O real encerrou o mês de janeiro de 2025 como a segunda moeda que mais valorizou no mundo frente ao dólar, registrando uma queda acumulada de 5,6% na cotação da moeda norte-americana.
A divisa fechou o dia cotada em R$ 5,8355, uma recuperação significativa após iniciar o ano na casa dos R$ 6,18. O real ficou atrás apenas do rublo russo, que teve uma valorização de 6,8% no mesmo período.
Essa tendência reflete, principalmente, a mudança na retórica política de Donald Trump, que suavizou seu discurso sobre tarifas de importação e tensões comerciais, bem como a expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos. No Brasil, a taxa Selic elevada também atraiu investidores estrangeiros em busca de maiores rendimentos, favorecendo a entrada de capital e impulsionando a moeda brasileira.
Fatores que impulsionaram a valorização do real
A forte recuperação da moeda brasileira se dá em um contexto de volatilidade do mercado cambial. Em 2024, o real havia sido uma das moedas que mais perderam valor globalmente, com uma desvalorização de 27% frente ao dólar. A maior parte desse movimento ocorreu em dezembro, após o governo brasileiro anunciar um pacote fiscal que gerou desconfiança entre os investidores.
A reversão dessa tendência em janeiro está diretamente ligada a mudanças na política monetária internacional.
Durante sua campanha para retornar à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump havia sinalizado uma postura protecionista, prometendo a adoção de tarifas de importação que poderiam pressionar a inflação e elevar os juros no país.
No entanto, ao adiar tais medidas e apresentar um tom mais conciliador com a China, o mercado financeiro reagiu positivamente, reduzindo a pressão sobre moedas emergentes como o real.
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Juros altos no Brasil atraem investidores
Outro fator determinante para a valorização do real é a diferença entre as taxas de juros do Brasil e de outros países desenvolvidos. O Banco Central brasileiro tem mantido a Selic em patamares elevados, com previsão de chegar a 14,25% em março.
Esse cenário favorece o chamado “carry trade”, estratégia em que investidores internacionais tomam empréstimos em países de juros baixos para aplicar em mercados onde a taxa é maior, como o Brasil.
Em entrevista para a CNN, Emerson Junior, head de câmbio da Convexa, explicou que a mudança na política monetária dos EUA foi um dos principais impulsionadores desse movimento. “Do final do ano passado até a posse, Trump amenizou o discurso, que até agora não se caracterizou agressivo como prometia. Com isso, voltou para a mesa a possibilidade de cortes de juros nos Estados Unidos e volta a ser interessante colocar dinheiro em um país com taxa de juros muito alta”, explica.
Para Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, o movimento reflete a entrada de capital estrangeiro em busca de retornos mais atrativos. “A decisão do Federal Reserve de manter os juros nos EUA e a expectativa de cortes na Europa também reforçam essa tendência. O Brasil, com a Selic elevada, se torna um destino atrativo para esses recursos”, pontua a CNN.
Cenário ainda é incerto
Apesar da valorização do real, analistas alertam que o cenário global ainda apresenta incertezas que podem reverter essa tendência. “O jogo ainda está aberto: o cenário global segue incerto, e qualquer nova tensão entre EUA e Brics pode virar essa maré rapidamente. No Brasil, o mercado deve reagir aos desdobramentos fiscais e à política monetária, com a Selic ainda no centro das atenções”, ressalta Iarussi.
O comportamento do governo brasileiro na condução da política fiscal também será determinante para a estabilidade do real. A adoção de medidas que ampliem o endividamento pode reacender preocupações no mercado, levando a uma nova onda de desvalorização cambial.
Para os próximos meses, a atenção dos investidores estará voltada tanto para os desdobramentos da política americana quanto para as decisões do Banco Central brasileiro sobre a taxa de juros. Se a Selic continuar alta e os juros internacionais caírem, o real pode manter sua tendência de valorização. No entanto, qualquer instabilidade política ou fiscal pode trazer volatilidade ao mercado cambial.
A valorização do real em janeiro mostra como a política monetária global e a taxa de juros interna impactam o câmbio. Com um ambiente internacional mais favorável e a Selic elevada, o Brasil atrai investidores estrangeiros, fortalecendo sua moeda. No entanto, a incerteza persiste e exige atenção do mercado para os próximos meses.