A projeção do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira em 2024 foi revisada para cima, atingindo agora 3%, segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (23). Essa elevação na previsão ocorre após o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre ter superado as expectativas, registrando um crescimento de 1,4% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
Essa nova projeção coloca o crescimento de 2024 em linha com o desempenho registrado em 2022 e 2023, quando o PIB cresceu 3% e 2,9%, respectivamente. A recuperação econômica após a pandemia de COVID-19 e o controle gradual da inflação têm permitido um cenário mais positivo para o país, mesmo diante de desafios externos, como as incertezas globais e a pressão inflacionária.
PIB em alta impulsiona revisão de projeções
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento do PIB no segundo trimestre de 2024 foi impulsionado por setores-chave da economia, como o agronegócio e a indústria de transformação. Comparado ao mesmo período de 2023, o PIB registrou uma alta de 3,3%, reforçando a resiliência da economia brasileira.
Com base nesses dados, o mercado financeiro ajustou suas previsões, acreditando que o Brasil conseguirá manter um ritmo de crescimento estável, ainda que menor nos próximos anos. Para 2025, a estimativa de crescimento do PIB permanece em 1,9%, com expectativas de 2% para 2026 e 2027. A continuidade de investimentos e a melhora do ambiente de negócios são fatores considerados fundamentais para manter o país em uma trajetória de expansão.
Inflação controlada, mas acima da meta
O Boletim Focus também trouxe uma atualização nas projeções para a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o principal indicador da inflação no Brasil, está estimado em 4,37% para 2024. Essa taxa, embora superior à meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ainda se encontra dentro da margem de tolerância, que varia entre 1,5% e 4,5%.
A inflação elevada está sendo monitorada de perto pelo Banco Central, que usa a taxa básica de juros, a Selic, como principal ferramenta de controle. O BC adota uma política de juros altos para conter a demanda e reduzir pressões inflacionárias, mas a expectativa é que a inflação retorne a níveis mais moderados em 2025, quando a projeção é de 3,97%.
A influência dos juros na economia, segundo o mercado
Um dos principais instrumentos para manter a inflação sob controle é a taxa Selic, atualmente fixada em 10,75% ao ano. Após uma série de cortes ao longo de 2023 e 2024, a Selic foi mantida estável nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), mas o mercado espera um possível aumento na próxima reunião, marcada para os dias 5 e 6 de novembro.
O mercado financeiro projeta que a Selic encerrará 2024 em 11,5% ao ano. Para os anos seguintes, as expectativas indicam uma gradual redução, com a taxa básica caindo para 10,5% em 2025 e chegando a 9% em 2027. Essas previsões refletem um cenário em que a economia brasileira deve continuar a expandir, embora em um ritmo moderado, com o Banco Central tentando equilibrar o crescimento econômico e o controle da inflação.
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O impacto da taxa Selic sobre a economia é significativo, especialmente em setores que dependem de crédito, como a construção civil e o comércio. Juros mais altos encarecem o crédito, o que pode esfriar a demanda e desacelerar a atividade econômica. Por outro lado, quando a taxa é reduzida, o crédito se torna mais acessível, incentivando o consumo e a produção.
Câmbio e projeções para o dólar
Outro fator relevante para a economia brasileira é o câmbio. A previsão do mercado é que o dólar termine 2024 cotado a R$ 5,40, o que representa uma ligeira desvalorização da moeda brasileira em relação ao nível atual. Essa variação cambial tem impacto direto sobre os preços de produtos importados, podendo influenciar a inflação doméstica, além de afetar setores como o agronegócio, que é altamente dependente das exportações.
Para 2025, a previsão é que o dólar caia para R$ 5,35. Essa leve valorização do real em relação ao dólar está associada a uma expectativa de recuperação econômica global e à melhoria das condições fiscais no Brasil.
Expectativas para o mercado em 2025
Apesar do crescimento econômico robusto em 2024, o mercado financeiro adota uma postura cautelosa para os próximos anos. A desaceleração projetada para 2025, com o PIB estimado em 1,9%, reflete uma combinação de fatores, inclusive a necessidade de ajustes fiscais e os desafios globais, como a política monetária dos Estados Unidos e a guerra na Ucrânia.
Ainda assim, as projeções de médio e longo prazo indicam um otimismo moderado, com a economia brasileira mantendo um ritmo de crescimento estável nos próximos anos. A continuidade de reformas estruturais e a manutenção de políticas fiscais e monetárias responsáveis serão essenciais para sustentar esse cenário.
Em resumo, o Brasil caminha para encerrar 2024 com um crescimento sólido de 3%, superando expectativas e mostrando resiliência em um contexto global desafiador. No entanto, a inflação e a política de juros elevados continuarão sendo elementos centrais na equação econômica do país, exigindo um delicado equilíbrio entre o crescimento e o controle de preços.