As mulheres representam apenas 25% dos profissionais que atuam no setor de cibersegurança, Projeto METIS chega para mudar este cenário
Os profissionais de segurança cibernética e inteligência artificial são dois dos mais procurados no mercado atualmente, em parte devido à quantidade sem precedentes de dados gerados e à popularização de dispositivos como computadores e smartphones.
Estima-se que, nos últimos dois anos, 90% dos dados foram criados, incluindo informações sensoriadas continuamente por diversos dispositivos, como câmeras de monitoramento, sensores de presença, smart trackers, além de fotos no Instagram, vídeos no TikTok, histórico de navegação, carrinhos de compras e muitos outros.
Mulheres no mundo da segurança cibernética
Apesar da crescente demanda por profissionais que garantam a segurança desses dados e da alta empregabilidade no setor, apenas 25% dos postos de trabalho em cibersegurança são ocupados por mulheres.
A cientista da computação Michele Nogueira, Ph.D. em Ciência da Computação pela Universidade de Sorbonne e professora da UFMG, que atua em pesquisas sobre o uso da Inteligência Artificial em Cibersegurança, faz parte desse grupo de 25% de mulheres no setor.
Para reverter a predominância masculina em carreiras de tecnologia, Michele coordena o Projeto METIS, que visa incentivar a participação feminina no ramo de segurança cibernética. “Métis é a deusa grega da proteção. As mulheres têm uma preocupação intrínseca com a proteção, por isso trazem perspectivas diferenciadas e necessárias para a construção de soluções de cibersegurança”, explica a cientista.
O que é o Projeto METIS?
O Projeto METIS tem como principais objetivos a conscientização de meninas sobre a possibilidade de atuação em cibersegurança desde o ensino fundamental até o superior, o desenvolvimento de habilidades dessas jovens, a formação de redes de mentoria e parcerias estratégicas, a promoção da inclusão social por meio de uma profissão altamente demandada e bem remunerada, além de influenciar a criação de políticas públicas que incentivem a atuação feminina na área.
“Nosso objetivo é mudar a realidade que nós, cientistas em STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), enfrentamos hoje, quando estamos em reuniões com colegas e somos sempre a minoria. Às vezes, há uma ou duas mulheres entre tantos homens”, relata Michele.
Ela aprendeu a lidar com essa situação e, com o tempo, foi ganhando confiança para se posicionar em situações em que ser mulher gerava desconforto.
“Eu entendo que seja desconfortável para muitas meninas e mulheres, até pela forma como alguns homens atuam. Muitas vezes, eles nem percebem o que estão fazendo. Alguns nos interrompem antes de terminarmos de falar, e outras vezes, quando falamos algo importante, não é valorizado, mas quando um homem diz a mesma coisa depois, todos valorizam. Isso é cultural, e precisamos trabalhar nisso de forma ampla. Eu sempre tive uma personalidade forte, mas em algumas situações me resguardava, quando na verdade deveria falar. Fui aprendendo a me posicionar com o tempo. Mas essa cultura não é exclusiva dos homens, muitas mulheres também se submetem a ela”, reflete Michele.
Ela lembra que, mesmo na graduação, era minoria na sala de aula, mas sempre se destacou pelo desempenho, o que a fazia sentir-se integrada ao grupo. “Apesar de a maioria ser masculina, sempre tive uma relação muito boa com os colegas de turma. Talvez porque sempre me destacava nas disciplinas, eles me aceitavam. Pode ser que me aceitassem por esse aspecto, não necessariamente por ser mulher ou não”, analisa.
Projeto Mind the Gap do Google
Michele foi convidada pelo Google Belo Horizonte a apresentar o METIS no escopo do programa Mind the Gap, implementado mundialmente pelo Google para despertar o interesse de meninas pela área de computação e engenharia. O encontro com alunas do ensino médio ocorreu na sede do Google BH, em agosto.
Mas essa não foi a primeira vez que Michele participou dessas ações. “A ideia é estimular as meninas a trilharem o caminho da pesquisa, através de referências. Fiz doutorado na mesma universidade onde Marie Curie fez o dela, e foi a primeira professora mulher na área de exatas da instituição. Isso é muito significativo, vivenciar a história dela: a primeira mulher a ingressar na Sorbonne, no final do século XIX. Se hoje enfrentamos preconceitos, imagina ela, sozinha, em uma época em que a maioria das mulheres sequer tinha oportunidade de se alfabetizar”, conclui Michele Nogueira.