O Brasil foi classificado como o país que mais paga juros de dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com um relatório anual do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB). Com uma dívida bruta equivalente a 84,67% do PIB e juros básicos de 11,25% ao ano, o país destina 5,97% de sua riqueza anual para o pagamento de encargos com juros. Esse percentual é o mais alto do mundo, superando o México (5,83%) e a Índia (5,27%).
O estudo, baseado em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), do JPMorgan e do Banco de Compensações Internacionais (BIS), destacou preocupações globais com os níveis elevados de dívida pública e privada, especialmente em países emergentes e de baixa renda.
Por que o Brasil paga tanto?
O relatório aponta que os altos encargos com juros no Brasil estão relacionados à combinação de dois fatores principais: políticas fiscais expansionistas e a expectativa de crescimento contínuo da dívida pública.
Após a pandemia, o país enfrentou um aumento significativo na dívida pública devido à necessidade de medidas emergenciais e à desaceleração econômica. O resultado foi um salto na relação dívida/PIB, acompanhada de uma elevação na taxa básica de juros para controlar a inflação, o que encareceu o custo de financiamento.
Além disso, o cenário de juros elevados é agravado pela percepção de risco por parte dos investidores, que demandam retornos maiores para compensar possíveis instabilidades financeiras. Essa situação afeta diretamente o custo de novas dívidas, criando um ciclo de difícil superação.
Impacto no bolso dos brasileiros
Os efeitos do alto custo da dívida pública vão além das contas do governo. Empresas e famílias também sofrem com o impacto dos juros elevados:
- Crédito mais caro: com taxas de juros altas, empréstimos e financiamentos ficam menos acessíveis, prejudicando investimentos empresariais e o consumo das famílias.
- Inflação persistente: os juros elevados pretendem conter a inflação, mas, ao mesmo tempo limitam o crescimento econômico, dificultando a geração de empregos e renda.
- Serviços públicos comprometidos: a destinação de uma parcela significativa do PIB ao pagamento de juros reduz a capacidade de investimento em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
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Como o Brasil se compara a outros países?
Embora o Brasil lidere em termos de encargos com juros, outros países enfrentam desafios relacionados à dívida. No Japão, por exemplo, a dívida pública é equivalente a 252,36% do PIB, a maior do mundo. No entanto, o país paga juros menores graças à política de taxas quase zero. Por outro lado, na Argentina, a dívida de 154,54% do PIB é acompanhada de uma inflação galopante, tornando o cenário econômico extremamente instável.
Já economias desenvolvidas como Estados Unidos (122,15% do PIB) e França (110,64%) possuem altas dívidas, mas conseguem gerenciar melhor seus encargos devido a mercados financeiros mais confiáveis e juros historicamente baixos.
O que pode ser feito?
De acordo com especialistas, a solução para o Brasil passa por um conjunto de ações que envolvem ajustes fiscais e estímulos ao crescimento econômico.
- Controle de gastos públicos: é necessário equilibrar as contas do governo, evitando políticas que ampliem o endividamento sem contrapartidas claras.
- Reformas estruturais: modernizar o sistema tributário e melhorar a eficiência da máquina pública são medidas essenciais para atrair investimentos e aumentar a competitividade do país.
- Estímulo ao crescimento: políticas que incentivem a produtividade e a inovação podem ajudar a expandir o PIB, reduzindo a relação dívida/PIB e o peso dos juros sobre a economia.
O alerta global
O FSB destaca que o problema enfrentado pelo Brasil não é exclusivo. Segundo o relatório, o crescimento global modesto, combinado com níveis históricos de endividamento, torna muitos países vulneráveis a choques econômicos.
Para Klaas Knot, presidente do FSB, “o mundo não pode permitir a instabilidade financeira”. Ele também ressalta que a continuidade do cenário atual tende a aumentar o prêmio de risco em países emergentes, agravando ainda mais o problema.
O Brasil enfrenta um desafio crítico em relação ao custo de sua dívida. Embora o cenário pareça desafiador, existem caminhos para reverter a situação, incluindo a adoção de reformas e a promoção do crescimento sustentável. É um tema que afeta não apenas os economistas, mas todos os brasileiros, que sentem os efeitos no dia a dia.