Robô humanóide vende obra de arte por R$ 6 milhões em leilão

Uma pintura de Alan Turing, pioneiro da computação, feita pelo robô humanóide Ai-Da, foi vendida em leilão por impressionantes R$ 6 milhões. O valor é o maior já registrado para uma obra criada por um robô e gerou discussões sobre o futuro da inteligência artificial (IA) na arte e no mercado de leilões. Ai-Da, criada pelo galerista britânico Aidan Meller, é conhecida por sua capacidade de comunicar-se com humanos e criar obras originais a partir de seu próprio “processo artístico” baseado em algoritmos.

Um recorde que desafia o mercado de arte

O leilão foi conduzido pela Sotheby’s em Nova York e atraiu 27 lances, muito acima da previsão inicial de R$ 688 mil a R$ 1 milhão. Este preço recorde sugere uma valorização crescente de obras de arte criadas por IA, e Meller comparou o impacto da obra de Ai-Da à invenção da fotografia, um marco que revolucionou a criação artística.

“A câmera alterou profundamente o mundo da arte, e sinto que a IA é algo ainda mais amplo, com implicações que vão além da representação”, afirmou Meller. No entanto, a obra da Ai-Da também traz uma camada extra de questionamento, pois explora um campo que muitos veem como exclusivamente humano: a criação artística.

Para o crítico de arte Alastair Sooke, do jornal britânico The Telegraph, a obra de Ai-Da é apenas uma “versão sofisticada das conhecidas tentativas de animais de pintar”. Embora Sooke questione a originalidade e autenticidade dessas criações, o mercado demonstrou um interesse crescente por arte gerada por IA, revelando uma demanda pela novidade e pelo caráter experimental desse tipo de produção.

Quem é Ai-Da? Conheça o robô artista

Retrato de Alan Turing feito por Ai-Da é vendido por R$ 6 milhões em leilão • Sotheby’s via CNN Newsource

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Retrato de Alan Turing feito por Ai-Da é vendido por R$ 6 milhões em leilão | Foto: Reprodução/ Sotheby’s via CNN Newsource

Ai-Da foi criada em 2019 em uma parceria entre Meller e uma empresa de robótica da Cornualha, Inglaterra, e se tornou o primeiro robô humanóide a criar obras artísticas de forma independente. A robô possui braços robóticos que lhe permitem segurar pincéis, uma câmera embutida nos olhos para captar imagens e modelos de linguagem para se comunicar com os seres humanos.

A obra leiloada, intitulada “AI God: Portrait of Alan Turing”, mostra uma série de retratos do cientista, cujo trabalho ajudou a decifrar códigos nazistas na Segunda Guerra Mundial e lançou as bases para a computação moderna. Além de ser um tributo à história de Turing, a escolha do retrato do matemático britânico carrega um simbolismo profundo: Turing foi uma figura essencial na história da inteligência artificial e da ciência da computação, setores que hoje veem a ascensão de tecnologias como a própria Ai-Da.

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Processo criativo e limites éticos

Antes de iniciar a obra, Ai-Da foi “consultada” por seus criadores, que discutiram com ela os temas que ela gostaria de explorar em suas pinturas. A ideia de homenagear Turing surgiu durante uma dessas conversas, e a robô concordou, citando o papel dele na história da IA. A partir disso, Ai-Da usou suas câmeras para olhar uma foto de Turing e esboçar o retrato. Em seguida, criou 15 pinturas de diferentes partes do rosto do matemático, que levaram de seis a oito horas para serem finalizadas.

Após concluir as imagens, Ai-Da selecionou três para compor o trabalho final, que ainda incluiu uma representação da “Máquina Bombe”, usada por Turing na decodificação de mensagens. As obras foram unidas e impressas em uma tela maior, usando uma impressora 3D, mantendo a textura e integridade do trabalho original criado pelo braço robótico.

Reflexões sobre o futuro da IA e da arte

A criação de Ai-Da levanta questões importantes sobre o papel da inteligência artificial no mercado de arte. Alguns críticos temem que a IA torne obsoleta a criação humana, enquanto outros veem nela um novo capítulo da história da arte. Meller argumenta que a obra de Ai-Da reflete um “mundo pós-humano”, onde as decisões são cada vez mais algorítmicas. Segundo ele, Ai-Da não é apenas um robô: ela representa um espelho para a sociedade refletir sobre o avanço e os impactos das tecnologias emergentes.

Em comunicado, Ai-Da declarou que seu objetivo é “provocar discussões sobre os avanços tecnológicos” e incentivar o público a refletir sobre o “potencial divino” da IA e suas implicações éticas e sociais. O retrato de Turing, segundo Ai-Da, visa justamente inspirar essa reflexão: “Turing reconheceu esse potencial e nos observa enquanto avançamos em direção a um futuro desconhecido”.

AI na arte: uma nova fronteira para o mercado?

Para muitos observadores, a venda de “AI God: Portrait of Alan Turing” representa um ponto de virada para o mercado de arte, que começa a incorporar a inteligência artificial como uma ferramenta de expressão válida. Ao mesmo tempo, essa nova forma de arte traz à tona dilemas éticos. Até que ponto uma obra de IA pode ser considerada arte original? Seria justo que essas criações fossem avaliadas nas mesmas bases das obras humanas? Esses questionamentos são inevitáveis e refletem o impacto transformador da IA em diversos setores, inclusive na arte.

A Sotheby’s, responsável pelo leilão, acredita que o interesse por obras como a de Ai-Da continuará crescendo. Além de serem únicas, essas obras de IA oferecem uma visão do potencial da tecnologia para criar arte de maneiras nunca antes imaginadas. Como a fotografia e o cinema revolucionaram a arte no passado, a inteligência artificial pode, agora, estar inaugurando uma nova era de possibilidades.

Conclusão: Arte feita por robôs veio para ficar?

A venda de uma obra de IA por R$ 6 milhões não apenas reafirma o interesse do mercado por inovações tecnológicas, mas também abre discussões profundas sobre o papel da inteligência artificial e o futuro da criação artística. No fim, a presença de Ai-Da e suas obras no mundo da arte pode ser vista como uma experiência que vai muito além da técnica, representando o cruzamento entre humanidade e tecnologia.

O caminho da IA na arte ainda é incerto, mas é claro que obras como a de Ai-Da atraem olhares e fomentam debates necessários. Afinal, estamos diante de um futuro onde a inteligência artificial deixará de ser uma mera ferramenta e passará a ter uma identidade própria no mundo das artes? Esse é um dos mistérios que o mercado e o público terão que desvendar nos próximos anos.

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