Nos últimos anos, a Argentina se destacou como um destino turístico acessível para brasileiros, especialmente em Buenos Aires, onde a moeda desvalorizada permitia uma experiência luxuosa a preços reduzidos.
Contudo, esse cenário mudou drasticamente em 2024, quando as alterações econômicas no país vizinho tornaram o turismo mais caro, impactando diretamente a experiência dos visitantes.
Aumento dos custos em viagens
Os brasileiros, que antes aproveitavam “dias de rico” na Argentina, agora precisam se adaptar a um contexto de preços mais altos. O pedagogo Bruno Pontes e a enfermeira Sabrina Rosário, por exemplo, foram surpreendidos ao planejar um show de tango em Buenos Aires. Enquanto em 2023 o ingresso custaria menos de R$ 300, hoje a mesma experiência pode chegar a R$ 700 por pessoa.
Além das atrações, os custos com alimentação e transporte também subiram. Sabrina comentou sobre os valores elevados de refeições, mesmo em locais simples. “Tem que ser esperto e pedir pratos que sirvam dois, ou optar por petiscos e uma cerveja, que saem mais baratos”, relatou. Um almoço em um restaurante famoso, como o London City, pode custar até R$ 246 para duas pessoas.
Mudanças econômicas e impacto no turismo
O economista argentino Camilo Tiscornia explica que a alta de preços se deve a fatores como a desvalorização do real e ajustes no câmbio argentino. Em 2023, a diferença entre o dólar oficial e o dólar paralelo tornava a Argentina extremamente barata para estrangeiros, mas a política do governo atual reduziu essa brecha. Hoje, o dólar oficial está em torno de 1.000 pesos, enquanto o paralelo é cotado a 1.200 pesos.
Essa valorização relativa do peso, combinada com uma inflação em dólares, tornou a Argentina menos acessível para os turistas brasileiros. Segundo dados oficiais, o número de visitantes brasileiros caiu 6,8% de 2023 para 2024, enquanto a duração média de estadia despencou 25,5%.
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Turismo mais seletivo e estratégico
Com os preços elevados, muitos turistas estão sendo mais seletivos em suas escolhas. José Veras, dono de uma agência de turismo em Buenos Aires, relatou que os brasileiros têm optado por jantares em vez de shows de tango, considerados caros. Além disso, atividades como visitas a vinícolas, que custavam US$ 50, agora chegam a US$ 73.
Para os empresários locais, o cenário também é desafiador. Mariel Ramos, sócia de Veras, destacou que os aumentos de custos afetam a precificação de pacotes turísticos. “É preciso ter cuidado para evitar prejuízos, já que muitos valores mudam antes do pagamento final”, disse.
Reflexos para o futuro
Apesar do impacto imediato, especialistas apontam que o encarecimento é um ajuste natural após anos de preços extremamente baixos na Argentina. A inflação em pesos caiu para cerca de 2,5% ao mês, enquanto a desvalorização cambial controlada mantém os preços em dólares relativamente estáveis. Ainda assim, a desvalorização do real — de 27% em 2024 — agrava a percepção de custo para os brasileiros.
Com os ajustes, há um movimento inverso de turismo, com mais argentinos visitando o Brasil, especialmente destinos como Florianópolis e Balneário Camboriú. Esses locais se beneficiam da valorização do peso argentino, tornando o Brasil mais acessível para os vizinhos.
Os brasileiros que planejam visitar a Argentina precisam repensar seus orçamentos e priorizar atividades que se encaixem no novo contexto econômico. Enquanto o país vizinho continua sendo um destino encantador, os “dias de rico” ficaram no passado. Planejamento e pesquisa se tornaram essenciais para aproveitar o melhor da experiência sem comprometer as finanças.