ano passado, o saldo comercial do agronegócio representou 1,6 vezes o total da balança comercial.

Exportações de carnes, café e milho em alta

Entre os principais produtos responsáveis por esse desempenho positivo, o agronegócio se destaca com a exportação de carnes, café e milho. As projeções para 2025 indicam que a exportação de carnes – incluindo frango, suínos e bovinos – deve atingir um saldo de US$ 25,6 bilhões (R$ 151,81 bilhões), superando os US$ 24,2 bilhões (R$ 143,51 bilhões) registrados em 2024. Já o milho, que tem apresentado uma recuperação no preço global, também deve gerar um saldo significativo de US$ 9,5 bilhões (R$ 56,34 bilhões), com um aumento de US$ 1,6 bilhão (R$ 9,49 bilhões) em relação ao ano passado.

Outro destaque é o café, que se mantém como uma das estrelas do agronegócio brasileiro. Em 2024, o saldo comercial do café em grão atingiu um recorde de US$ 11,3 bilhões (R$ 67,08 bilhões), e para 2025 as projeções indicam um saldo ainda mais expressivo, de US$ 12,8 bilhões (R$ 75,98 bilhões). A alta demanda mundial, especialmente da China, aliada ao aumento dos preços, tem sido fundamental para esse desempenho.

O impacto positivo do agronegócio na economia brasileira

Cerca de 1% das propriedades rurais detém cerca de 50% de toda a área agrícola no país | Foto: Reprodução/Canindé Soares

Embora o agronegócio continue a ser o principal motor da balança comercial brasileira, é necessário que o país busque estratégias para diversificar suas exportações e fortalecer setores tecnológicos e industriais
Embora o agronegócio continue a ser o principal motor da balança comercial brasileira, é necessário que o país busque estratégias para diversificar suas exportações e fortalecer setores tecnológicos e industriais | Foto: Reprodução/Canindé Soares

Além de ajudar a manter a balança comercial do país no azul, o vigoroso desempenho do agronegócio traz benefícios adicionais para a economia brasileira. O acúmulo de reservas internacionais, com as exportações de commodities, tem sido crucial para estabilizar o valor do real frente ao dólar, especialmente nos últimos meses, quando a moeda brasileira sofreu forte desvalorização.

“Essa acumulação de reservas ajudou a conter a alta do dólar e evitou que a moeda americana alcançasse os R$ 7”, afirma Silveira. Isso tem sido particularmente importante para mitigar os impactos da inflação, que, embora tenha superado o teto da meta de 4,5%, não apresenta sinais de descontrole imediato.

Desafios a longo prazo: dependência das commodities

Apesar dos resultados positivos no curto prazo, a forte dependência do Brasil das exportações de matérias-primas, como soja, café e carnes, gera preocupações em relação ao crescimento sustentável da economia. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, alerta para o risco de o país não gerar empregos qualificados suficientes devido à baixa complexidade das exportações.

“Ao exportarmos commodities, apenas embarcamos o que é decidido no mercado externo. A economia do país precisa diversificar suas exportações para gerar mais empregos qualificados e dinamismo”, observa Castro ao Estadão.

Segundo ele, a falta de investimentos na indústria e a fragilidade do setor têm sido fatores limitantes para o crescimento do Brasil. O país apresenta um déficit de US$ 135 bilhões (R$ 800,55 bilhões) nas exportações de bens manufaturados, o que resultou na perda de cerca de 4 milhões de empregos qualificados no ano passado.

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Desafios do setor de bens de consumo e tecnologia

Para 2025, a projeção é que o Brasil enfrente um déficit de US$ 13,1 bilhões (R$ 77,78 bilhões) nas exportações de bens de consumo, como máquinas e equipamentos. A previsão é de que as importações desse setor aumentem de US$ 81,2 bilhões (R$ 481,42 bilhões) em 2024 para US$ 87,8 bilhões (R$ 520,07 bilhões) em 2025, refletindo uma disparidade crescente entre as importações e exportações de bens mais sofisticados em termos de tecnologia.

A indústria de bens de capital, que abrange equipamentos e máquinas de alta tecnologia, também deve enfrentar um déficit considerável, representando a maior parte do desequilíbrio nas contas comerciais do país. Isso reflete a dificuldade do Brasil em gerar competitividade nesse setor, essencial para um crescimento mais robusto e sustentável.

Perspectivas para o futuro

Apesar dos desafios relacionados às exportações de produtos manufaturados, um setor que se destaca positivamente é o de petróleo e derivados. Em 2024, o Brasil superou a soja em exportação de petróleo, e as expectativas para 2025 indicam que o superávit será mantido, com uma previsão de saldo comercial de US$ 21,1 bilhões (R$ 125,58 bilhões).

Este crescimento reflete a forte demanda global por petróleo, especialmente de países como os Estados Unidos e a China, e representa uma oportunidade para o Brasil se consolidar ainda mais como um grande player no mercado internacional.

O futuro do agronegócio e a diversificação econômica

Embora o agronegócio continue a ser o principal motor da balança comercial brasileira, é necessário que o país busque estratégias para diversificar suas exportações e fortalecer setores tecnológicos e industriais. Isso garantirá um crescimento econômico mais equilibrado e sustentável, que não dependa exclusivamente das flutuações dos preços das commodities.

O cenário para 2025 é de um Brasil com perspectivas positivas no agronegócio, mas que também enfrenta desafios estruturais que exigem atenção. O futuro da economia brasileira dependerá da capacidade de inovar e expandir sua base exportadora, diversificando suas fontes de receita e gerando mais empregos qualificados.

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