A cannabis medicinal tem ganhado espaço nos debates globais, especialmente no que diz respeito ao uso terapêutico e aos impactos sociais e econômicos da descriminalização. Durante o Gramado Summit, Patrícia Marino, advogada empresarial e ativista, compartilhou sua visão sobre a luta pela descriminalização da cannabis e a importância de uma regulamentação clara para o uso medicinal da planta. Em uma entrevista conduzida por Ad Junior, Patrícia abordou desde o uso terapêutico da cannabis até o impacto da criminalização no contexto social e econômico.
Uma mudança de perspectiva
Para Patrícia Marino, a luta pela cannabis medicinal não é apenas uma questão de saúde, mas também de direitos humanos. A advogada, que começou sua carreira no mundo empresarial, se viu imersa na causa quando começou a estudar o uso medicinal da planta e percebeu a carência de informações e o preconceito existente. “Muitas pessoas não compreendem que, para diversas famílias, o uso da cannabis não é uma escolha, mas uma necessidade”, explica.
O interesse de Patrícia pelo tema se intensificou após o lançamento do documentário “Ilegal”, que aborda a luta de mães que precisam de medicamentos à base de óleo de cannabis para tratar seus filhos. O documentário trouxe à tona a dura realidade enfrentada por essas famílias e a falta de alternativas no mercado formal de saúde. “É uma questão de sobrevivência para essas mães. Não é justo que, além de enfrentarem a doença de seus filhos, elas ainda precisem lidar com a criminalização”, afirmou.
Comparações internacionais e avanços na regulamentação da cannabis
Durante a entrevista, Patrícia também fez um paralelo entre a regulamentação da cannabis em países como Uruguai e Estados Unidos, e o cenário atual no Brasil. Enquanto no Uruguai a planta já é descriminalizada e há um mercado regulamentado para o uso medicinal e recreativo, nos Estados Unidos o processo é mais complexo, com regulamentações variando de estado para estado. A Alemanha, que recentemente avançou em sua regulamentação, foi outro exemplo citado pela advogada. “É importante olhar para esses modelos e entender como podemos adaptá-los à nossa realidade, pensando sempre na saúde pública e na segurança”, destacou Patrícia.
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Para ela, a regulamentação do mercado de cannabis no Brasil poderia trazer inúmeros benefícios econômicos e sociais, como a geração de empregos, aumento de arrecadação e, principalmente, a redução da criminalidade associada ao tráfico de drogas. “Precisamos entender que descriminalizar não significa incentivar o uso, mas sim tratar a questão de forma responsável, com políticas públicas que protejam a população e integrem essas pessoas ao mercado formal”, pontuou.
Tecendo Liberdade: um projeto de reintegração
Além de sua atuação na área da cannabis medicinal, Patrícia Marino também está à frente do projeto “Tecendo Liberdade” no qual visa a reintegração de mulheres que foram encarceradas por crimes relacionados ao tráfico de drogas. O projeto surgiu da constatação de que muitas dessas mulheres, ao saírem da prisão, enfrentam grandes dificuldades para se reinserir na sociedade, sem acesso a emprego ou oportunidades de estudo.
“Essas mulheres muitas vezes são mães, esposas, avós, que se envolveram com o tráfico por falta de alternativas. O Tecendo Liberdade busca oferecer um novo começo, com cursos de capacitação, apoio psicológico e inserção no mercado de trabalho”, explicou Patrícia. O projeto tem como objetivo não apenas ajudar na reintegração dessas mulheres, mas também promover uma discussão mais ampla sobre as falhas do sistema penitenciário e as consequências da criminalização do uso de drogas.
O impacto social da regulamentação da cannabis
Para Patrícia, a regulamentação da cannabis no Brasil pode ser um importante passo para reduzir a criminalidade e os altos índices de encarceramento, especialmente entre mulheres. Ela argumenta que a criminalização do uso de drogas tem impactos devastadores, particularmente em comunidades marginalizadas, onde a falta de oportunidades leva muitos a se envolverem com o tráfico.
“A legalização da cannabis, acompanhada de políticas públicas eficazes, pode tirar muitas pessoas do ciclo de criminalidade e oferecer novas oportunidades. É uma chance de reverter a lógica punitiva e investir em saúde, educação e emprego”, afirmou.
O futuro da cannabis medicinal no Brasil
Patrícia Marino e seus parceiros, como Humanitas Cívico e Green Hub, têm trabalhado para ampliar o debate sobre a cannabis medicinal no Brasil. Com eventos como o Cannabis Summit, eles buscam trazer mais conhecimento e combater o estigma que ainda cerca o tema. Para ela, é fundamental que a sociedade brasileira entenda o potencial medicinal e econômico da planta, além de seus impactos positivos para a saúde pública.
“Ainda há muito preconceito e desinformação. Precisamos conversar mais sobre isso, mostrar os benefícios comprovados do uso medicinal da cannabis e, principalmente, lutar por uma regulamentação que contemple todas as necessidades da população”, concluiu.
A entrevista de Patrícia Marino com Ad Junior durante o Gramado Summit foi um importante passo para dar visibilidade a essa causa e reforçar a necessidade de uma abordagem mais humana e menos punitiva em relação ao uso da cannabis. Com o trabalho de ativistas como Patrícia, o debate sobre a descriminalização e regulamentação da cannabis no Brasil continua avançando, trazendo esperança de mudanças significativas para o futuro do país.