O preço da gasolina no Brasil está 5% acima dos valores praticados no Golfo do México, referência utilizada por importadores para comparar os custos. Isso se deve à queda nas cotações do petróleo no mercado internacional, que ainda não se refletiu integralmente nas refinarias brasileiras.
De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para que o preço da gasolina no Brasil se alinhe ao mercado externo, seria necessário um corte médio de R$ 0,16 por litro.
A disparidade de preços também é vista no diesel, especialmente na Refinaria de Mataripe, na Bahia, que atualmente é a única unidade privada de refino no Brasil. O diesel proveniente dessa refinaria está 3% mais caro em comparação ao praticado no exterior. Enquanto isso, o preço do diesel nas refinarias da Petrobras se mantém estável, conforme dados da Abicom.
Essa diferença de preços é particularmente preocupante para consumidores, que têm sentido o peso no bolso, e para o setor de transporte, que depende do diesel para suas operações. Além disso, o cenário abre oportunidades para importadores de combustíveis, uma vez que a diferença nos valores internos e externos cria uma janela de lucratividade na importação.
O impacto do petróleo no mercado de combustíveis
A oscilação nos preços do petróleo tem sido um fator determinante para o comportamento do mercado de combustíveis no Brasil. Com o recuo das cotações do petróleo no mercado internacional, era esperado que os derivados da commodity, como gasolina e diesel, também sofressem queda de preço no Brasil. No entanto, o que se observa é que essa diminuição tem sido mais lenta ou não ocorreu de forma proporcional.
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O Brasil adota uma política de preços atrelada ao mercado internacional, com as refinarias ajustando seus preços conforme as variações do valor do barril de petróleo. Porém, essa prática nem sempre acompanha as quedas de maneira rápida, o que resulta em uma diferença de preços em relação ao exterior. Essa defasagem de preços entre o Brasil e o Golfo do México — mercado de referência para importadores — pode gerar pressão sobre o governo e a Petrobras, levando a discussões sobre políticas de precificação mais eficazes.
Refinaria de Mataripe: impacto da privatização no preço do diesel
A Refinaria de Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves, localizada na Bahia, é a única unidade privada de refino no Brasil desde sua privatização. A venda desta refinaria, em 2021, foi parte de uma estratégia da Petrobras para reduzir sua participação no setor de refino, promovendo maior competição no mercado. No entanto, a operação da refinaria pela Acelen, controlada pelo fundo de investimentos Mubadala, tem gerado polêmicas devido aos preços praticados.
O diesel refinado em Mataripe está 3% mais caro em comparação ao mercado internacional. Esse aumento está diretamente relacionado à política de preços da unidade, que adota uma abordagem diferente das refinarias da Petrobras. Enquanto as refinarias estatais têm mantido os preços do diesel estáveis, a refinaria privada ajustou seus preços para cima, refletindo uma diferença significativa para os consumidores e transportadoras, principalmente na região Nordeste.
Essa situação levanta questionamentos sobre os efeitos da privatização no setor de combustíveis. Embora a venda da refinaria tenha sido justificada como uma medida para aumentar a concorrência e melhorar a eficiência do mercado, os consumidores não têm visto uma redução nos preços, pelo contrário, enfrentam uma alta em produtos essenciais como o diesel.
Oportunidades e desafios no mercado de importação de gasolina e diesel
Com os preços internos de gasolina e diesel mais altos do que no exterior, as oportunidades de importação de combustíveis aumentam. Segundo a Abicom, as chamadas “janelas de importação” estão abertas, permitindo que empresas brasileiras comprem combustíveis de outros países a preços mais baixos e revendam no mercado interno com margem de lucro.
A importação de combustíveis, no entanto, traz desafios logísticos e regulatórios, que podem impactar o volume de combustíveis disponíveis e os preços finais ao consumidor. Empresas que operam no setor precisam lidar com questões como custo de transporte, variações cambiais e taxas de importação, o que pode reduzir a atratividade dessas operações em determinados momentos.
Outro ponto de destaque é a capacidade de armazenamento e distribuição de combustíveis importados. Embora as importações possam ajudar a conter os preços internos, é necessário garantir que a infraestrutura do país seja adequada para lidar com o aumento no volume de combustíveis trazidos de fora. Caso contrário, o efeito positivo das importações pode ser diluído, mantendo os preços elevados para os consumidores.
O que esperar para o futuro dos combustíveis como gasolina e diesel?
A pressão para que os preços dos combustíveis no Brasil sejam ajustados à queda internacional do petróleo deve continuar nos próximos meses. Embora o governo e a Petrobras tenham adotado medidas para conter a alta dos preços em 2023, como a redução de impostos sobre os combustíveis, essas políticas podem não ser suficientes diante das mudanças no cenário global.
A diferença de preços entre o Brasil e o exterior tende a provocar novas discussões sobre a política de preços dos combustíveis e o papel do governo no controle desse mercado. Para os consumidores, a expectativa é de que os preços da gasolina e do diesel se alinhem mais rapidamente às cotações internacionais, aliviando os gastos e impulsionando a economia.
No entanto, fatores como a volatilidade do preço do petróleo, a demanda por combustíveis no exterior e a capacidade de refino do Brasil continuarão influenciando o mercado de combustíveis no país. Assim, tanto o governo quanto o setor privado precisarão encontrar um equilíbrio que beneficie a economia sem comprometer a competitividade das empresas e a acessibilidade para os consumidores.