Em resposta ao agravamento dos incêndios florestais que já afetam 58% do território brasileiro, o Governo está analisando a possibilidade de abrir um crédito extraordinário fora do teto de gastos para enfrentar a situação.
Essa medida emergencial visa conter os focos de incêndio que estão principalmente concentrados nas regiões da Amazônia e do Pantanal, responsáveis por uma grande parcela da produção de energia e alimentos no país.
De acordo com dados divulgados pela Advocacia Geral da União (AGU), 85% dos focos de incêndio se encontram nessas regiões críticas. A gravidade da situação está relacionada à estiagem que atinge o Brasil e intensifica os riscos de queimadas descontroladas. O secretário de política econômica da Fazenda, Guilherme Mello, ressaltou que o arcabouço fiscal do governo prevê a possibilidade de um crédito extraordinário para situações de calamidade, como já ocorreu com o socorro às enchentes no Rio Grande do Sul em maio deste ano.
“A possibilidade de um crédito extraordinário foi prevista justamente para enfrentar situações de emergência, como as que estamos vivendo agora. Se essa for a estratégia adotada, será totalmente compatível com as regras fiscais estabelecidas”, afirmou Mello durante uma coletiva de imprensa.
Crédito extraordinário e combate às queimadas
A ideia de liberar crédito fora do teto de gastos ganhou força após uma declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, no início da semana. Dino determinou o reforço de tropas federais para conter os incêndios, o que exigirá um aporte financeiro significativo. Em complemento, o Advogado Geral da União, Jorge Messias, anunciou um crédito inicial de R$ 500 milhões destinado ao combate aos focos de incêndio em diversas regiões do país.
Apesar das medidas emergenciais em andamento, Mello destacou que ainda não foi tomada uma decisão final sobre como esse crédito extraordinário será implementado. Ele reforçou, contudo, que o governo federal está comprometido em adotar ações “muito efetivas” e que respeitem os limites do arcabouço fiscal.
“A atuação do governo no Rio Grande do Sul foi exemplar, e esperamos replicar essa eficiência no combate aos incêndios. Embora haja desafios pela frente, as políticas estão dentro dos limites fiscais e têm sido muito bem-sucedidas”, explicou.
Impactos econômicos e inflacionários resultados dos incêndios
Além da destruição ambiental, as queimadas também podem gerar consequências econômicas significativas, especialmente na agricultura e na oferta de energia. Questionado sobre os possíveis impactos inflacionários, o secretário Guilherme Mello afirmou que, em algumas regiões, o efeito sobre os preços pode ser sentido de maneira mais intensa, especialmente se a estiagem persistir.
“Nossa projeção é de que as chuvas retornem em outubro e novembro. Se isso se confirmar, os impactos sobre as safras agrícolas serão minimizados, mas ainda assim haverá algum efeito localizado,” comentou Mello.
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A inflação projetada pela Secretaria de Política Econômica (SPE) para o final de 2024 é de 4,25%, encostando no limite superior da meta estabelecida pelo Banco Central de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A subsecretária de política macroeconômica, Raquel Nadal, também destacou que fatores climáticos têm gerado volatilidade nos preços de vários produtos e esse cenário pode se agravar com o prolongamento da seca.
“A variabilidade climática tem impactado não apenas a inflação, mas também outros setores da economia. Eventos como o que estamos observando, com secas e queimadas, aumentam a volatilidade dos preços e afetam diretamente a produção,” disse Nadal.
Amazônia e Pantanal: regiões estratégicas sob ameaça
As regiões da Amazônia e do Pantanal, que concentram a maior parte dos focos de incêndio, são áreas de grande relevância econômica para o Brasil. A Amazônia, por exemplo, desempenha um papel fundamental na regulação do clima e na manutenção do regime de chuvas em diversas regiões do país. Além disso, essas áreas são importantes fornecedoras de alimentos e energia, setores diretamente afetados pelos incêndios.
Em 2023, o Brasil já havia enfrentado uma série de desafios relacionados a eventos climáticos extremos, como enchentes e estiagens prolongadas que afetaram tanto a produção agrícola quanto a oferta de energia elétrica. Agora, com o agravamento dos incêndios florestais, o governo enfrenta um novo teste para equilibrar as necessidades fiscais e a urgência de medidas eficazes para combater as queimadas.
Medidas necessárias e expectativas para o futuro
Especialistas alertam que, além das ações emergenciais de combate aos incêndios, o governo precisa investir em políticas de prevenção e manejo sustentável das florestas para evitar que situações semelhantes se repitam nos próximos anos. A criação de brigadas de incêndio permanentes, o monitoramento contínuo das áreas de risco e o incentivo ao uso de tecnologias de detecção precoce de incêndios são algumas das soluções propostas para mitigar os impactos das queimadas no futuro.
Com a expectativa de que as chuvas retornem no final de 2024, há um otimismo moderado em relação à capacidade de recuperação das áreas atingidas. No entanto, caso a estiagem continue, o Brasil pode enfrentar um cenário ainda mais desafiador, com impactos econômicos e ambientais de longo prazo.
A possibilidade de abertura de crédito extraordinário, portanto, representa uma medida crucial para enfrentar a crise atual, mas o país também precisará de uma estratégia robusta para lidar com os efeitos das mudanças climáticas e o aumento da frequência de eventos extremos, como as queimadas.