Taxas de juros longas caem com foco no cenário fiscal e nos EUA

As taxas de juros longas no Brasil caíram nesta segunda-feira (4), com as atenções voltadas para o cenário fiscal doméstico e as eleições presidenciais dos Estados Unidos. Com os investidores em busca de indícios sobre possíveis mudanças econômicas e fiscais, o mercado apresentou uma queda significativa em algumas taxas de Depósitos Interfinanceiros (DI) — superiores a 20 pontos-base —, especialmente em contratos de vencimentos mais longos. Esse movimento reflete as expectativas e incertezas em relação a decisões políticas que podem impactar tanto o cenário econômico interno quanto o externo.

Queda nas taxas de juros longas: entenda o que aconteceu

Os Depósitos Interfinanceiros (DIs) são contratos que funcionam como termômetros das expectativas do mercado sobre a taxa básica de juros, a Selic. Nesta segunda-feira, a taxa DI para janeiro de 2025 registrou 11,318%, uma leve redução em relação ao ajuste anterior de 11,328%.

Já nos contratos de vencimento mais longo, como o de janeiro de 2033, a queda foi mais acentuada, com a taxa recuando para 12,89%, ante o ajuste de 13,124%. Essa redução de 23 pontos-base reflete um movimento significativo de expectativa dos investidores, que aguardam por novos sinais do governo federal sobre a política fiscal e da eleição nos EUA.

Os investidores estão de olho nas próximas movimentações do governo brasileiro, principalmente após o cancelamento de uma viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à Europa. Segundo comunicado, Haddad permanecerá no Brasil a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar de assuntos internos, o que acendeu um alerta no mercado para possíveis mudanças e medidas de contenção de despesas. A suspensão da viagem ocorre logo após o segundo turno das eleições municipais, período em que o governo sinalizou que poderia anunciar novas medidas fiscais.

Cenário fiscal brasileiro: por que o mercado está atento?

O cenário fiscal do Brasil tem sido motivo de cautela entre investidores. Nos últimos meses, as preocupações com o controle de gastos e o cumprimento das metas fiscais foram intensificadas, especialmente com o governo prometendo cortes de despesas para equilibrar as contas públicas. Esses compromissos são monitorados de perto pelo mercado financeiro, que busca estabilidade nas contas do governo para avaliar o potencial de novos investimentos e o impacto nas taxas de juros.

A política fiscal, que define como o governo gasta e arrecada recursos, tem influência direta nas taxas de juros, pois a percepção de que o governo pode aumentar sua dívida pública sem controle gera pressão para a elevação da Selic. Isso ocorre porque, com mais dívida, o governo se torna um tomador de recursos mais intensivo, elevando a necessidade de atratividade nos rendimentos pagos aos investidores. Logo, quando o governo mostra comprometimento com a austeridade, o mercado se sente mais seguro para aceitar juros mais baixos.

Fernando Haddad, ao cancelar a viagem à Europa para priorizar temas domésticos, passou a mensagem ao mercado de que o governo pretende tomar medidas de controle fiscal. Esse gesto, somado a promessas anteriores, tende a gerar uma expectativa de estabilidade e redução na pressão sobre os juros futuros. Contudo, é necessário que medidas concretas sejam apresentadas para que essa confiança se mantenha.

Eleições nos EUA e o impacto no Brasil

Além da questão fiscal brasileira, a atenção do mercado nesta semana também está voltada para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que acontecem na terça-feira (5). A disputa entre Donald Trump e Kamala Harris é vista como decisiva para o futuro da política monetária dos EUA, o que impacta economias de todo o mundo, inclusive a brasileira.

A vitória de Trump, segundo analistas, pode aumentar a possibilidade de alta nos juros americanos, enquanto uma vitória de Harris poderia significar uma política econômica mais voltada para estímulos.

Nos Estados Unidos, as eleições e os dados econômicos abaixo das expectativas aumentam a volatilidade, influenciando diretamente a cotação do dólar no Brasil taxa de juros
Nos Estados Unidos, as eleições e os dados econômicos abaixo das expectativas aumentam a volatilidade, influenciando diretamente a cotação do dólar no Brasil | Foto: Reprodução/Divulgação

Nesta segunda-feira, o mercado já precificava uma vitória de Trump, o que impactou os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries, que registraram baixas firmes. Esses movimentos dos Treasuries são acompanhados de perto pelos investidores brasileiros, pois uma eventual alta nos juros americanos poderia atrair capital estrangeiro, reduzindo o fluxo de investimento no Brasil e, consequentemente, elevando a taxa de câmbio e as pressões inflacionárias.

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Expectativas do mercado para os próximos passos

José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos, apontou que o cenário pode mudar consideravelmente dependendo do resultado eleitoral dos EUA e das políticas fiscais adotadas no Brasil.

Segundo ele, há espaço para a continuação da alta do dólar e dos juros caso Trump seja eleito, especialmente se houver um “red sweep” — isto é, se os republicanos dominarem a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Deputados. Nessa situação, um governo de maioria republicana poderia implementar políticas que favoreçam a valorização do dólar e, possivelmente, a elevação dos juros americanos, o que pode impactar negativamente os países emergentes.

Diante desse cenário, o mercado brasileiro aguarda sinais do governo federal sobre a condução da política fiscal. No entanto, muitos analistas ainda mostram cautela, alertando que a falta de medidas concretas para reduzir gastos pode acabar por prejudicar a confiança do mercado e impulsionar a alta das taxas de juros novamente.

O que os investidores devem observar

Para investidores, o atual momento exige atenção aos desdobramentos na política fiscal brasileira e ao resultado das eleições nos EUA. A expectativa é que o governo brasileiro mostre compromisso com o controle dos gastos e, assim, mantenha a confiança dos investidores. Em paralelo, o cenário externo permanece incerto, especialmente quanto à condução da política monetária americana.

A combinação entre um cenário fiscal estável no Brasil e a definição da política monetária dos EUA formará o cenário das taxas de juros longas nos próximos meses. Os investidores que acompanham esses movimentos poderão se posicionar melhor e ajustar suas carteiras de acordo com as perspectivas de juros, inflação e crescimento econômico.

A queda das taxas de juros longas de hoje reflete as expectativas e incertezas do mercado, que ainda espera por decisões que deem maior clareza sobre o rumo da economia tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

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