Além do janeiro branco: saúde mental nas empresas e o impacto para negros

Mediando uma mesa durante a agenda CRIA G20, em novembro de 2024, ouvi de Evandro Fióti a frase: “Já escondi meu choro, hoje digo que o choro é livre.” E pronto: parecia que ali o mar se abria diante de mim, numa exposição jamais imaginada por alguém que, sendo “CEO”, tem colaboradores. O rapper, então um dos nomes mais notáveis da indústria audiovisual do país, falava sobre sua dor individual e também sobre como lidar com o que é trazido para dentro do núcleo de trabalho que gerencia.

Tendo o mês de janeiro acabado – apesar de ainda restar dúvidas tamanha demora – corremos o risco de ver a temática da saúde mental, em que durante o primeiro mês do ano faz com que campanhas de conscientização ganhem visibilidade, vá para o ralo. Sendo este o motivo de Arthur Lima, empresário e sócio-fundador da AfroSaúde, fazer o assunto estar presente além do calendário no âmbito empresarial.

Saúde mental e diversidade nas empresas.
Arthur Lima e Igor Leo Rocha, fundadores do AfroSaúde | Foto: Reprodução\Marianna Calmon

‘’A ideia é justamente mostrar que as ações de saúde mental são acessíveis e que quando a empresa engaja nesta pauta, existe o retorno do investimento, principalmente com a redução de custos relacionados ao absenteísmo, demissões, novas contratações e baixa produtividade’’, comenta.

Dados no Brasil apontam que o número de trabalhadores afastados pela síndrome de burnout, também tipificada como esgotamento físico e mental por causa do trabalho, quadruplicou entre 2020 a 2023. No tocante à temática, houve um aumento de mais de 1.000% em relação à última década.

Para Lima, a abordagem do assunto pode ser instrumento utilizado para além do poder de giro dos empreendimentos. ‘’Mesmo as microempresas, com recursos mais limitados, podem adotar boas práticas. A chave está em ações acessíveis, contínuas e alinhadas à realidade do negócio. Algumas estratégias viáveis incluem a construção de uma cultura organizacional baseada no respeito e na valorização da diversidade. Isso começa com diálogos abertos sobre saúde mental e racismo, permitindo que as pessoas negras se sintam ouvidas e apoiadas’’.

AfroSaúde

Criada em 2020, a AfroSaúde é uma startup que foca majoritariamente na saúde da população negra, e para Arthur, há uma conexão direta com questões raciais específicas que afetam a saúde mental dos colaboradores negros. ‘’Muitos profissionais negros enfrentam um ambiente corporativo que não reconhece suas vivências, o que pode gerar um sentimento de isolamento, esgotamento emocional e ansiedade.

Além disso, a necessidade constante de provar sua competência ou adaptar seu comportamento para ser aceito, uma estratégia social em que as pessoas alternam o seu estilo de fala, vestimenta e comportamento para se adaptar. Essa constante mudança gera um esforço mental exaustivo que impacta a saúde emocional no longo prazo’’. 

Como missão, a empresa acredita que as iniciativas de saúde mental dentro das empresas precisam ser adaptadas para considerar esses desafios específicos, como a oferta de programas de suporte psicológico com profissionais que compreendam as interseccionalidades raciais, além de políticas organizacionais que combatam o racismo no ambiente de trabalho. ‘’Não se trata apenas de disponibilizar acesso à terapia, mas, de criar um ambiente onde a pessoa negra se sinta segura para expressar suas experiências sem medo de represálias ou julgamentos’’. Aqui em Super Finanças, não cansaremos de falar sobre isso. 

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você