60% dos brasileiros de baixa renda não têm cartão de crédito

Uma pesquisa divulgada neste domingo, 16 de fevereiro, pela Quaest revela que apenas 40% dos brasileiros de baixa renda possuem cartão de crédito, uma modalidade que é mais comum entre a classe média (58%) e a classe alta (73%).

O estudo também destaca que, entre os 68% dos brasileiros de baixa renda com conta bancária, 65% já utilizam a chave Pix, o que evidencia a importância dessa ferramenta de pagamento instantâneo na digitalização das transações bancárias, especialmente entre uma população que antes dependia do dinheiro em espécie.

Brasileiros de baixa renda e acesso ao cartão de crédito.
Pix surge como uma alternativa democrática para a realização de compras e pagamentos  |Foto: Reprodução/Freepik

Esse avanço é considerado crucial para a inclusão financeira dos mais pobres no processo de digitalização global. No entanto, a pesquisa aponta limitações na bancarização (processo de inclusão de pessoas no sistema financeiro formal, permitindo o acesso a serviços bancários como contas, cartões e outros produtos financeiros) dessa população, uma vez que muitos ainda não têm acesso a outros serviços financeiros, como o cartão de crédito.

Endividamento dos brasileiros

A questão do endividamento é uma preocupação crescente, especialmente entre os brasileiros de baixa renda, que apresentam uma taxa de endividamento de 25%, apesar de não serem os que mais utilizam o cartão de crédito. A classe alta, por outro lado, é a que menos enfrenta dívidas, com 27% da população sem comprometimentos financeiros, segundo os dados.

A pesquisa surge em um contexto em que o governo atual está preparando o lançamento de um programa de crédito consignado voltado para trabalhadores do setor privado. O objetivo é facilitar o acesso ao crédito consignado, oferecendo juros mais baixos, por meio do eSocial.

Na semana passada, em uma entrevista no Palácio do Planalto, em Brasília, o presidente Lula afirmou que esse será o maior programa de crédito da história do Brasil. Ele destacou: “Eu acho que pouco dinheiro nas mãos de muitos significa distribuição de renda e muito dinheiro nas mãos de poucos significa miséria”.

Comércio indica que o número de endividados caiu

O percentual de famílias divididas no Brasil caiu para 76,1% em janeiro de 2025, o que representa uma queda de 0,6 ponto percentual em relação a dezembro e de 2 pontos em comparação com o mesmo mês de 2024, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Apesar da redução, 20,8% dos brasileiros destinaram mais da metade da renda para quitar dívidas, o maior índice desde maio de 2024. A média de comprometimento da renda para pagamentos foi de 30%, um aumento de 0,2 ponto percentual.

José Roberto Tadros, presidente da CNC, ressaltou em nota que, embora o número de individualizados tenha diminuído, a percepção de endividamento aumentou, com 15,9% dos brasileiros se considerando “muito individualizados”. Ele também relatou que a melhora na inadimplência sugere um esforço das famílias para equilibrar as finanças, mas o aumento do comprometimento com as dívidas pode ser um sinal de alerta para 2025.

A pesquisa também apontou que 29,1% das famílias estavam com dívidas em atraso em janeiro, uma ligeira queda em relação a dezembro (29,3%). O número de famílias sem condições de pagar suas dívidas caiu de 13% para 12,7%, embora ainda seja superior ao registrado em janeiro de 2024 (12%).

Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, explicou, em nota, que as dívidas estão consumindo mais da renda das famílias, especialmente devido aos juros altos e prazos curtos, o que pode manter a inadimplência elevada nos próximos meses.

O levantamento também mostrou que o endividamento caiu entre as famílias de maior renda, com uma redução de 0,8 ponto percentual entre as com renda superior a dez anos de atraso mínimo (65,3%) e de 1 ponto percentual entre as de até três níveis mínimos (79,5%). Porém, as famílias mais vulneráveis ​​viram um aumento no endividamento em relação a janeiro de 2024.

O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de crédito, usada por 83,9% dos devedores, embora tenha apresentado uma queda de 2,9 pontos em relação ao ano passado. Em contrapartida, o crédito pessoal e os carnês registaram crescimento.

A CNC prevê que, apesar da melhoria recente, o endividamento poderá crescer novamente em 2025, com a expectativa de que 77,5% das famílias sejam individualizadas até o fim do ano e 29,8% inadimplentes. Tavares alertou que, com juros elevados, a gestão financeira será ainda mais exigente para os consumidores.

Inadimplência recua em dezembro, aponta Serasa

Após três meses seguidos de aumento, a inadimplência no Brasil teve uma queda em dezembro de 2024. De acordo com dados divulgados pela Serasa nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, o número de consumidores negativados caiu 276 mil, passando de 73,7 milhões em novembro para 73,5 milhões em dezembro.

O Mapa da Inadimplência mostrou que o valor total das dívidas também teve uma redução de R$ 6 bilhões, alcançando R$ 404 bilhões. Além disso, o valor médio das pendências diminuiu 1,89%, caindo para R$ 1.465,73.

Aline Maciel, gerente da Serasa, destacou em nota que, embora o número total de inadimplentes ainda seja de 73,5 milhões, a queda no fim do ano indica uma disposição dos consumidores em regularizar suas dívidas.

O cenário foi positivo em 19 dos 27 estados, com Pernambuco (-5%) e Rondônia (-4,3%) registrando as maiores quedas. No entanto, oito estados apresentaram aumento no número de inadimplentes, com Tocantins (+1,3%) e São Paulo (+0,8%) liderando as altas.

Leia também: World App: brasileiros enfrentam problemas para resgatar valores

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você