Inflação impulsionada por energia e alimentos desafia metas do Banco Central e eleva dólar; Selic sobe para conter pressões
A inflação oficial no Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 0,56% em outubro, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (8). O resultado superou as expectativas de analistas, que projetavam uma alta de 0,53% para o mês, de acordo com pesquisa da Reuters. Essa elevação reforça as preocupações sobre a persistência da inflação no país, principalmente em um cenário de pressões adicionais provenientes de custos energéticos e alimentares.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA chegou a 4,76%, registrando um avanço em relação aos 4,42% do mês anterior. Esse patamar coloca o índice acima da meta de inflação anual, estabelecida em 3% com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, o que significa um teto de 4,5%. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, o IPCA se mostra mais elevado, pois em outubro de 2022 esse índice havia registrado 4,82%, tornando-se o maior valor anual desde então.
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Expectativas e ações do Banco Central
A recente pesquisa Focus do Banco Central (BC), divulgada na segunda-feira, indicou uma expectativa de aumento no IPCA, estimando uma inflação de 4,59% até o final de 2024. Esse cenário inflacionário contínuo levou o Banco Central a intensificar o aperto monetário na última quarta-feira. O BC elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, agora fixada em 11,25% ao ano. Contudo, o Banco Central ainda não sinalizou qual será a direção de sua política na próxima reunião de dezembro, deixando o mercado em alerta sobre possíveis novos ajustes.
Com as expectativas de inflação “desancoradas” — ou seja, fora dos limites esperados para o período —, o Banco Central revisou suas projeções anteriores. Em setembro, a expectativa de inflação era de 4,3% para o próximo ano, mas essa estimativa foi aumentada para 4,6%. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, manifestou sua preocupação com a persistência das pressões inflacionárias e com a dificuldade de ancorar as expectativas no curto e médio prazo. Ele destacou que essa situação exigirá atenção constante na condução da política monetária.
Energia e alimentos impulsionam o IPCA
Conforme informado pelo IBGE, os setores de Habitação e de Alimentação e Bebidas exerceram os maiores impactos sobre o índice de outubro, com variações de 1,49% e 1,06%, respectivamente. A energia elétrica residencial foi o item com o maior peso dentro do grupo Habitação, registrando um aumento de 4,74% no mês. Esse incremento se deveu à ativação da bandeira tarifária vermelha no nível 2, que representa a taxa mais alta de cobrança adicional e é ativada em períodos de baixa nos reservatórios das hidrelétricas, como ocorreu devido ao período seco.
Para novembro, no entanto, espera-se um alívio nas contas de energia elétrica, uma vez que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a mudança para a bandeira tarifária amarela, refletindo uma melhora nas condições de geração de energia no país. Essa mudança deverá amenizar um pouco as pressões sobre o IPCA, embora a trajetória de custos ainda dependa do comportamento climático e dos níveis de armazenamento dos reservatórios.
O setor de alimentação no domicílio também apresentou alta significativa em outubro, com variação de 1,22%. Os preços das carnes foram os principais responsáveis por esse aumento, com uma elevação média de 5,81% em diferentes cortes, como acém (9,09%), costela (7,40%), contrafilé (6,07%) e alcatra (5,79%). Este aumento representou a maior alta mensal para as carnes desde novembro de 2020, quando os preços subiram 6,54%. O IBGE atribuiu essa alta ao clima seco, à redução no número de abates e ao aumento nas exportações de carne, fatores que reduziram a oferta no mercado doméstico.
Setores de transporte e serviços
Por outro lado, o único setor que apresentou uma queda de preços foi o de Transportes, com uma redução de 0,38%, influenciada pela queda de 11,50% nos preços das passagens aéreas. Este recuo ajudou a conter parcialmente a inflação de outubro, embora outros itens do setor tenham mantido estabilidade ou registrado aumentos modestos.
A inflação no setor de serviços, que é um componente sensível devido ao impacto na renda, também pressionou o índice geral. Em outubro, os preços dos serviços subiram 0,35%, acima dos 0,15% registrados em setembro, acumulando 4,57% nos últimos 12 meses. Esse comportamento dos serviços reflete a continuidade da demanda interna e representa um desafio para o controle da inflação, uma vez que o setor é pouco afetado pela política de juros no curto prazo.
Impactos na taxa de câmbio
Os dados de inflação acima do esperado no Brasil refletiram-se no mercado de câmbio. Na manhã desta sexta-feira (8), o dólar apresentava uma alta acentuada em relação ao real. Às 9h06, o dólar à vista subia 1,04%, sendo cotado a R$ 5,7347 na venda, enquanto na B3 o contrato de dólar futuro para o vencimento mais próximo avançava 0,65%, negociado a R$ 5,747.
Na quinta-feira, o dólar havia fechado em leve alta de 0,03%, a R$ 5,6759. Para conter a volatilidade cambial, o Banco Central realizará nesta sessão um leilão de até 14.000 contratos de swap cambial tradicional, com o objetivo de rolar vencimentos de 2 de dezembro de 2024. Essa ação busca dar estabilidade ao mercado e mitigar os efeitos da inflação sobre a moeda.