A próxima Cúpula do G20, marcada para os dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, promete reunir líderes de algumas das maiores economias do mundo. Entre os nomes confirmados estão o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, representantes da União Europeia e da União Africana, além de outros líderes globais.
Contudo, um dos nomes que não marcará presença é o do presidente russo, Vladimir Putin. Em seu lugar, a Rússia será representada por Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, que esteve no Brasil no início do ano para a reunião de chanceleres do G20.
A decisão de Putin de não participar pessoalmente do evento no Brasil é baseada em uma série de fatores políticos e legais, que vão além das relações diplomáticas e das complexas questões de política externa entre Rússia e outros países do G20. Aqui, vamos explorar as razões por trás dessa ausência e o impacto que ela pode ter para o evento.
Mandado de prisão para Putin e o Tribunal Penal Internacional
Um dos principais fatores que influenciaram a decisão de Putin de não comparecer à Cúpula do G20 no Brasil é o mandado de prisão emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em março de 2023. O mandado está relacionado a supostos crimes de guerra cometidos pela Rússia durante o conflito com a Ucrânia. Esse documento obriga os países signatários do Tratado de Roma, incluindo o Brasil, a prenderem Putin caso ele pise em território brasileiro.
Diante dessa situação, a presença de Putin poderia colocar o governo brasileiro em uma posição delicada. Como signatário do TPI, o Brasil seria tecnicamente obrigado a cumprir o mandado, mas, ao mesmo tempo, uma prisão de Putin durante o G20 causaria um grande impacto diplomático e político.
Esse dilema torna-se ainda mais complicado devido à relação diplomática que o Brasil tem com a Rússia, considerando especialmente o papel de liderança que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta desempenhar em questões de paz e mediação de conflitos internacionais.
A posição de Putin sobre o G20
Putin revelou que sua ausência é, em parte, uma decisão estratégica para preservar o foco do G20 em sua missão principal, que é a cooperação econômica global.
“Temos uma boa relação, uma relação amigável com o presidente Lula. Eu iria lá de propósito? Para violar a operação desse fórum? Para arruinar o fórum?”, questionou o presidente russo, indicando que sua presença poderia ofuscar a agenda do evento e transformá-lo em um espaço para disputas políticas e judiciais.
Putin explicou ainda que, mesmo se a questão do TPI fosse ignorada, sua presença no G20 se tornaria o centro das atenções e desviaria o foco das discussões econômicas e ambientais, temas centrais da cúpula. Ele ressaltou que a Rússia pode ser representada por um enviado que, segundo ele, será capaz de defender os interesses do país no Brasil, evitando que seu próprio nome seja o único tópico em pauta durante o evento.
Sergei Lavrov representará a Rússia
Com a ausência de Putin, o encarregado de representar a Rússia no G20 será Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores. Experiente diplomata e figura influente na política russa, Lavrov já esteve no Brasil este ano para a reunião dos chanceleres do G20 e tem atuado ativamente na diplomacia russa. Sua presença permitirá que a Rússia continue a defender suas posições e interesses, especialmente nas discussões sobre temas econômicos e de segurança global, sem as complexidades que a presença de Putin acarretaria.
O impacto da ausência de Putin no G20
Embora a ausência de Putin seja uma decisão calculada para evitar problemas legais e desviar a atenção de questões econômicas e ambientais, ela também tem implicações simbólicas e práticas. A presença de líderes das maiores economias do mundo em um mesmo local tem o potencial de abrir oportunidades para negociações e discussões que envolvem tanto temas globais quanto questões bilaterais entre os países membros. A ausência de Putin, portanto, pode limitar as possibilidades de diálogo direto entre a Rússia e outras nações do G20.
Além disso, a ausência de um líder tão influente como Putin chama a atenção para as tensões que ainda cercam a política internacional, especialmente após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. O G20, que foi idealizado como um espaço de cooperação e convergência entre economias de diferentes orientações políticas, mostra-se cada vez mais permeado por divergências que vão além da economia.
A posição do Brasil e o cenário internacional
A postura do Brasil em relação à Rússia e ao TPI coloca o país em uma posição delicada. Desde o início de seu mandato, o presidente Lula tem buscado reafirmar o Brasil como um país neutro, capaz de dialogar com diferentes nações e de promover a paz em regiões em conflito. A decisão de Putin de não comparecer à Cúpula do G20 poupa o Brasil de um impasse diplomático, permitindo que o governo brasileiro mantenha seu papel de anfitrião do evento sem que a questão jurídica se torne uma distração.
Por outro lado, a ausência de Putin evidencia as divisões políticas que permeiam o cenário internacional atual. Na ausência de uma solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia, a cúpula servirá como palco para que outros líderes, como Joe Biden e representantes da União Europeia, pressionem por mais sanções contra a Rússia ou por maior cooperação para resolver a crise.
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A ausência de Vladimir Putin no G20 do Rio de Janeiro reflete não apenas as questões jurídicas envolvidas no mandado de prisão do TPI, mas também uma escolha calculada para evitar que o evento seja dominado por polêmicas políticas. A decisão de enviar Sergei Lavrov em seu lugar mostra que a Rússia ainda considera o G20 um espaço importante para diálogo e cooperação, mas que prefere evitar os potenciais conflitos que a presença de Putin poderia trazer.
Com isso, o Brasil tem a oportunidade de sediar a cúpula sem enfrentar um conflito diplomático direto com a Rússia, mantendo seu papel de neutralidade. No entanto, o evento será inevitavelmente marcado pela complexa situação geopolítica atual, com discussões sobre a guerra na Ucrânia e as relações internacionais em destaque.