O empreendedorismo feminino no Brasil tem ganhado força, mas, mesmo com o aumento do número de mulheres à frente de seus próprios negócios, as empresárias ainda enfrentam desafios significativos em relação à renda.
Dados de uma pesquisa realizada pelo Sebrae mostram que, no quarto trimestre de 2024, as mulheres receberam, em média, R$ 2.867, um valor 24,4% inferior ao rendimento médio dos homens, que foi de R$ 3.793. Esse cenário destaca a persistente desigualdade salarial entre os gêneros, mesmo no setor.

A evolução do empreendedorismo feminino
Apesar da diferença salarial, a pesquisa revela uma melhoria na situação das mulheres empreendedoras ao longo dos anos. No quarto trimestre de 2012, o rendimento médio das mulheres empreendedoras era de R$ 2.430, o que representa um crescimento de 18% até 2024.
Já os homens, que na época ganhavam, em média, R$ 3.487, tiveram um aumento de apenas 9%. Esses números indicam uma evolução na renda das empresárias, embora a disparidade entre os gêneros ainda seja considerável.
Escolaridade
Outro dado relevante da pesquisa é o nível de escolaridade das mulheres empreendedoras. Entre 2012 e 2024, o percentual de mulheres com ensino superior incompleto ou completo aumentou em 16,5 pontos percentuais.
Em contrapartida, o percentual de homens com esse nível de escolaridade cresceu 9,2 pontos percentuais. Apesar de as mulheres estarem mais escolarizadas, isso não parece refletir diretamente em seus rendimentos, o que sugere que outros fatores estão em jogo.
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A desigualdade de horas trabalhadas
A diferença de renda entre mulheres e homens também pode ser explicada pela carga de trabalho desigual. De acordo com a pesquisa, as mulheres empreendedoras trabalharam, em média, 35 horas por semana no quarto trimestre de 2024. Já os homens dedicaram, em média, 41 horas ao trabalho.
Esse fator pode ser atribuído, em grande parte, ao “trabalho invisível” que recai sobre muitas mulheres, como o cuidado com a casa, os filhos e os idosos. Essa carga dupla dificulta o crescimento de negócios liderados por mulheres, uma vez que elas têm menos tempo disponível para se dedicar ao empreendimento.
O impacto do “trabalho invisível”
Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae, explica que a cultura doméstica e a divisão desigual das tarefas no lar impactam diretamente o rendimento das mulheres empreendedoras. “Infelizmente, sabemos que a cultura da rotina doméstica, da forma como se dá hoje, massacra o potencial de muitas futuras empresárias e dificulta o crescimento de vários negócios liderados por mulheres”, afirma Coelho. Esse fenômeno, que afeta especialmente as mulheres chefes de domicílio, pode ser um dos principais obstáculos para o crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil.
Mulheres e o papel de chefes de domicílio
A pesquisa também revela um aumento no número de mulheres que são donas de negócio e chefes de domicílio. Em 2024, mais da metade (52,3%) das mulheres empreendedoras também eram responsáveis pelas finanças e administração da casa. Isso reflete uma mudança nas dinâmicas familiares, mas também revela a pressão adicional que as mulheres enfrentam ao tentar equilibrar suas responsabilidades domésticas e empreendedoras.
O futuro do empreendedorismo feminino
Atualmente, o Brasil conta com 30,4 milhões de pessoas à frente de seus próprios negócios, sendo 10,4 milhões (34,1%) mulheres. Esses números mostram a importância crescente do empreendedorismo feminino no país, embora o caminho para a igualdade de gênero ainda seja longo. As políticas públicas e iniciativas voltadas ao apoio das mulheres empreendedoras devem ser fortalecidas para garantir que as desigualdades salariais e de condições de trabalho sejam combatidas de forma eficaz.
É fundamental que o Brasil avance para criar um ambiente mais igualitário para as mulheres no empreendedorismo. As mudanças na cultura doméstica, o incentivo à educação e a criação de políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades podem ser passos importantes para que as mulheres empreendedoras consigam alcançar os mesmos rendimentos que seus colegas homens. Além disso, é necessário que as empresas e organizações promovam a equidade de gênero em todos os setores, proporcionando um ambiente mais justo e inclusivo para todos os empreendedores.
Apesar das dificuldades e desigualdades enfrentadas, as mulheres continuam a crescer no universo do empreendedorismo brasileiro. Porém, é preciso superar os desafios relacionados ao “trabalho invisível” e à carga doméstica desigual, além de combater a discriminação salarial.
Somente com o apoio adequado e uma mudança nas estruturas sociais e econômicas será possível garantir que as mulheres empreendedoras possam competir em igualdade de condições no mercado de trabalho.