Manifestações contra a jornada de trabalho 6×1, que prevê seis dias consecutivos de trabalho e um de folga, ocorreram em várias cidades brasileiras nesta sexta-feira (15). Trabalhadores também se manifestaram em apoio à proposta de emenda constitucional (PEC) da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que visa por fim a essa prática. As mobilizações se espalharam por todo o Brasil, refletindo o crescente descontentamento com as condições de trabalho e a demanda por uma jornada mais equilibrada e justa para os trabalhadores.
Protestos em São Paulo
Em São Paulo, a Avenida Paulista foi o palco de um grande ato organizado por movimentos sociais e centrais sindicais, como MST, MTST e CUT. Um dos destaques do protesto foi a fala de Priscila Araújo Kashimira, que abordou os impactos da jornada de trabalho 6×1 no cotidiano dos trabalhadores, especialmente os jovens. Ela destacou as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores jovens em conciliar trabalho e estudo, uma vez que muitas vezes o tempo dedicado ao trabalho exaustivo compromete a dedicação aos estudos, o que prejudica o desenvolvimento pessoal e profissional.
Além disso, Priscila fez uma crítica contundente às condições de trabalho em setores como telemarketing e shoppings. Para ela, os intervalos curtos e as jornadas excessivas nesses setores são um reflexo das condições precárias de trabalho que muitos brasileiros enfrentam. A falta de descanso adequado e o estresse constante levam a um ciclo de exaustão, com impactos diretos na saúde e bem-estar dos trabalhadores.
Manifestações no Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a Cinelândia se transformou em um ponto de encontro para milhares de trabalhadores que se reuniram para exigir a redução das horas trabalhadas, com um foco especial no direito ao descanso e lazer. O ato no Rio também se conectou ao debate nacional, que chegou ao G20 Social, onde autoridades como a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, defenderam que a redução da jornada de trabalho beneficiaria principalmente as mulheres, que são frequentemente sobrecarregadas com responsabilidades domésticas e profissionais.
Cida Gonçalves, em sua fala, reforçou que a mudança na legislação trabalhista é essencial para garantir melhores condições para as mulheres, especialmente no contexto da desigualdade de gênero e da sobrecarga de trabalho. Contudo, ela destacou que o debate precisa ser amadurecido, já que muitas questões ainda precisam ser debatidas antes que a proposta seja definitivamente aprovada.
O ministro Márcio Macêdo também se manifestou sobre o tema, ressaltando que o governo ainda não discutiu oficialmente a questão. A falta de um posicionamento claro do governo e a morosidade no processo legislativo tornam o futuro da PEC ainda incerto, mas a mobilização crescente nas ruas mostra que a pressão popular por mudanças é cada vez maior.
Mobilização em Brasília
Em Brasília, a mobilização também ganhou força. Manifestantes de diversas categorias se reuniram na Rodoviária do Plano Piloto para protestar contra a jornada de trabalho 6×1 e exigir mudanças nas condições de trabalho no país. Abel Santos, motofretista e coordenador do VAT no Distrito Federal, destacou a importância da união dos trabalhadores para a luta por melhores condições e lembrou que a pressão popular tem sido fundamental para aumentar o apoio à PEC da deputada Erika Hilton. Segundo Abel, o número de assinaturas na Câmara subiu de 60 para 134 em apenas uma semana, o que demonstra o crescente apoio à proposta.
Para que a PEC seja aprovada, ainda será necessário o apoio de 308 parlamentares, que devem votar o projeto em dois turnos. Abel Santos enfatizou a importância de continuar a mobilização nas ruas e nas redes sociais, pois o apoio popular tem sido crucial para pressionar os deputados a se posicionarem a favor da proposta.
O antropólogo Paiques Duque Santarém, do Movimento Passe Livre, também destacou a relevância da mobilização popular. Para ele, o aumento do apoio à PEC é um reflexo da insatisfação com a jornada 6×1 e a exploração do trabalhador, mas é fundamental que o movimento se mantenha ativo para evitar que o debate esfrie. Segundo Paiques, a morosidade do processo legislativo pode fazer com que a proposta perca força, o que exige uma mobilização constante por parte dos trabalhadores e seus aliados.
Protestos em Belém e outras capitais
Em Belém, a praça do Operário, no bairro de São Brás, foi o ponto de encontro para um protesto que percorreu importantes avenidas da cidade. Com cartazes como “escala 6×1 é desumana” e “trabalhar para viver e não viver para trabalhar”, os manifestantes exigiram o fim da jornada 6×1 e a adoção de modelos alternativos, como a escala 4×3, que prevê quatro dias de trabalho e três dias de folga. Esse modelo, defendido por muitos trabalhadores, permite uma maior flexibilidade e qualidade de vida, ao mesmo tempo em que garante o cumprimento das necessidades produtivas das empresas.
Em outras capitais, como Belo Horizonte e Porto Alegre, também ocorreram manifestações em apoio à PEC e contra a jornada 6×1, refletindo a crescente pressão por mudanças nas condições de trabalho no país. Em muitas dessas cidades, os protestos foram impulsionados pelas redes sociais, que têm sido uma ferramenta poderosa para organizar e mobilizar os trabalhadores em torno da causa.
O desafio para a PEC e o futuro das mobilizações
Embora a PEC tenha ganhado visibilidade, ela ainda enfrenta desafios significativos no Congresso, onde outras propostas semelhantes, mas menos abrangentes, estão em tramitação. A mobilização nas ruas e nas redes sociais, no entanto, tem gerado um clima de pressão que pode forçar os parlamentares a se posicionarem a favor da mudança. A mobilização em diversas cidades reflete a crescente insatisfação com a jornada de trabalho 6×1 e a necessidade urgente de repensar as condições de trabalho no Brasil.
O movimento contra a jornada de trabalho 6×1 ganhou força nas redes sociais com o ativista Rick, fundador do VAT, que criou uma petição online que já conta com mais de 2,9 milhões de assinaturas. A petição exige um projeto de lei sobre o tema e tem sido um dos principais catalisadores da pressão popular por mudanças na legislação trabalhista. Rick, que foi candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL e foi eleito, tem usado sua plataforma para amplificar a causa e reunir mais apoio para a PEC.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também tem sido uma defensora ativa da proposta e conseguiu as assinaturas necessárias para protocolar a PEC na Câmara na quarta-feira (13). Embora o projeto tenha sido apresentado por Hilton em maio deste ano, ele avançou lentamente devido à falta de apoio, mas a mobilização nas redes sociais e nas ruas tem dado novo impulso à proposta.
Entretanto, o projeto enfrenta críticas em relação à sua redação atual. Deputados afirmam que, para que a proposta seja aprovada, será necessário o apoio de Erika Hilton para revisar alguns pontos do texto. Além disso, há a necessidade de criar medidas que protejam os pequenos empresários dos impactos das mudanças propostas, a fim de garantir que a reforma não sobrecarregue os pequenos negócios.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, classificou a proposta como “bastante prejudicial” aos trabalhadores, argumentando que a PEC aumentaria o custo do trabalho e promoveria a informalidade no mercado de trabalho. Ele ressaltou que, ao aumentar as obrigações dos empregadores, não se estaria necessariamente melhorando os direitos dos trabalhadores. Esses argumentos, no entanto, têm sido amplamente contestados pelos movimentos sociais, que acreditam que a mudança é essencial para garantir mais qualidade de vida e condições justas de trabalho para todos os brasileiros.
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