Os ataques israelenses contra o Líbano têm causado uma profunda crise no país, afetando não apenas sua economia, mas também a estabilidade social e a segurança de sua população. Em discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova York, nesta segunda-feira (23), Bahia El Hariri, integrante do parlamento libanês e representante do primeiro-ministro Najib Mikati, destacou os efeitos devastadores da recente ofensiva israelense que vitimou quase 500 pessoas, entre elas mulheres e crianças.
Impactos econômicos da ofensiva
Bahia El Hariri enfatizou que os ataques de Israel têm prejudicado gravemente a economia libanesa, que já enfrentava desafios antes mesmo da escalada do conflito. “Isso prejudicou a economia do nosso país e ameaçou nossa ordem social, especialmente porque vários países pediram a seus cidadãos que deixassem nosso país”, afirmou Hariri.
A representante destacou que setores-chave da economia, como o turismo e o comércio, foram diretamente afetados pela insegurança, o que resultou na redução de investimentos e no aumento da fuga de capitais. A crescente incerteza em torno da estabilidade do país levou muitas empresas internacionais a suspenderem suas atividades no Líbano, aprofundando a crise econômica. Além disso, a população libanesa enfrenta a escassez de bens essenciais, devido à interrupção de rotas comerciais e à destruição de infraestruturas, como estradas e portos.
A fuga de pessoas para outras regiões também impactou a economia local, principalmente nas áreas urbanas, onde muitos negócios foram forçados a fechar por falta de consumidores e pela insegurança generalizada. A saída em massa de estrangeiros que residiam ou trabalhavam no Líbano agrava ainda mais o cenário de recessão, já que esses indivíduos representavam uma importante fonte de receita para o país.
Ataques geram crise humanitária e colapso social
Além do impacto econômico, Hariri descreveu uma crise humanitária sem precedentes, com milhares de famílias deslocadas e tentando escapar das áreas de conflito. “Áreas residenciais estão sendo alvo de ataques, e há uma saída em massa de pessoas tentando fugir para a segurança”, relatou. Segundo ela, o governo libanês tem enfrentado dificuldades para lidar com a agressão israelense, com as autoridades trabalhando em diversas frentes, incluindo segurança, saúde e assistência humanitária.
A desordem social causada pelos ataques também preocupa as autoridades. A representante libanesa chamou a atenção para que o caos gerado pelos bombardeios ameaça o tecido social do país, aumentando as tensões internas e exacerbando a já crítica situação política. A destruição de áreas urbanas e a perda de vidas têm gerado um clima de desespero entre a população que vê suas perspectivas de futuro se deteriorarem rapidamente.
Leia também: Resultados da indústria melhoram pelo segundo mês consecutivo, afirma CNI
Em meio a este cenário, El Hariri destacou que a ONU e a comunidade internacional precisam agir rapidamente para conter a escalada do conflito. “Toda a humanidade precisa urgentemente de diálogo para se questionar e tomar consciência dos perigos que ameaçam a paz e a segurança internacionais”, afirmou. Ela também alertou para o fato de que o prolongamento do conflito pode ter consequências devastadoras não apenas para o Líbano, mas para toda a região do Oriente Médio.
Israel e Hezbollah: um conflito de longa data
Os ataques mais recentes de Israel contra o Hezbollah no Líbano foram os mais mortais desde a guerra de 2006. Este conflito, que já dura décadas, tem suas raízes em disputas territoriais e políticas, e envolve o grupo militante Hezbollah que exerce forte influência no sul do Líbano. Israel, por sua vez, considera o Hezbollah uma ameaça à sua segurança, devido aos ataques esporádicos com mísseis lançados contra seu território.
Apesar de acordos de cessar-fogo e negociações intermediadas por potências estrangeiras, o conflito continua a ressurgir de forma cíclica, trazendo graves consequências para civis e economias locais. A ofensiva israelense recente atingiu duramente áreas controladas pelo Hezbollah, o que resulta na morte de centenas de pessoas e na destruição de grande parte da infraestrutura civil.
O papel da ONU e a resposta internacional
Bahia El Hariri pediu à Assembleia Geral da ONU que intensifique os esforços diplomáticos para buscar uma solução pacífica para o conflito. Ela reiterou que o Líbano deseja o apoio da comunidade internacional para aliviar o sofrimento de seu povo e restaurar a estabilidade econômica e social do país.
Entretanto, a resposta da comunidade internacional tem sido limitada até o momento. Embora várias nações tenham condenado os ataques de Israel e se mostrado preocupadas com a escalada da violência, a falta de consenso sobre como lidar com o conflito no Oriente Médio impede avanços significativos. Os Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, têm desempenhado um papel crucial nas negociações, mas também enfrentam críticas por sua postura de apoio incondicional ao governo israelense.
O governo brasileiro, por exemplo, já se manifestou contrariamente aos ataques israelenses, expressando preocupação com a situação no Líbano e pedindo moderação por parte de todas as partes envolvidas no conflito.
Perspectivas futuras
Com a continuidade dos ataques e a deterioração das condições no Líbano, a situação permanece incerta. O país já vinha enfrentando uma grave crise econômica e política, exacerbada pela explosão no porto de Beirute em 2020 e pela pandemia de COVID-19. Agora, com a escalada do conflito com Israel, o futuro do Líbano parece ainda mais sombrio, a menos que a comunidade internacional consiga intervir de maneira eficaz para mediar um acordo de paz duradouro.