Crise climática pode causar prejuízo de R$ 8 trilhões nos EUA

As mudanças climáticas já estão afetando diretamente a economia global. Nos Estados Unidos, os impactos são cada vez mais evidentes, principalmente no mercado imobiliário. De acordo com um estudo da empresa First Street, as perdas causadas pelos desastres climáticos podem ultrapassar US$ 1,47 trilhão (aproximadamente R$ 8,38 trilhões). Esse prejuízo representa uma parcela significativa do setor, avaliado em US$ 50 trilhões (R$ 294,77 trilhões).

Incêndios em Los Angeles em janeiro de 2025, causaram prejuízo de até US$ 275 bilhões (R$ 1,589 trilhões) |Foto: Reprodução/David Swanson/Reuters

Os principais fatores que impulsionam essa desvalorização são o aumento dos custos de seguro e a mudança no comportamento dos consumidores. As regiões mais vulneráveis a eventos climáticos extremos estão perdendo população e atração econômica, enquanto outras, menos expostas a riscos ambientais, estão se tornando mais valorizadas.

O crescente custo dos seguros

O aumento na frequência e intensidade de furacões, tempestades e incêndios florestais está elevando os custos dos seguros. Com riscos mais altos, as seguradoras estão repassando os custos para os proprietários de imóveis, tornando mais caro viver em certas regiões.

Os estados do sul e oeste dos EUA, conhecidos como “Sun Belt”, ou “Cinturão do Sol” (termo que se refere à região que abrange estados do sul e do sudoeste, com clima quente e ensolarado, como Flórida, Texas e Califórnia), estão entre os mais afetados. Cidades como Miami, Jacksonville, Tampa, Nova Orleans e Sacramento já sofrem os impactos desse aumento. Propriedades nessas áreas estão se tornando cada vez mais difíceis de segurar, o que pode desvalorizar os imóveis e incentivar a migração para regiões menos arriscadas.

Os incêndios florestais na Califórnia, por exemplo, têm causado prejuízos bilionários. O JP Morgan (uma das maiores instituições financeiras e bancos de investimentos do mundo) estima que os danos recentes podem ultrapassar US$ 20 bilhões (R$ 117,9 bilhões). Projeções da AccuWeather indicam perdas econômicas entre US$ 52 bilhões e US$ 57 bilhões (cerca de R$ 307 bilhões).

Migração para regiões mais seguras

O estudo da First Street também projeta que até 2055, cerca de 55 milhões de americanos podem se mudar para áreas menos vulneráveis. A mudança começará de forma mais expressiva a partir de 2025, com a migração de 5,2 milhões de pessoas. Estados como Montana e Wisconsin, localizados no norte dos EUA, devem receber mais moradores por serem menos afetados por eventos climáticos extremos.

Essa redistribuição populacional pode alterar padrões econômicos e a valorização imobiliária nos próximos anos. Regiões tradicionalmente atrativas por seu clima ameno e custo de vida mais baixo podem perder habitantes, enquanto áreas antes menos procuradas podem se tornar novos polos residenciais.

O papel da adaptação climática

Os impactos das mudanças climáticas não são irreversíveis. Medidas de adaptação, como construções mais resistentes a desastres naturais e sistemas de drenagem aprimorados, podem reduzir os prejuízos econômicos.

No entanto, o estudo da First Street não leva em conta essas possíveis soluções, o que significa que os impactos estimados podem ser menores caso haja investimento em infraestrutura resiliente.

Inflação e valorização dos imóveis

Outro fator que pode influenciar os resultados é a inflação. A valorização imobiliária ao longo do tempo pode compensar parte das perdas projetadas, especialmente em mercados mais dinâmicos. Entretanto, os custos elevados de seguros e manutenção podem tornar certos imóveis menos atrativos a longo prazo.

Desastres naturais em 2024 causaram R$ 2 trilhões em prejuízos

O ano de 2024 foi marcado por desastres naturais devastadores em todo o mundo, resultando na morte de 11 mil pessoas e em prejuízos financeiros de US$ 320 bilhões (aproximadamente R$ 2 trilhões). Segundo um relatório da Munich Re, uma das maiores resseguradoras do mundo, furacões, tempestades e inundações foram as principais causas das perdas econômicas e humanas.

Aumento da frequência e intensidade dos desastres

As mudanças climáticas tiveram um papel fundamental na intensificação desses eventos. Em 2024, a temperatura média global atingiu um recorde histórico, ficando cerca de 1,5°C acima dos níveis da era pré-industrial. Esse aquecimento aumentou a quantidade de vapor de água na atmosfera, intensificando tempestades e inundações.

Inundações no Rio Grande do Sul

No Brasil, um dos desastres climáticos mais graves ocorreu no Rio Grande do Sul. Chuvas extremas entre abril e maio causaram inundações severas em diversas regiões do estado. O evento resultou na morte de mais de 100 pessoas e em prejuízos estimados em US$ 7 bilhões (cerca de R$ 42 bilhões). No entanto, apenas uma pequena parcela desse valor, aproximadamente R$ 12 bilhões, estava coberta por seguros.

Estudos apontam que condições climáticas semelhantes às de 2024 se tornaram duas vezes mais prováveis devido ao aquecimento global. Tobias Grimm, cientista climático-chefe da Munich Re, destacou que o aumento das temperaturas intensifica a energia liberada por tempestades, tornando eventos climáticos extremos mais frequentes e severos.

Os maiores desastres de 2024

Nos Estados Unidos, os furacões Helene e Milton foram os eventos mais destrutivos do ano. O furacão Helene atingiu a Flórida em setembro, provocando perdas de US$ 56 bilhões (R$ 285,6 bilhões). Com ventos de até 225 km/h, a maior parte da destruição foi causada pelas inundações que seguiram a tempestade, afetando estados como Geórgia e Carolina do Norte. O evento deixou mais de 200 mortos.

O furacão Milton, por sua vez, causou prejuízos de US$ 38 bilhões e atingiu principalmente a região de Tampa, na Flórida. Os ventos chegaram a 200 km/h, destruindo moradias e infraestruturas essenciais.

Outro desastre de grande impacto ocorreu no Japão, com um terremoto de magnitude 7,5 na costa oeste do país, na virada do Ano Novo de 2023 para 2024. O tremor provocou mais de 200 mortes e gerou prejuízos estimados em US$ 15 bilhões (R$ 86,55 bilhões).

O custo das mudanças climáticas

O estudo da Munich Re reforça que os impactos financeiros dos desastres naturais estão aumentando globalmente. Além da perda de vidas, os danos materiais pressionam os sistemas de seguro, resultando no aumento dos custos para proprietários e empresas.

A frequência crescente de eventos extremos indica a necessidade de maior investimento em infraestrutura resiliente e medidas de adaptação climática. Caso medidas não sejam tomadas, especialistas alertam que os prejuízos continuarão aumentando, afetando não apenas as regiões diretamente atingidas, mas toda a economia global.

Leia também: Brasil aplicou apenas 3% do orçamento para prevenir desastres, diz Greenpeace

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você