Dólar manterá hegemonia nos próximos 10 anos, diz especialista

Nos últimos anos, o debate sobre a desdolarização tem ganhado destaque, especialmente entre os países emergentes. Com a crescente influência de blocos como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), muitos especulam sobre a possibilidade de o dólar ser substituído por outras moedas no comércio internacional.

No entanto, segundo o professor de economia chinesa do Insper, Roberto Dumas, tal cenário é improvável nos próximos dez anos.

O papel central do dólar

Dólar
Especialista aponta que o dólar continuará dominando as transações globais nos próximos 10 anos, devido a fatores políticos e econômicos de países como a China | Foto: Reprodução/Unsplash

Dumas destacou que o dólar não apenas permanece como a moeda mais utilizada no comércio internacional, mas que qualquer tentativa de substituí-lo enfrenta obstáculos estruturais. A discussão sobre a desdolarização, especialmente nos BRICS, gira em torno da busca por uma alternativa que diminua a dependência do dólar e aumente o poder financeiro desses países. No entanto, o professor afirma que nenhuma moeda, nem mesmo a chinesa, tem condições de tomar o lugar do dólar no curto prazo.

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“Qual a probabilidade de o governo chinês permitir que os bancos chineses não sejam mais utilizados como braços parafiscais para legitimar o Partido Comunista Chinês?”, questionou Dumas, destacando o papel político e econômico das instituições financeiras chinesas.

Segundo ele, enquanto o governo chinês mantiver políticas de controle sobre seu mercado financeiro e sua moeda, será difícil competir com o dólar que opera em um sistema amplamente liberalizado.

Os desafios enfrentados pela China

Para que o yuan chinês pudesse se consolidar como uma moeda de peso no cenário internacional a China teria que fazer profundas reformas em sua estrutura econômica. Uma das maiores barreiras, segundo Dumas, é a manipulação do câmbio e a falta de liberalização do mercado financeiro. O especialista mencionou a necessidade de a China permitir a flutuação livre de sua moeda e das taxas de juros. Sem essas mudanças, o crescimento econômico do país ficaria comprometido, o que poderia gerar instabilidade política.

“Se eu deixar o câmbio livre e não subsidiar a taxa de juros, talvez eu não tenha um crescimento econômico que legitime o governo da China”, disse Dumas, apontando o dilema das autoridades chinesas.

A estabilidade política do país depende, em grande parte, do crescimento econômico, o que força o governo a manter rígido controle sobre a economia, impedindo, assim, uma transição para um sistema mais aberto e competitivo.

Além disso, o professor ressaltou que o governo chinês enfrenta o desafio de manter um equilíbrio entre o controle econômico e o desejo de expandir sua influência global. A liberalização do yuan poderia trazer mais volatilidade e riscos, o que vai contra os interesses do Partido Comunista Chinês de manter um controle centralizado.

Outras moedas também enfrentam dificuldades

O euro, que surgiu como uma tentativa de criar uma moeda forte o suficiente para competir com o dólar, também tem mostrado limitações. Dumas explicou que, embora o euro seja uma moeda amplamente utilizada, ele sofre com a falta de um federalismo fiscal completo na União Europeia, o que impede que a moeda tenha uma base política e econômica tão sólida quanto o dólar.

“Nem o euro, que ainda sofre de uma deficiência que é o federalismo fiscal, conseguiu substituir o dólar. O que virá de uma moeda manipulada, com uma conta capital fechada, uma taxa de juros subsidiada e ainda com ditadura?”, questionou o especialista, referindo-se às limitações que a China enfrenta com o yuan.

Embora a zona do euro tenha avançado em termos de integração econômica e monetária, ela ainda enfrenta desafios políticos, como a falta de uma política fiscal unificada entre os países membros. Isso reduz a eficácia do euro como uma alternativa viável ao dólar em transações globais, mantendo a moeda americana em uma posição de domínio.

O futuro da hegemonia do dólar

De acordo com Roberto Dumas, a continuidade da hegemonia do dólar se deve tanto a fatores econômicos quanto políticos. Enquanto a China e outras nações emergentes, como os membros dos BRICS, buscarem alternativas, suas próprias estruturas econômicas e políticas limitam o sucesso dessas tentativas. A rigidez no controle de moedas como o yuan e a falta de uma união fiscal no caso do euro são barreiras significativas que impedem que qualquer uma dessas moedas desbanque o dólar.

Além disso, o dólar ainda é amplamente considerado uma moeda de confiança, especialmente em tempos de crises econômicas globais. Sua utilização em transações internacionais é resultado de uma rede consolidada de instituições financeiras e políticas que proporcionam estabilidade, algo que outras moedas, por enquanto, não conseguem oferecer.

Com base nessa análise, Dumas conclui que, nos próximos 10 anos, o dólar continuará a ser a principal moeda nas transações internacionais. Isso porque os países que poderiam desafiá-lo, como a China, não estão dispostos ou não conseguem realizar as reformas necessárias para que suas moedas ganhem relevância no cenário global.

Portanto, apesar das discussões em torno da desdolarização, o dólar seguirá como a moeda dominante. Sua posição de destaque está enraizada em políticas e estruturas que, até o momento, não encontram equivalentes em outras economias.

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