Especialista em felicidade corporativa destaca que a falta de engajamento no trabalho e a solidão crônica impactam a produtividade, a saúde e o bem-estar dos profissionais
O envolvimento global dos funcionários permaneceu estagnado, enquanto o bem-estar geral diminuiu, conforme revela o mais recente relatório State of the Global Workplace, publicado pela consultoria Gallup. A porcentagem de colaboradores empenhados – aqueles que se sentem entusiasmados com o seu trabalho – permaneceu em 23%, igualando o recorde registrado em 2022.
A maioria dos funcionários, contudo, não está engajada: 62% dos entrevistados relataram fazer o mínimo necessário e não se sentirem inspirados em suas funções, enquanto 15% estão ativamente desengajados, descrevendo uma experiência de trabalho miserável e um desejo ativo de procurar novas oportunidades.
O relatório destaca que as dificuldades enfrentadas pelos profissionais no trabalho e na vida impactam diretamente a produtividade organizacional. A Gallup estima que o baixo envolvimento dos funcionários custa à economia global US$ 8,9 bilhões (aproximadamente R$ 48 bilhões), o que equivale a 9% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
Adicionalmente, o levantamento aponta que um em cada cinco funcionários sente solidão, com 25% relatando essa sensação constantemente e 21% às vezes. A solidão é mais prevalente entre indivíduos com menos de 35 anos (22%) e trabalhadores remotos (25%).
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“Espero que esses números sirvam de alerta aos líderes, para que aumentem as intervenções de bem-estar e saúde mental nas organizações. Os números comprovam que a infelicidade no ambiente corporativo custa caro! Assim como o Relatório Mundial da Felicidade apresentado pela ONU em março, vemos que os jovens estão se sentindo solitários, tendo sua saúde mental, emocional e física negativamente impactadas, com risco dobrado de mortalidade em comparação a pessoas com laços sociais e comunitários sólidos”, diz Rodrigo de Aquino, especialista em Psicologia Positiva, Felicidade e Bem-estar corporativo.
Embora nem todos os problemas de saúde mental estejam diretamente relacionados ao trabalho, este é um fator significativo nas avaliações de vida e nas emoções diárias. “Os funcionários que não gostam do seu trabalho apresentam altos níveis de estresse e preocupação diários, além de outras emoções negativas. O dado que o estudo traz, mostrando que a desconexão ativa do trabalho é equivalente ou pior do que estar desempregado, é assustador. Criar espaços com mais emoções positivas do que negativas, tão apregoados pela Psicologia Positiva, ganha força com esse dado. Precisamos urgentemente reverter essa curva, tornando os escritórios, fábricas e outros ambientes de trabalho em pólos de bem-estar”, alerta Aquino.
O especialista também enfatiza que, por outro lado, quando os trabalhadores encontram significado em suas funções e relações de trabalho, relatam elevados níveis de prazer diário e baixos níveis de emoções negativas. “No relatório, 34% dos entrevistados afirmam que estão “prosperando”, enquanto 58% dizem estar “com dificuldades”. Prosperar nesse contexto não significa ‘enriquecer’, e sim ter menos problemas de saúde mental e emocional (por exemplo, estresse, tristeza, solidão, depressão e raiva) e conseguir encontrar no dia a dia fontes de florescimento, isto é, esperança, vitalidade, interesse, equidade e respeito.
Os principais países onde as pessoas afirmam estar prosperando incluem Finlândia (83%), Dinamarca (77%), Islândia (76%), Holanda (71%), Suécia (70%), Israel (69%), Noruega (67%), Costa Rica (62%), Bélgica (60%) e Austrália (60%). Sete dos dez países no topo da lista são europeus, com a Europa apresentando a menor percentagem de trabalhadores em busca ativa de novo emprego e a segunda menor percentagem de trabalhadores vivendo tristeza diária.
O relatório também revela que a probabilidade de engajamento dos funcionários aumenta significativamente quando os gestores estão envolvidos. Em organizações com melhores práticas, três quartos dos gestores estão engajados, assim como sete em cada dez não-gestores.
Rodrigo explica que o envolvimento dos gestores é crucial para criar um ambiente de trabalho positivo. “Antes de cobrar dos gestores, vale ressaltar que o estudo destaca que os gestores têm mais experiências diárias negativas do que os não-gestores e estão mais propensos a procurar novo emprego. Sendo assim, devemos sempre pensar em ‘quem cuida de quem cuida’. Exigir inteligência emocional sem oferecer condições para que gerentes e diretores possam fazer isso com flexibilidade e compaixão só reforça a impotência e alimenta a baixa autoestima. De qualquer forma, empresas que investem em gestores bem-formados e engajados, além de proteger os direitos dos trabalhadores, tendem a ter funcionários mais envolvidos, felizes e com melhores condições para desenvolver suas atividades”.
Para encerrar, Aquino destaca um ponto da pesquisa sobre remuneração e benefícios: “A razão mais comum pela qual os funcionários deixaram o emprego em 2023 foi remuneração e benefícios (16%). Aqui está o pulo do gato. Os outros 84% referem-se a outras questões, como oportunidade de desenvolvimento, problemas com a liderança, expectativas e responsabilidades irreais, adaptação ou falta de interesse pelo trabalho atual, bem como equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Em suma, pensar em uma gestão humanizada e proporcionar um ambiente com mais emoções positivas e felicidade é, sem dúvida, um bom negócio”, conclui Rodrigo de Aquino.