O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira, 7 de janeiro, que deseja fazer da Groenlândia parte dos Estados Unidos, renovando uma proposta que já havia feito em 2019, quando sugeriu comprar a ilha da Dinamarca, mas teve a oferta recusada.
A Groenlândia, uma vasta ilha coberta quase completamente por gelo e com uma população de apenas 57.000 habitantes, possui grandes recursos minerais e é estrategicamente importante para os militares dos EUA. Há mais de 600 anos, a ilha faz parte do Reino da Dinamarca.
Em uma publicação na rede social Truth Social, Trump afirmou que a Groenlândia é um “lugar incrível” e que, se se tornasse parte dos Estados Unidos, as pessoas da ilha se beneficiariam enormemente. O presidente também afirmou que essa seria uma transação que deveria acontecer. Ele reforçou essa ideia após seu filho, Donald Trump Jr., realizar uma visita privada à ilha.
A Groenlândia poderia ser comprada?
O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, que recentemente tem pressionado pela independência da Dinamarca, reiterou que a ilha não está à venda e que cabe ao povo groenlandês decidir o futuro da região. Egede afirmou que, apesar de opiniões externas, a Groenlândia deve continuar focada em seu próprio caminho, sem se deixar influenciar por pressões externas.
A ilha foi uma antiga colônia dinamarquesa, tornando-se um território formal da Dinamarca em 1953, com seu status regido pela constituição dinamarquesa. Isso significa que qualquer mudança em sua soberania exigiria uma emenda à constituição dinamarquesa.
Desde 2009, a Groenlândia obteve ampla autonomia e, caso decida, pode declarar sua independência da Dinamarca por meio de um referendo. A oferta de Trump para comprar a ilha foi novamente rejeitada tanto pela Groenlândia quanto pela Dinamarca em 2019. No passado, durante a Guerra Fria, os Estados Unidos tentaram comprar a ilha de Copenhague por US$ 100 milhões em ouro, mas a oferta foi recusada.
E se a Groenlândia se tornar independente?
Caso a Groenlândia alcance a independência, ela poderia decidir se associar aos Estados Unidos, algo que alguns sugerem como uma possibilidade viável. Embora muitos groenlandeses apoiem a independência, poucos acreditam que ela seja viável sem garantir a estabilidade econômica, dada a dependência da ilha de recursos e subsídios da Dinamarca.
Uma alternativa poderia ser formar uma relação de “livre associação” com os Estados Unidos, em um modelo similar ao de outras nações insulares do Pacífico, como as Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.
Ulrik Pram Gad, pesquisador do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, argumenta que a Groenlândia provavelmente não escolheria a independência sem assegurar o bem-estar de sua população. O primeiro-ministro Mute Egede, recentemente, pediu ao povo groenlandês que se libertasse “das amarras do colonialismo” e moldasse seu próprio futuro.
Por que Trump tem interesse na Groenlândia?
A Groenlândia tem grande importância estratégica para os Estados Unidos devido à sua localização no Ártico, sendo uma peça chave no sistema de alerta precoce de mísseis balísticos. A rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha, e a base aérea de Pituffik, no noroeste da Groenlândia, abriga uma presença militar dos EUA.
Além disso, os Estados Unidos têm interesse em aumentar sua presença militar na ilha, especialmente com a instalação de radares para monitorar as águas entre a Groenlândia, a Islândia e o Reino Unido, que são pontos estratégicos para o controle de navios russos e submarinos nucleares.
A Groenlândia, que geograficamente pertence ao continente norte-americano, é vista como vital para os EUA, especialmente para evitar que outras grandes potências, como a Rússia, estabeleçam presença na região.
A Groenlândia também possui recursos minerais valiosos, além de petróleo e gás natural, mas o desenvolvimento desses recursos tem sido lento, em parte devido a políticas ambientais restritivas e à resistência dos povos indígenas locais.
A economia da Groenlândia depende principalmente da pesca e de subsídios anuais da Dinamarca, que representam quase metade de seu orçamento público. A Dinamarca gasta cerca de US$ 1 bilhão por ano na Groenlândia.
O que a Groenlândia quer?
Nos últimos anos, um movimento de independência ganhou força na Groenlândia. A maioria da população apoia a ideia da independência, embora haja divisão quanto ao momento certo para implementá-la e sobre o impacto disso nos padrões de vida.
Políticos groenlandeses têm expressado o desejo de fortalecer os laços com os Estados Unidos em áreas como comércio e cooperação, mas também enfatizam que a independência é uma questão que cabe ao povo groenlandês decidir.
Em resposta a propostas externas, Aaja Chemnitz, membro do parlamento dinamarquês pela Groenlândia, afirmou que uma possível tomada de poder pelos Estados Unidos deveria ser rejeitada, pois ela não queria ser um peão nos planos de Trump de expandir seu império para incluir o país.
O que diz a Dinamarca?
O interesse renovado de Trump pela Groenlândia ocorre em um contexto de tensões crescentes entre a ilha e a Dinamarca, especialmente após a revelação de má conduta histórica do governo colonial dinamarquês. A proposta de Trump em 2019 foi amplamente rejeitada pela Dinamarca, com a primeira-ministra Mette Frederiksen chamando-a de “absurda”.
Quando questionada sobre o novo interesse de Trump, Frederiksen reafirmou a importância de uma cooperação estreita com os Estados Unidos, mas também destacou que a Groenlândia é um território autônomo e que seu futuro deve ser decidido exclusivamente pelo povo groenlandês, ressaltando que a ilha tem o direito de determinar seu próprio destino.
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