Preço dos alimentos deve subir com estiagem e queimadas, apontam economistas

O clima seco e as queimadas que atingem diversas regiões do Brasil estão gerando preocupações quanto à oferta de alimentos e à inflação. De acordo com economistas consultados, esses fatores climáticos podem provocar uma alta nos preços de itens como carne bovina, cana-de-açúcar e algumas frutas. Além disso, reverte o cenário de deflação dos últimos meses e traz novas pressões ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Nos últimos dois anos, o IPCA de setembro registrou deflação na alimentação doméstica, com quedas de 1,02% em 2023 e de 0,86% em 2022. Contudo, o panorama para 2024 promete ser diferente, com economistas projetando um aumento de 0,17% para a alimentação no domicílio no mês de setembro, de acordo com estimativas da LCA Consultores. Embora modesta, essa alta contrasta com o recuo esperado de 1,10% para agosto e marca uma mudança importante no cenário inflacionário.

Elevação dos preços pode ocorrer por falta de chuvas e queimadas

Entre os principais fatores que contribuem para a elevação dos preços está a falta de chuvas que prejudica a produção agrícola. O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, aponta que a estiagem afeta especialmente a produção de frutas, derivados do leite, café e feijão. Além disso, as queimadas que atingem algumas regiões produtoras do Brasil, como o estado de São Paulo, estão prejudicando a safra de cana-de-açúcar, o que pode impactar os preços do açúcar e do etanol.

A economista Andréa Ângelo, da Warren Investimentos, reforça que a seca tem um efeito significativo sobre a produção de carne bovina, um dos principais itens da cesta de consumo dos brasileiros. “No primeiro semestre deste ano, houve um ‘super abate’ de bovinos, mas, com as pastagens prejudicadas pela estiagem, os animais demoram mais para engordar, o que reduz a oferta de gado para o abate”, explica Ângelo.

Essa menor oferta de animais no mercado tende a elevar os preços da carne bovina nos próximos meses. Segundo Ângelo, o impacto poderá ser sentido já em setembro, com uma possível alta nos preços, uma vez que a seca afeta diretamente a produção. Isso deve pressionar ainda mais o IPCA que já enfrenta dificuldades para se manter dentro da meta estabelecida para 2024.

Impactos no IPCA e nas projeções para 2024

Com a pressão adicional do clima sobre a produção agrícola, a LCA Consultores revisou suas projeções para a inflação de alimentos. Fabio Romão afirma que a alimentação no domicílio deve encerrar 2024 com uma alta acumulada de 5,6%, uma revisão significativa em relação à previsão inicial de 4,5%. A elevação dos preços dos alimentos também impactou a estimativa da LCA para o IPCA geral, que foi ajustada para 4,4% em 2024, se aproximando do teto da meta.

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A Warren Investimentos, por sua vez, prevê que a alimentação no domicílio terá uma alta de 5,94% até o final do ano, reforçando a perspectiva de pressão inflacionária contínua no setor de alimentos. O economista João Fernandes, da Quantitas, estima que o IPCA de setembro deve registrar uma alta de 0,44% na alimentação doméstica, após quedas consecutivas em julho e agosto.

Apesar das pressões de alta, Fernandes também chama a atenção para um possível fator que pode aliviar o impacto inflacionário: a produção de etanol. Com o aumento da moagem da cana-de-açúcar em meio à seca, a oferta de etanol pode aumentar, resultando em uma redução nos preços desse combustível. No entanto, o economista alerta para o risco de novas altas no preço do etanol no início de 2025, uma vez que a safra da cana-de-açúcar será afetada pelo clima adverso ao longo do ano.

Perspectivas para 2025

Além dos impactos imediatos sobre o IPCA em 2024, os economistas avaliam que os efeitos da estiagem e das queimadas sobre a inflação podem se estender para o próximo ano. A produção de carne bovina e de cana-de-açúcar, por exemplo, pode continuar sendo impactada nos primeiros meses de 2025, prolongando o ciclo de alta nos preços desses produtos.

João Fernandes destaca que o ciclo de abate de fêmeas e os efeitos climáticos são variáveis difíceis de isolar, mas ambos exercem pressão sobre os preços da carne bovina. Ele também sugere que o impacto das queimadas sobre o preço do boi gordo, que já subiu cerca de 6% desde o início de agosto, será um risco a ser monitorado nos próximos meses.

Por outro lado, o aumento da moagem da cana-de-açúcar e a consequente maior oferta de etanol podem servir como um fator baixista para a inflação, mas os especialistas apontam que a dinâmica climática continuará desempenhando um papel crucial na determinação dos preços dos alimentos e de outros itens importantes da cesta de consumo.

O cenário de seca e queimadas no Brasil aponta para um período de pressão inflacionária sobre os alimentos, o que já começa a se refletir nas projeções para o IPCA de setembro. Com a oferta de carne bovina, frutas e derivados do leite afetada pelo clima adverso, os consumidores brasileiros devem se preparar para uma alta nos preços desses itens nos próximos meses. Ao mesmo tempo, os economistas mantêm um olhar atento sobre os impactos prolongados da seca e das queimadas que podem se estender para 2025 e continuar influenciando a inflação.

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