O dólar fechou o dia em alta nesta quarta-feira, cotado a R$ 5,79, mesmo após intervenção do Banco Central, que injetou US$ 4 bilhões no mercado com leilões no início da tarde. O movimento de alta da moeda norte-americana foi impulsionado tanto por fatores externos, principalmente o chamado “Trump Trade”, quanto por questões fiscais internas. As declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no final do dia ajudaram a conter um pouco a elevação.
Alta global do dólar e o “Trump Trade”
No cenário internacional, o dólar vem ganhando força em relação a diversas moedas, impulsionado pelo fenômeno apelidado de Trump Trade. Esse termo refere-se ao impacto das políticas econômicas e comerciais da presidência de Donald Trump (Partido Republicano) nos Estados Unidos, que busca fortalecer a economia americana, aumentar tarifas e implementar medidas protecionistas. Essas políticas geram expectativas de elevação nas taxas de juros e inflação nos EUA, fatores que, em geral, elevam o valor do dólar.
Após a recente vitória de Trump nas eleições, os mercados estão reagindo com a perspectiva de que sua administração pode introduzir novas tarifas de importação e políticas que favoreçam o fortalecimento do dólar. Essas movimentações pressionam moedas de países emergentes, como o real brasileiro, levando investidores a buscar segurança na moeda americana.
Intervenção do Banco Central e problemas operacionais
Na tentativa de conter a valorização do dólar, o Banco Central do Brasil anunciou dois leilões de linha, operação que envolve a venda de dólares com compromisso de recompra futura. Esse tipo de intervenção é comumente realizado nos últimos meses do ano, quando há maior demanda de empresas e fundos para envio de lucros e dividendos ao exterior. A expectativa era que essa ação ajudasse a acalmar o mercado e reduzir o preço da moeda americana.
Entretanto, devido a problemas operacionais, os leilões previstos para a manhã foram adiados, gerando um clima de incerteza. Esse atraso fez com que investidores voltassem a comprar dólares, elevando a cotação da moeda.
Posteriormente, o Banco Central conseguiu realizar as operações, vendendo o total de US$ 4 bilhões, sendo metade com recompra prevista para abril de 2025 e a outra metade para julho de 2025. A medida, embora tenha ajudado a evitar uma alta ainda maior, não foi suficiente para levar o dólar a fechar em baixa.
Alta do dólar reflete também incertezas fiscais no Brasil
Além do cenário externo, a alta do dólar nesta quarta-feira também está relacionada a incertezas internas, principalmente no que diz respeito ao plano fiscal do governo brasileiro. A demora do governo em apresentar um pacote fiscal sólido tem gerado preocupações no mercado, que observa atentamente os sinais de como o Brasil pretende equilibrar suas contas públicas e controlar o crescimento da dívida.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou tranquilizar o mercado ao comentar o impacto fiscal do novo pacote, o qual ele descreveu como “expressivo”. Haddad reforçou o compromisso do governo com as regras fiscais definidas no ano passado e destacou que o plano visa enquadrar as despesas dentro do arcabouço fiscal vigente. Suas declarações ajudaram a aliviar as cotações, trazendo o dólar para um patamar ligeiramente abaixo de R$ 5,80 ao final do dia.
Dados econômicos dos EUA e influência no mercado brasileiro
Outro fator importante foi o índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos, que registrou alta de 0,2% em outubro em relação ao mês anterior. Esse dado veio em linha com o esperado e reforça a percepção de estabilidade da inflação americana.
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No entanto, como a economia dos EUA tem mostrado resiliência, investidores acreditam que o Federal Reserve (Fed) possa manter a taxa de juros elevada por um período mais longo. Isso aumenta o apelo do dólar e pressiona as moedas de mercados emergentes, incluindo o real.
Impactos no mercado e na economia brasileira
A alta do dólar para R$ 5,79 impacta diversos setores da economia brasileira, especialmente aqueles que dependem de importação de insumos ou que possuem dívidas em moeda estrangeira. Empresas que importam matérias-primas e produtos sofrem diretamente com o aumento do custo dos itens, o que pode ser repassado ao consumidor final, aumentando a inflação no Brasil.
Além disso, o câmbio elevado tende a impactar setores como turismo, tecnologia e indústria, que têm despesas dolarizadas. Para o governo, a situação fiscal se torna mais desafiadora, pois parte da dívida pública está atrelada ao câmbio. Isso significa que a valorização do dólar aumenta o montante que o país deve pagar, pressionando o orçamento.
Perspectivas para o câmbio e o impacto das políticas fiscais
Para analistas, a trajetória do câmbio no Brasil dependerá tanto dos desdobramentos das políticas econômicas nos EUA quanto da capacidade do governo brasileiro em implementar medidas fiscais que garantam estabilidade. O mercado segue atento às discussões sobre o novo arcabouço fiscal e o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas, já que isso pode influenciar na percepção de risco dos investidores em relação ao Brasil.
Outro aspecto que merece atenção é o desempenho das commodities no cenário internacional. A alta do dólar pode ser parcialmente compensada por um aumento nas exportações de produtos brasileiros, como soja, minério de ferro e petróleo, cotados na moeda americana. No entanto, a balança comercial nem sempre é suficiente para contrabalançar a pressão do câmbio no mercado interno.
A alta do dólar nesta quarta-feira reflete uma combinação de fatores externos e internos. O fortalecimento do “Trump Trade” nos EUA, aliado às incertezas fiscais no Brasil, levou a moeda americana a registrar novo patamar de alta, mesmo após intervenção do Banco Central. As declarações de Haddad ajudaram a aliviar um pouco o câmbio, mas o mercado aguarda mais detalhes sobre as medidas fiscais do governo.
Para o consumidor e para as empresas, a alta do dólar significa um aumento nos custos de produtos e insumos importados, com potencial impacto na inflação. O governo segue sob pressão para apresentar um plano fiscal robusto que traga confiança ao mercado e contribua para estabilizar o câmbio. Até lá, a volatilidade do dólar deve continuar afetando a economia e as decisões dos investidores.