A decisão do presidente Donald Trump de impor novas tarifas sobre produtos do México, Canadá e China impactou o mercado financeiro global e atingiu diretamente a fortuna do bilionário Elon Musk. No início da tarde desta segunda-feira, 3 de fevereiro, o CEO da Tesla registrava uma perda de 3,16% de seu patrimônio, o equivalente a US$ 13,3 bilhões (aproximadamente R$ 78,5 bilhões), devido à desvalorização das ações de sua fabricante de veículos elétricos, a Tesla. As informações são do ranking de bilionários da Forbes.
Por volta das 12h20 (horário de Nova York), as ações da Tesla caíam 7,31%, sendo negociadas a US$ 375,03 (R$ 2.188,41). Esse declínio acompanhava o pessimismo no setor automotivo global, que sentiu os impactos da medida protecionista anunciada pelo governo norte-americano.
Impactos globais no setor automotivo
As tarifas impostas por Trump penalizaram fabricantes de automóveis em diversos países. Na Bolsa de Tóquio, a Toyota encerrou o dia com queda de 5,01%, enquanto a Honda recuou 7,2% e a Nissan caiu 5,63%.
Na Europa, a Volkswagen registrava queda de 5,82% na Bolsa de Frankfurt, enquanto em Milão, a Stellantis – proprietária da Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot – caía 6,16%.
Nos Estados Unidos, uma hora após a abertura do pregão em Nova York, os papéis da General Motors (GM) caíam 3,44%, e os da Ford registravam desvalorização de 1,93%.
Preocupações com o aumento de preços
O setor automobilístico expressou preocupação com os efeitos das tarifas sobre o preço dos veículos. De acordo com cálculos de uma consultoria, os carros podem ficar até R$ 18 mil mais caros para os consumidores americanos.
A Volkswagen declarou no domingo, 2 de fevereiro, que espera negociações para evitar um conflito comercial, ressaltando que a competitividade dos carros da marca no mercado dos EUA pode ser comprometida caso as tarifas sejam mantidas.
“Estamos avaliando potenciais efeitos na indústria automotiva e em nossa empresa como resultado das tarifas anunciadas. Confiamos em negociações construtivas entre os parceiros comerciais para garantir segurança no planejamento e estabilidade econômica, além de evitar um conflito comercial”, afirmou a Volkswagen em comunicado.
Ligação de Musk com o governo Trump
Elon Musk foi um dos principais apoiadores da campanha de Donald Trump contra Joe Biden e Kamala Harris nas eleições de 2024.
Ele realizou doações de pelo menos US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão) para a campanha do republicano e, após sua vitória, foi nomeado líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).
Apesar de não ser um órgão oficial do governo dos EUA, essa entidade tem o objetivo de assessorar o presidente na redução de despesas públicas e na desregulamentação de diversos setores da economia.
Esse departamento tem como objetivo melhorar a gestão pública, reduzindo os gastos governamentais, cortando regulamentações desnecessárias e aumentando a eficiência das agências federais.
Trump já havia prometido, durante sua campanha, criar um governo mais ágil e com menos burocracia. Musk, com sua experiência de corte de custos e otimização de processos nas empresas que comanda, foi escolhido para liderar esse processo.
A missão do novo departamento trabalhará em conjunto com a Casa Branca e o Escritório de Administração e Orçamento para promover uma reforma estrutural no governo.
Além disso, Musk contará com o apoio de Vivek Ramaswamy, empresário do setor de biotecnologia e ex-candidato à presidência, que ajudará a buscar soluções para tornar o governo mais eficiente e promover um ambiente de maior transparência.
Com a recente volatilidade do mercado, investidores acompanham de perto os desdobramentos das novas tarifas e os possíveis impactos no setor automobilístico e na economia global.
Investidores da Tesla criticam o envolvimento político de Elon Musk
A crescente influência política de Elon Musk tem gerado preocupação entre investidores da Tesla. Antes da conferência de resultados da empresa, foram registradas mais de 100 perguntas sobre o impacto do envolvimento do CEO no governo dos Estados Unidos.
Musk doou US$ 270 milhões (R$ 1,58 bilhão) para a campanha de Donald Trump e outros candidatos republicanos, além de ter sido indicado para uma carga no Departamento de Eficiência do Governo (DOGE). Após a eleição, ele se afastou temporariamente da Tesla, passando um período no resort de Trump na Flórida, o que levantou questionamentos sobre sua dedicação à montadora.
“Quanto tempo ele realmente dedica ao crescimento da empresa e à geração de valor para os acionistas?”, questionou um investidor. Outro acionista disse que Musk se desculparia pelo gesto feito durante a posse de Trump, interpretado por alguns como uma saudação nazista.
Além disso, houve questionamentos sobre o impacto das atividades políticas do empresário nas vendas da Tesla e como a empresa está lidando com possíveis repercussões negativas.
A consultoria Brand Finance revelou que o valor de mercado da Tesla caiu 26% no último ano. Entre os fatores indicados para essa desvalorização estão o posicionamento político de Musk e o envelhecimento da linha de veículos elétricos da empresa.
Além da política nos Estados Unidos, Musk também gerou polêmica ao apoiar o partido de extrema-direita alemã AfD, conhecido por sua oposição às políticas de imigração.
Embora a Tesla não seja obrigada a discutir questões políticas durante as suas conferências de resultados, a influência do CEO já havia sido tema de perguntas no terceiro trimestre de 2024. No entanto, na época, o nome de Trump não havia sido diretamente mencionado.
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