A Meta, empresa dona do Facebook, decidiu encerrar seus programas de diversidade, equidade e inclusão , que abrangem ações como recrutamento, treinamento e seleção de fornecedores. A medida ocorre antes da possível volta do republicano Donald Trump à presidência dos EUA, em um momento em que a oposição conservadora a essas iniciativas está crescendo.
Várias grandes empresas dos Estados Unidos estão reduzindo suas ações de diversidade, anos depois de terem implementado políticas mais inclusivas, especialmente após os protestos contra os assassinatos de George Floyd e de outros negros americanos pela polícia em 2020.
A Meta informou sobre o fim de seus programas DEI, que se referem a iniciativas voltadas para Diversidade, Equidade e Inclusão (Diversity, Equity, and Inclusion, em inglês), em um memorando interno enviado aos funcionários. Essa decisão faz parte de uma série de mudanças que têm sido bem recebidas por grupos conservadores.
A empresa de mídia social, liderada por Mark Zuckerberg, tem tentado melhorar suas relações com Trump, que criticou suas políticas de conteúdo político e até ameaçou o CEO com prisão.
Diferente de ações anteriores, a Meta anunciou em dezembro uma doação de US$ 1 milhão para o fundo inaugural de Trump, se juntando a outras grandes empresas de Wall Street e do Vale do Silício que também prometeram contribuições.
Por que a Meta trocou checagem por notas da comunidade?
Recentemente, a empresa também descontinuou seu programa de verificação de fatos nos EUA, promoveu o republicano Joel Kaplan a diretor de relações globais e colocou Dana White, CEO do UFC e aliado próximo de Trump, em seu conselho.
Em um vídeo publicado no blog da Meta no dia 7 de janeiro, o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, anunciou que o Facebook e o Instagram não usarão mais serviços de checagem independente de fatos.
O sistema atual, que conta com análises de jornalistas e especialistas, será substituído pelas “notas da comunidade”. Esse novo modelo permite que os próprios usuários colaborem, seguindo uma ideia parecida com a adotada pela plataforma X.
A Meta, proprietária do Facebook, está alterando suas políticas de checagem de fatos, com a justificativa de reduzir a “censura” nas redes sociais, o que foi visto como um avanço por defensores da liberdade de expressão, incluindo apoiadores de Donald Trump.
Mark Zuckerberg explicou que os moderadores anteriores tinham viés político e que é necessário priorizar a liberdade de expressão. No entanto, a mudança gerou preocupações entre ativistas e especialistas em segurança online, que temem um aumento na desinformação e no discurso de ódio.
Há também uma percepção de que a decisão da Meta está relacionada ao alinhamento político com o governo Trump, que assume a presidência em 2025. Críticos sugerem que a Meta está tentando agradar a Trump para evitar problemas legais e antitruste. A Meta, que enfrenta processos relacionados ao seu monopólio, tem buscado se adaptar ao novo cenário político dos EUA.
Além disso, Zuckerberg afirmou que a Meta quer colaborar com o governo dos EUA para combater a censura global e criticou a Europa, América Latina e China por suas práticas de censura. Embora defensores da liberdade de expressão vejam as mudanças como uma resposta à demanda por mais imparcialidade nas plataformas, especialistas destacam que isso pode aumentar os riscos relacionados à segurança online, como a disseminação de desinformação. Grupos no Brasil também manifestaram preocupações sobre os impactos dessa mudança, e o Ministério Público Federal promete investigar.
Reações de usuários e impacto nas plataformas da Meta
As mudanças geraram opiniões divergentes entre os usuários. Alguns veem a decisão como um avanço em direção à liberdade de expressão, enquanto outros expressaram descontentamento. Um usuário, por exemplo, sugeriu que seria o momento de excluir o Threads, considerando que o serviço foi bom enquanto durou.
Entretanto, o impacto dessa decisão pode ser maior do que as reações pessoais. De acordo com Benvie, a perda do status de “espaço seguro” do Instagram e do Threads pode levar os usuários a migrarem para plataformas concorrentes, como o Bluesky.
Além disso, a diminuição das restrições ao conteúdo político e social levanta preocupações sobre o aumento do discurso de ódio e da desinformação, o que poderia comprometer a integridade das plataformas.
Estratégia ou risco?
A decisão da Meta representa uma estratégia audaciosa para reposicionar o Instagram e o Threads em um mercado de redes sociais altamente competitivo. Enquanto o Twitter (agora X) enfrenta dificuldades sob a gestão de Elon Musk, a Meta busca se estabelecer em um espaço mais diversificado, embora corra o risco de alienar uma parte de seus usuários.
No entanto, essa abordagem também coloca em questão os valores das plataformas. Se, por um lado, há um fortalecimento da liberdade de expressão, por outro, surgem desafios em relação à moderação e à manutenção da integridade.
O tempo dirá se a Meta conseguirá encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a necessidade de proteger seus usuários dos efeitos negativos dessas mudanças.
As ações da Amazon
A Amazon também informou que vai encerrar programas e materiais desatualizados relacionados à inclusão e diversidade, com a intenção de concluir esse processo até o final de 2024, de acordo com um memorando enviado aos funcionários.
Grupos conservadores têm criticado os programas DEI e ameaçado processar empresas que os mantêm, apoiados por uma decisão da Suprema Corte dos EUA em 2023, que anulou a ação afirmativa nas admissões universitárias.
Recentemente, Elon Musk e outros aliados de Trump responsabilizaram os programas DEI pela dificuldade na resposta aos incêndios florestais em Los Angeles, sem apresentar evidências que comprovem essa alegação.
Janelle Gale, vice-presidente de Recursos Humanos da Meta, mencionou no memorando que o cenário legal e político relacionado aos esforços de diversidade, equidade e inclusão nos Estados Unidos está mudando. Ela destacou que recentes decisões da Suprema Corte sugerem uma mudança na maneira como os tribunais americanos tratarão os programas DEI no futuro.
Em dezembro, um tribunal de apelações dos EUA determinou que a Nasdaq não poderia exigir que empresas listadas na bolsa tivessem mulheres e diretores minoritários em seus conselhos, ou explicassem o motivo de não cumprirem essa exigência, para promover a diversidade.
Gale também observou que o termo “DEI” se tornou controverso, já que alguns o veem como uma prática que favorece determinados grupos em detrimento de outros.
Como parte das mudanças, a Meta não terá mais uma equipe dedicada exclusivamente aos programas de DEI. A Chief Diversity Officer, Maxine Williams, assumirá um novo papel focado em acessibilidade e engajamento, conforme foi informado no memorando.
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