Uma pesquisa recente revelou um dado preocupante: 84% das pessoas com deficiência (PCDs) não ocupam cargos de liderança no Brasil. O estudo “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, realizado em parceria pela Talento Incluir, Instituto Locomotiva, Pacto Global e iO Diversidade, apontou que mesmo os profissionais PCDs que conquistam um espaço no mercado enfrentam barreiras para crescer na carreira.
Dentre aqueles que alcançam cargos de chefia, apenas 12% estão em posições de média liderança, como gerência e supervisão, e um número ainda menor, apenas 2%, chega a cargos de alta liderança, como diretores e presidentes.
Os números evidenciam que, apesar da legislação vigente que obriga empresas com mais de 100 funcionários a reservar vagas para PCDs, a inclusão ainda é limitada. “O planejamento precisa extrapolar o mero cumprimento das cotas obrigatórias e de fato incluir a pessoa com deficiência como profissionais com oportunidades de apresentar suas habilidades e se desenvolver na carreira”, afirma Rachel Rua, diretora do Instituto Locomotiva a CNN.
Falta de oportunidades e promoções no mercado de trabalho
Outro dado preocupante do estudo indica que, embora metade das PCDs empregadas tenha mais de três anos na mesma empresa, 63% nunca receberam uma promoção. Essa falta de ascensão profissional reflete uma barreira estrutural que impede esses profissionais de progredirem.
Muitos ainda enfrentam resistência dentro do ambiente corporativo, seja pela falta de acessibilidade física e digital ou pela cultura organizacional que não promove efetivamente a inclusão. Além disso, estereótipos sobre as capacidades das pessoas com deficiência acabam limitando seu crescimento.
“Há uma percepção majoritária de que ser pessoa com deficiência e/ou neurodivergente impacta negativamente na empregabilidade – muito embora não impacte negativamente na execução do trabalho”, destaca o relatório.
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A lei de cotas e seus desafios
A Lei de Cotas (n.º 8.213/91) estabelece que empresas com mais de 100 funcionários devem reservar entre 2% e 5% das vagas para pessoas com deficiência. No entanto, muitas organizações enxergam essa exigência apenas como um requisito burocrático, sem investir na real inclusão e desenvolvimento desses profissionais.
Além disso, há desafios no próprio cumprimento da lei. Empresas alegam dificuldades em encontrar profissionais qualificados, enquanto PCDs relatam a falta de oportunidades para se capacitarem ou conquistarem espaço em empresas que não adaptam suas estruturas e processos.
Como mudar esse cenário?
Para transformar essa realidade, especialistas defendem que as empresas adotem políticas inclusivas mais amplas, indo além das cotas. Algumas iniciativas eficazes incluem:
- Programas de mentoria e capacitação: investir no desenvolvimento profissional das pessoas com deficiência, oferecendo treinamentos e mentorias que incentivem sua ascensão na empresa.
- Ambiente acessível: garantir acessibilidade física, tecnológica e comunicacional, permitindo que esses profissionais desempenhem suas funções sem limitações.
- Mudança cultural: promover a conscientização dentro das empresas, combatendo preconceitos e incentivando uma cultura organizacional realmente inclusiva.
- Políticas de promoção interna: criar planos de carreira claros e acessíveis para todos, incluindo PCDs, com avaliações justas e oportunidades reais de crescimento.
A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho deve ir além do discurso e se tornar uma prática efetiva. Conforme aponta a pesquisa, 98% dos entrevistados afirmam que, além de garantir representatividade, as empresas devem implementar programas que promovam a valorização e o crescimento desses profissionais.
A mudança não beneficia apenas os trabalhadores com deficiência, mas também as empresas, que ganham com diversidade, inovação e um ambiente de trabalho mais equilibrado e produtivo. Afinal, a inclusão verdadeira acontece quando todos têm as mesmas chances de crescer e liderar.