A Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica em São Paulo, prometeu grandes mudanças após o apagão de 2023. No entanto, a ampliação do quadro de funcionários ficou muito abaixo do esperado.
Em novembro de 2023, a cidade de São Paulo foi impactada por uma forte tempestade, que resultou em um apagão que durou vários dias em diversas regiões. A crise evidenciou a fragilidade da infraestrutura elétrica da Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia no estado.
Em resposta à crise, a Enel prometeu contratar 1.200 novos funcionários próprios, o que representaria um aumento de 31% no seu quadro de colaboradores. No entanto, quase um ano depois, os resultados mostram que a empresa conseguiu ampliar sua equipe em apenas 4,6%, bem distante da meta estabelecida.
Em abril de 2024, a Enel apresentou ao público e às autoridades um plano de ação visando reforçar a resiliência de sua rede elétrica, destacando a necessidade de expandir a equipe de campo para melhorar o atendimento e reduzir o tempo de resposta em situações emergenciais.
Essa promessa foi a resposta à crise de 2023, que gerou grande insatisfação entre os clientes e colocou a concessionária em confronto com o poder público. A expectativa gerada com o anúncio foi alta. Porém, até o momento, os resultados apresentados pela empresa mostram que a meta de contratação está longe de ser alcançada.
A realidade dos números da Enel
De acordo com dados recentes da própria Enel, desde o apagão de novembro de 2023, a empresa contratou apenas 176 novos funcionários próprios. Com isso, o quadro de empregados da Enel São Paulo passou de 3.863 para 4.039 pessoas, um aumento de apenas 4,6%, muito inferior aos 31% prometidos inicialmente. Além disso, logo após a crise, o número de funcionários próprios chegou a diminuir, com nove desligamentos no último trimestre de 2023. As contratações começaram somente no início de 2024, com a adição de 48 técnicos entre janeiro e março, e mais 137 no segundo trimestre do ano.
Embora a contratação de equipe própria tenha ficado aquém do esperado, houve um reforço significativo nas equipes terceirizadas. No mesmo período, a Enel São Paulo contratou 1.069 trabalhadores terceirizados para atuar nas operações. No entanto, o plano de ação original não mencionava a ampliação do quadro de funcionários terceirizados, focando apenas na contratação de técnicos próprios, o que gerou questionamentos sobre o cumprimento das metas estabelecidas.
Atualmente, somando os empregados próprios e terceirizados, a Enel São Paulo conta com 16.611 colaboradores, o que representa um aumento de 8% em relação ao período anterior ao apagão. Ainda assim, quando comparado ao cenário de 2019, o número total de colaboradores, incluindo terceirizados, é 30% menor. Em 2019, a Enel completou o primeiro ano sob o controle dos italianos, após a aquisição da antiga Eletropaulo, e o processo de reestruturação da companhia impactou diretamente o quadro de funcionários.
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Investimentos e desafios futuros
Além da questão do aumento da equipe, a Enel anunciou um plano de investimentos de R$ 6,2 bilhões para melhorar a qualidade do serviço na sua área de concessão entre 2024 e 2026. A empresa tem enfrentado desafios significativos em relação ao atendimento de sua base de clientes, principalmente em situações de crise, como foi o caso do apagão de 2023.
Em comunicado, a Enel afirmou que atualmente conta com cerca de 1,6 mil técnicos atuando diretamente em campo e que está mobilizando um total de 2,5 mil profissionais, incluindo equipes de outras regiões, como Rio de Janeiro e Ceará. Segundo a concessionária, esse contingente será suficiente para atender a demanda e melhorar a qualidade do serviço prestado. Entretanto, a empresa não divulgou novas medidas de contratação para alcançar a meta prometida inicialmente.
Outro ponto importante no plano de ação da Enel é a melhoria da resiliência da rede elétrica, que deve se adaptar aos “crescentes desafios climáticos”. As tempestades e eventos extremos têm sido cada vez mais frequentes, exigindo uma estrutura capaz de responder rapidamente às falhas e garantir o fornecimento de energia com mais estabilidade. Contudo, a contratação de novos funcionários e a ampliação da equipe técnica própria são essenciais para garantir o sucesso desse plano, e a baixa contratação até o momento gera incertezas sobre a capacidade da empresa de atingir seus objetivos no tempo estipulado.
Expectativas frustradas e impacto na confiança dos consumidores
A Enel tem enfrentado um cenário de desgaste com o poder público e com os consumidores desde o apagão de 2023. A baixa contratação de novos funcionários próprios, muito abaixo da meta estabelecida, pode afetar ainda mais a confiança dos clientes no serviço prestado pela concessionária. Além disso, as reclamações sobre o tempo de resposta em emergências e a qualidade do atendimento seguem em alta, o que pressiona a empresa a cumprir suas promessas e garantir um serviço mais eficiente.
A expectativa é que, com os investimentos programados e a ampliação do quadro de funcionários, a Enel consiga melhorar o serviço prestado e evitar novas crises de energia em São Paulo. No entanto, o cumprimento das metas estabelecidas no plano de ação é fundamental para que a concessionária recupere a confiança dos consumidores e consiga consolidar sua operação no Brasil.